Todos nós temos desejos, planos, pulsões que estamos permanentemente a adiar em prol do pragmatismo do dia-a-dia. Uma das que eu teimo em negligenciar é a vontade de viajar por esse país fora num roteiro de bem comer.

Atenção, esta jornada que vou repetindo mentalmente, esperando um dia ver concretizada, também contempla visitar lugares, conhecer gentes, muito palmilhar e admirar. Mas seria mentiroso se não admitisse que esta viagem teria sempre como objeto de fundo conhecer a gastronomia nacional de lés-a-lés.

É por isso que, ao ler o artigo da Rita Sousa Vieira quanto ao livro "Confrarias de Portugal", contenho a baba e a inveja. Mas mais do que adornar as suas páginas de iguarias pornográficas, o que as responsáveis por esta obra fizeram foi fixar para a posteridade o esforço de homens e mulheres em preservar cultura. Porque a gastronomia é o reflexo de um povo — a frase não é minha e estou a parafrasear latamente —, e urge que se valorize o esforço das confrarias em não deixar que estas práticas e receitas do Portugal profundo (e não só) se desvaneçam no tempo e saúda-se a homenagem levada à estampa por Ana Catarina André e Marisa Cardoso. Também um dia quererei seguir os seus passos.

Já agora, ao percorrer esses caminhos de Portugal, espero que um dia me levem a Vilar de Mouros. Tenho o orgulho (e o prazer, imenso) de já ter picado o ponto em inúmeros festivais de verão por este país fora, mas lamentavelmente faltam-me os dois gigantes do Minho: Paredes de Coura(íso) e aquele que é o mais antigo da nossa história melómana.

Ontem, como podem ler na crónica de Paulo André Cecílio, a noite pertenceu ao punk. Adorava ter lá estado, apesar de, nestas matérias ruidosas, eu nunca ter ido à baila com os The Offspring. No entanto, em tempos de incerteza, de dúvida, de um certo negrume existencial, não há nada como uma descarga de libertação propiciada por canções descontroladas de dois, três minutos, para nos lembrarmos do que é estar vivo (e, já agora, do prazer que isso dá).

E falando de euforia, hoje é dia de Clássico, outro evento propenso a romarias. Para mim, que professo o meu credo futebolístico a outra divindade da redondinha, o jogo pouco mexe com as emoções. Mas é inegável que, a cada duelo que FC Porto e SL Benfica disputam, por todo o lado fervilhar palpável que afeta transversalmente todo o país. É tentando colocar essa efervescência em palavras que Tomás Albino Gomes vai presentear-vos com a crónica deste embate de seguida.

Por fim, já que se fala de romarias, e no rescaldo daquilo que foi a celebração quanto aos 50 anos do festival de Woodstock, fiquem com a performance do eterno Jimi Hendrix neste marco histórico, para que as suas notas tórridas vos acompanhem nesta não menos quente noite dentro.

Hoje o dia foi assim por António Moura dos Santos.