"Estamos a alertar o público de que este tipo de manifestações não são permitidas dentro das instalações", disse o porta-voz do comité organizador Rio-2016, Mario Andrada, aos jornalistas.

Em múltiplos incidentes desde a abertura dos Jogos, na sexta-feira, a polícia confiscou pequenos cartazes com a frase "Fora Temer".

Alguns destes protestos consistem numa folha de papel branco levantada em silêncio até a intervenção da polícia.

Às vezes, o slogan aparece num cartaz levantado atrás de uma câmara de televisão enquanto os jornalistas filmam as ruas. Um homem que carregou a tocha olímpica na semana passada pintou as palavras nas suas nádegas, e revelou-as ao abaixar a roupa interior.

Outros apenas gritam "Fora Temer", um grito de guerra que foi ouvido em massa na cerimónia de abertura dos Jogos, na sexta-feira, no estádio do Maracanã, quando o presidente interino declarou abertos os Jogos num breve discurso.

Temer, o ex-vice-presidente, assumiu a liderança do país em maio, quando a presidente Dilma Rousseff foi suspensa do cargo enquanto é julgada pelo Congresso por maquilhar as contas públicas.

Dilma pode ser destituída no fim de agosto, a apenas alguns dias depois do fim dos jogos.

Com a crise política a atingir o clímax, os organizadores não conseguiram impedir que as tensões atingissem as Olimpíadas.

Numa versão criativa do movimento anti-Temer, um grupo de pessoas na partida de futebol feminino entre Estados Unidos e França, em Belo Horizonte, no sábado, decidiu manifestar-se usando t-shirts que juntas formavam a palavra "Fora Temer”. Acabaram por ser expulsas do estádio, informou o jornal Folha de São Paulo.

O vídeo de um outro incidente publicado nas redes sociais, e que acumulou quase dois milhões de visualizações, mostra quatro polícias a cercar e a expulsar um manifestante de um estádio.

Proibição olímpica aos protestos

A tolerância zero aos protestos pacíficos despertou indignação à esquerda do espetro político e provocou a convocação de novas manifestações.

"Inacreditável! Manifestar opinião agora dá prisão!", disse a senadora Gleisi Hoffmann, do Partido dos Trabalhadores (PT). "Voltamos no tempo", afirmou num comentário no Facebook.

Mas as autoridades olímpicas informaram este domingo que slogans políticos estão proibidos nos estádios, de acordo com a Carta do Comité Olímpico Internacional (COI), que diz que nenhum tipo de protesto está permitido.

"Pede-se às pessoas que estão a protestar politicamente em instalações (olímpicas) que não continuem a fazê-lo, e, se fizerem, pede-se que saiam. Este é um templo do desporto e precisamos nos concentrar nisso", disse Andrada.

"Obviamente, as manifestações fora das instalações são permitidas, desde que não sejam violentas"

O ministério da Justiça divulgou entretanto um comunicado onde afirma que as regras proíbem os espetadores de entrar com qualquer "item que possa prejudicar a competição", e isso inclui "qualquer item com uma mensagem política, religiosa, racista, discriminatória, difamatória ou xenófoba".

Aparentemente, em referência ao caso do homem que foi expulso do estádio por gritar "Fora Temer" numa competição de tiro com arco, o ministério informou que este estava “a incomodar atletas e outros adeptos".

Desde que se tornou presidente interino, Temer nomeou um novo governo que se colocou claramente à direita da plataforma esquerdista de Dilma. Se esta for destituída, Temer governará até o fim de 2018.

Dilma Rousseff e os seus apoiantes afirmam que Temer conjeturou um golpe contra a presidente suspensa. E, nos protestos, há desde pessoas comuns a famosos, como Caetano Veloso, entre outros.

As pesquisas mostram que Dilma é profundamente impopular e Temer é apenas um pouco melhor. A crise, à qual se soma a pior recessão em décadas, está a criar um pano de fundo de revolta, isto durante uns Jogos Olímpicos que deveriam ser uma afirmação do Brasil.

"Os brasileiros estão muito insatisfeitos", afirmou Fabiana Amaral, de 32 anos, ao visitar a pira olímpica situada no centro do Rio.

"Qualquer pessoa que se tivesse sentado ali (durante a cerimónia de abertura) teria sido vaiada. Se fosse Dilma, não Temer, teria sido pior. Foi uma oportunidade para demonstrar a nossa raiva", explicou a arquiteta.