O porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric, disse hoje que “infelizmente” o Reino Unido não é o primeiro país que opta por retirar “homens, mulheres e crianças do país enquanto os seus pedidos de asilo estão pendentes” e disse que a ONU acompanha de perto os casos ainda em andamento na Justiça para tentar travar este novo plano.
“Esperamos que ninguém siga este exemplo”, disse Dujarric, porta-voz do secretário-geral, durante a sua conferência de imprensa diária.
O responsável apoiou as críticas já expostas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, que na segunda-feira disse que a deportação de requerentes de asilo é “um erro” que pode ter “precedentes catastróficos”.
Apesar das críticas, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse hoje que o seu Governo não ficará “intimidado ou constrangido” e vai avançar com o plano, segundo o qual o primeiro voo para o Ruanda deve partir ainda esta terça-feira.
Na segunda-feira, o Tribunal de Recurso do Reino Unido descartou a interrupção dessas deportações de forma cautelar antes que seja realizado em julho um julgamento completo sobre a legalidade da medida.
Londres argumenta que o acordo com o Ruanda é necessário para desencorajar a chegada de pessoas em pequenas embarcações pelo Canal da Mancha.
No entanto, o responsável da ONU para os refugiados denunciou que se trata basicamente de “uma transferência de responsabilidades de um país com estruturas e recursos para outro, o Ruanda, que tradicionalmente tem sido hospitaleiro para os refugiados (…) mas não tem estruturas para esta tarefa em particular”.
“O Reino Unido argumenta que está a fazer isso para libertar muitas pessoas de travessias perigosas, mas essa é a maneira certa de fazê-lo e essa é a sua real motivação? Acho que não”, disse Grandi na segunda-feira, observando que “se eles realmente querem que essas jornadas perigosas terminem, existem outras maneiras de fazê-lo”.
Grandi ressaltou que muitos países da África, das Américas e de outras regiões que abrigam grandes populações de refugiados “poderiam ficar tentados a fazer o mesmo que o Reino Unido”, algo que, na sua opinião, “poderia dificultar muito o trabalho do ACNUR”.
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