Localizado entre o Mercado de Peixe e a Praia dos Botes, em plena Avenida Marginal, o monumento centenário foi construído em 1920 pelos portugueses, para ser uma réplica da fortificação original, edificada entre 1514 e 1519, em Lisboa.

“É um espaço que, mesmo não tendo uma semelhança total com o edifício da Torre de Belém no Tejo, acaba por ter esta relação histórica, cultural porque foi construída à identidade deste edifício, mesmo não tendo vários elementos arquitetónicos do edifício original, mas acaba por ter essa relação histórica e simbólica com o espaço”, contextualizou à Lusa a diretora dos Museus de Cabo Verde, Samira Baessa.

Com características de arquitetura “manuelina” e com vários elementos simbólicos, nomeadamente a Cruz de Cristo, recordou que foi instalada no período áureo da cidade do Mindelo, quando começou a ganhar mais população, com a dinâmica criada à volta da exploração e instalação de indústrias carvoeiras, tendo-se assumido como um dos principais espaços deste comércio no atlântico médio.

Instalado inicialmente para funcionar como sede da capitania dos portos, mais tarde assumiu outras funções, tendo o porão servido para cárcere para os pequenos delitos relacionados com o mar e os anexos como moradia do capitão-mor, que depois receberam os arquivos da capitania.

Segundo Samira Baessa, na década de 1980 funcionou como a sede da empresa Scapa, que era uma empresa pública criada precisamente para apoiar a pesca artesanal, teve um período praticamente sem uso, até ser recuperado em 1997, no âmbito da cooperação entre Portugal e Cabo Verde.

Em 2010, no âmbito das comemorações dos 35 anos da independência de Cabo Verde, é inaugurada no edifício uma exposição que retrata a questão dos descobrimentos, e a partir de 2014 passa a albergar a exposição permanente do Museu do Mar.

“Precisamente para criar essa dinâmica do elemento mar, da presença deste edifício no contexto do mar, revitalizando toda a importância que este elemento teve no povoamento da cidade do Mindelo, mas também outras dinâmicas culturais e socioeconómicas que acaba por proporcionar para a economia da cidade e do próprio país”, salientou a diretora.

Defronte para o Porto Grande e para o Monte Cara, a réplica é considerada um símbolo, e pode ser vista de quase qualquer parte da cidade do Mindelo, dado a sua imponência à beira-mar, servindo igualmente como um “protetor da cidade”.

À sua volta, o movimento é constante, com a compra e venda de peixe, homens à volta de um banco a jogar cartas ou oril, outros simplesmente em amena conversa, a contemplar o requebrar das ondas ou a ver os carros cruzar a avenida, num dos principais pontos de encontro da cidade.

E do seu interior também se pode contemplar toda a cidade e a baía do Mindelo, bem como conhecer um pouco da história da cidade, com a emigração, pesca da baleia, e como o mar foi moldando o imaginário da cultura cabo-verdiana e o imaginário do povo ilhéu.

“O edifício acaba por ter este valor, esta importância histórica, mas no contexto da memória coletiva acaba por ser um espaço de apropriação da comunidade, que se revê neste espaço, que é de contemplação da cidade e é o símbolo desta dinâmica e da importância económica que a cidade teve, ligada à exploração da indústria carvoeira”, reforçou Samira Baessa.

Para a diretora, não havia espaço mais adequado para a instalação do Museu do Mar, que acaba por recriar a importância deste elemento na história de Cabo Verde, com a emergência das cidades-porto, mas também da relação do homem cabo-verdiano com o mar, através da emigração, feita com a pesca da baleia, que marca uma fase importante de emigração dos cabo-verdianos para os Estados Unidos da América.

“Mas também procuramos revitalizar as memórias ligadas às tradições, à história, manifestações culturais, que têm o mar como elemento de inspiração, à música, Carnaval ou gastronomia”, completou.

Samira Baessa disse também que o museu acaba por ser um espaço social e cultural, por ter um pátio amplo que permite e realização de diversas atividades, sobretudo das associações comunitárias, associações de pescadores e peixeiras.

Depois da última intervenção de fundo, realizada em 2010, a responsável deu conta que neste momento Cabo Verde está a trabalhar num novo projeto museológico para o espaço, pretendendo ampliar o conceito exposto, que está centrado sobre o mar, para explorar “um bocadinho mais” a história da cidade, com os grandes nomes da cultura ou da literatura.

O objetivo é “criar uma espécie de museu da cidade que poderá evidenciar o mar como elemento histórico na cidade, mas depois explorar várias outras temáticas, que têm a ver com esta dinâmica sociocultural do próprio espaço”, perspetivou, garantindo que este projeto deverá ser implementado num curto prazo, com financiamento nacional.

“Naturalmente, o edifício terá de passar por obras de reabilitação, para poder assumir esta nova função e corrigir as marcas e patologias impostas pela localização geográfica”, apontou, dizendo que Cabo Verde poderá ter interação com Portugal, sobretudo na parte científica.

Quanto aos visitantes, Samira Baessa disse que se assiste a uma “boa dinâmica”, mais de estrangeiros, naquele que é o principal espaço museológico da ilha de São Vicente, e que a sua localização acaba por ser também propensa a este tipo de interação e afluência.