Para o padre Filipe Diniz, “é de saudar todo o trabalho que tem sido feito” pela Igreja Católica no combate ao problema, sublinhando “a transparência” do processo.
“Se há um criminoso, deve ser julgado (…). E o Papa Francisco tem sublinhado várias vezes a tolerância zero” quanto aos abusos sexuais na Igreja, refere o padre Filipe Diniz, reconhecendo que a Igreja “estremece” com estes casos.
“Mas, se houver verdade, transparência, estamos a ser Igreja. A verdade clarifica. Pode abanar a estrutura (…), as próprias pessoas, a credibilidade, mas se (…) estamos a ser verdadeiros e é a verdade que mostra tudo isso, mostra estas situações, penso que nesse sentido é bom”, afirma o sacerdote responsável pela pastoral juvenil da Igreja Católica em Portugal em entrevista à agência Lusa.
Enaltecendo o trabalho das comissões diocesanas de proteção de menores e da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, Filipe Diniz não esconde que a questão dos abusos é “um tema muito sensível”, mas faz questão de manifestar a sua confiança em que a “transparência e a verdade” dá à Igreja “força e motivação”.
Neste contexto, acredita que a Jornada Mundial da Juventude a realizar em Lisboa, entre 01 e 06 de agosto deste ano, “não será” afetada pelas conclusões do relatório da Comissão Independente a divulgar no próximo dia 13 de fevereiro.
A comissão — que além de Pedro Strecht, integra o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a realizadora Catarina Vasconcelos — começou a receber testemunhos no dia 11 de janeiro de 2022 e, no dia 15, menos de uma semana depois, já validara 102 dessas denúncias.
Meses depois, em 11 de outubro, a Comissão Independente, naquela que foi a sua última comunicação pública de dados, anunciou que já validara 424 testemunhos, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescrevera. Dezassete dos casos, contudo, haviam sido já comunicados ao Ministério Público.
“O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa”, disse na ocasião Pedro Strecht, remetendo outros dados apenas para o relatório final.
Entretanto, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assegura estar preparada para “tomar medidas adequadas” que se imponham pelo relatório, mas recusa apontar uma expectativa sobre os resultados do documento.
Segundo o padre Manuel Barbosa, “a expectativa será de que daí [do estudo] surjam elementos que permitam continuar a tomar medidas, e medidas novas, para que este flagelo, este drama, se erradique da vida da Igreja o mais possível”.
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