Tillerson foi confirmado pelo Senado norte-americano por maioria simples, com 56 votos contra 43, com quatro democratas a unirem-se aos 52 republicanos que votaram favoravelmente. Logo após a confirmação, Tillerson seguiu para a Casa Branca, onde foi nomeado formalmente por Trump.

“Este é um homem que já é respeitado em todo o mundo”, elogiou Trump, fazendo questão de salientar que o ex-administrador da petrolífera “deixou um trabalho muito bom para assumir esta tarefa”.

Tillerson, como mandam as boas práticas, agradeceu ao presidente dos EUA a nomeação e prometeu servir Trump e o povo norte-americano em todos os momentos.

A acompanhar a cerimónia esteve Steve Bannon, assessor de Trump, nacionalista responsável pelo site de extrema-direita Breitbart.

Escreve a AFP que Bannon esteve diretamente envolvido no decreto presidencial que dita a suspensão por 120 dias da receção de refugiados (para os refugiados sírios o prazo é indefinido), e de 90 dias para cidadãos do Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen. A medida foi criticada por vários líderes internacionais, entre os quais, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, a chanceler alemã Angela Merkel, o líder da ONU António Guterres e até a primeira-ministra britânica, Theresa May; e foi recebida com contestação, o que se traduziu em manifestações nos aeroportos norte-americanos.

Ex-CEO da ExxonMobil, Tillerson assume agora o controlo da enorme máquina diplomática norte-americana, substituindo John Kerry, que deixou o cargo a 19 de janeiro, na véspera da tomada de posse de Donald Trump. Interinamente, o posto foi ocupado por Thomas Shannon, que era o diretor de Assuntos Políticos.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, felicitou Tillerson pela confirmação como secretário de Estado, cargo também ocupado no passado por Hillary Clinton, adversária democrata de Trump nas últimas eleições.

"Tillerson liderou uma empresa global, com 75.000 empregados, tem profundas relações em todo o mundo e entende o papel fundamental da liderança norte-americana”, salientou Corker.

Em comunicado, o presidente da Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Representantes, Ed Royce, manifestou igualmente a sua satisfação com a confirmação de Tillerson.

"Ter um gestor de nível internacional no Departamento de Estado será um enorme capital, porque [o departamento] precisa de uma reforma sob todos os aspectos", afirmou Royce.

Esta confirmação era uma das mais aguardadas na administração Trump, já que o secretário de Estado é o quinto na linha de sucessão da Casa Branca em caso de ausência das demais autoridades.

Outros três secretários já foram confirmados (Defesa, Segurança Interna e Transportes), além do diretor da CIA e da embaixadora dos EUA nas Nações Unidas.

Engenheiro de formação, Tillerson entrou na ExxonMobil em 1975 e passou por todas as funções até chegar à liderança da petrolífera, em 2006.

Milionário, sem experiência diplomática, Tillerson tem excelentes vínculos com autoridades do governo russo, o que facilitou a expansão dos contratos da ExxonMobil na Rússia. o gestor desenvolveu uma amizade pessoal com o presidente Vladimir Putin, por quem foi condecorado com a Medalha da Ordem da Amizade.

Departamento dividido

Tillerson assume um Departamento de Estado visivelmente dividido após o decreto presidencial assinado na última sexta-feira, 27 de janeiro, pelo presidente Trump e que estabelece uma nova e rígida política para refugiados e imigrantes.

A medida causou uma onda de indignação em todo o mundo, e foi também muito contestada internamente.

Um número não revelado de diplomatas e de funcionários do Departamento de Estado preparou um documento, distribuído internamente, discordando da política manifestada no decreto assinado por Trump.

O Departamento de Estado possui um mecanismo formal, chamado "Canal de Dissensão", pelo qual diplomatas podem registar seu incómodo face ao impacto que uma decisão oficial possa ter na Política Externa do país, sem serem punidos por isso.

Já no início desta semana, quando se tornou público que o documento - de conteúdo reservado - estava a circular, a Casa Branca mandou uma mensagem que não deixou dúvidas: “Ou eles alinham com o programa ou vão-se embora”, declarou o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, considerando que foi dada à carta subscrita por diplomatas do departamento de Estado uma atenção “desproporcionada e exagerada” e que eles devem ponderar bem as posições que assumem.

Na opinião do porta-voz da Presidência, "a maioria dos americanos está de acordo com o presidente" sobre a necessidade de manter o país seguro.

Amizades na Rússia

A falta de experiência de Tillerson na diplomacia não é vista como um problema tão grave quanto a sua proximidade com o governo russo, tradicional adversário de Washington.

Quando foi escolhido por Trump para o Departamento de Estado, as relações de Tillerson com a Rússia tornaram-se o ponto central de uma enorme polémica, face à alegada ingerência russa nas eleições presidenciais de novembro que, segundo os serviços secretos, tinha intenção de beneficiar a candidatura do agora presidente dos EUA.

Os serviços secretos acusam a Rússia de piratear o Comité Nacional Democrata na tentativa de intervir no processo eleitoral. O caso conduziu à expulsão de 35 diplomatas russos por Barack Obama, a semanas de terminar o seu mandato.

Numa audiência de nove horas no Senado, Tillerson procurou distanciar-se de Putin e afirmou que a "Rússia representa um grande perigo" para os Estados Unidos.

Na sessão, Rex Tillerson condenou a invasão da Ucrânia por Moscovo, assim como a anexação da Crimeia, ou facto de apoiar as forças leais a Bashar al-Assad na Síria que “violam as leis da guerra”.

Tillerson assumiu que os aliados dos norte-americanos na NATO "têm razão de ficarem alarmados”. Todavia, o agora secretário de Estado não confirmou se iria apoiar sanções - novas ou vigentes - à Rússia e reconheceu não ter discutido ainda com Trump qual a política do governo relativamente ao país liderado por Vladimir Putin.

O gestor apontou ainda baterias à China, acusando o gigante asiático de não ter sido um parceito confiável para pressionar Coreia do Norte pelo seu programa nuclear.

Aldo Gamboa / AFP