As conclusões baseiam-se num estudo realizado em nove Estados-membros, representando dois terços da população e do PIB da UE, citado no relatório “Presidência de crise: Como a liderança portuguesa pode guiar a UE na era pós-covid", do ‘think tank’ independente Conselho Europeu para as Relações Externas (ECFR).
“Em todos os Estados-membros onde se realizou o inquérito, exceto Itália, Polónia e Bulgária, foram maioritários os que afirmaram que a sua opinião sobre os EUA piorou durante a crise do coronavírus. E, mesmo nesses três países, grandes minorias demonstraram ter a mesma opinião”, refere o relatório, a que a Lusa teve acesso.
Em Portugal, “73% afirmaram que as suas perceções sobre os EUA tinham piorado” e a maioria, mesmo entre os 21% que afirmaram não ter pior opinião dos EUA, “querem mais cooperação ao nível da UE”.
Esse desejo de maior cooperação europeia é mais elevado em Portugal, mas também forte em países como a Espanha, a Dinamarca, a Suécia ou a Alemanha.
O estudo “mostrou que os europeus desejavam fortemente que a UE moldasse a ordem internacional no pós-crise”, com 63% “convencidos de que a covid-19 mostrou a necessidade de maior cooperação interna na UE e 52% que o bloco deveria ter uma resposta mais coordenada às ameaças e aos desafios globais”.
Para muitos inquiridos, essa resposta passa nomeadamente por uma relocalização na Europa do fabrico de produtos médicos e por uma afirmação da UE na defesa dos interesses europeus, cujas instituições, consideram contudo, não têm estado à altura do desafio.
“Quarenta e sete por cento dos inquiridos acharam que a UE tinha sido irrelevante durante a crise do coronavírus” e “mostraram pouca confiança na capacidade ou na disposição de outros atores terem em consideração as suas necessidades”.
A presidência portuguesa da UE é “uma oportunidade de liderança global”, defendem as autoras do relatório.
Não apenas o empenho de Portugal no aprofundamento da cooperação europeia “é bem compreendido e apreciado pelos decisores políticos dos outros Estados-Membros”, como os eleitores portugueses “estão agora muito mais conscientes das tensões nas relações transatlânticas e, em parte também, dos limites das instituições da UE”.
“Poderá fazer sentido para o público nacional que a presidência portuguesa pressione a UE para que esta seja pragmática nas relações com as outras grandes potências, tendo em vista reconstruir um sistema internacional baseado em regras e ao mesmo tempo proteger os interesses globais da Europa”, concluem.
O relatório, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, foi realizado por Susi Dennison e Lívia Franco e vai ser divulgado a 27 de outubro.
O Conselho Europeu para as Relações Externas (European Council on Foreign Relations, ECFR) é um centro de reflexão política independente (‘think tank’), com escritórios em várias capitais europeias e investigadores em todos os 27 Estados-membros.
Portugal vai exercer a presidência do Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2021.
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