“Hoje, os Estados Unidos tentam vingar-se na plataforma do Conselho de Segurança. Será apresentado a votação um projeto de resolução sobre a Venezuela. Não há nada de novo. A mesma mistura de demagogia, acusações recorrentes e ultimatos”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zajarova, numa conferência de imprensa.

“A Rússia não pode apoiar este projeto", referiu a porta-voz.

A Rússia, como os Estados Unidos, é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e tem direito de veto.

Na quarta-feira, e durante uma deslocação à China, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, apontou críticas à atuação de Washington em relação à crise venezuelana, denunciando tentativas “descaradas” de criar “pretextos artificiais” para uma intervenção militar externa, como, por exemplo, o argumento de uma operação humanitária.

Moscovo, que tem sido um aliado do Presidente venezuelano contestado Nicolás Maduro, também vai apresentar um projeto de resolução alternativo que defende, segundo a agência russa Interfax, que deve ser o povo venezuelano a resolver a crise que afeta o país, através de um processo político pacífico fundamentado no Mecanismo de Montevideu.

Este mecanismo, que surgiu após uma reunião do Grupo de Contacto Internacional para a Venezuela na capital uruguaiana (em que Portugal participou), incide no diálogo, na negociação e foi ativado com a intermediação do Uruguai, México e da Comunidade das Caraíbas (Caricom).

O projeto de resolução que será apresentado por Moscovo classifica ainda como inadmissível qualquer interferência externa na Venezuela, bem como o recurso a ameaças de um eventual uso da força contra o país.

Em relação à ajuda humanitária, o texto russo destaca que qualquer operação deve ser previamente acordada com o governo de Nicolás Maduro.

Na terça-feira passada, o enviado especial norte-americano para a Venezuela, Elliott Abrams, anunciou a intenção de Washington de avançar, durante esta semana, com uma votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a crise na Venezuela.

“Penso que vamos ter uma resolução esta semana que, sem qualquer dúvida, vai pedir a admissão de ajuda humanitária na Venezuela e que analisará os acontecimentos dos últimos dias”, disse então Elliott Abrams.

Questionado na altura sobre um possível veto da Rússia, o representante norte-americano considerou que seria “constrangedor” que fosse vetada uma solução a solicitar mais ajuda humanitária.

Abrams acrescentou também que Washington gostava que o texto pedisse “eleições livres” na Venezuela.

De acordo com a imprensa russa, o chefe da diplomacia venezuelana, Jorge Arreaza, manteve hoje consultas em Genebra com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Vershinin, a propósito do projeto de resolução de Moscovo.

Este assunto também deverá ser abordado na sexta-feira durante um encontro entre a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e Serguei Lavrov, em Moscovo.

É a primeira visita de um alto dignitário do governo de Maduro à Rússia desde que o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, se autoproclamou, em janeiro, Presidente interino da Venezuela.

Até à data, cerca de 50 países já reconheceram Juan Guaidó como Presidente interino.

Já Maduro conta com o apoio da Rússia e da China. As autoridades chinesas temem que um regime liderado pela oposição venezuelana não pague os milhões de dólares emprestados por Pequim a Caracas.