Portugal é conhecido pelo predileto futebol e seus protagonistas além-fronteiras, mas durante o fim de semana os atletas que ficaram na história não fazem do relvado do desporto-rei a sua praia. No Campeonato Europeu de Atletismo em Pista Coberta, que decorreu em Torun, na Polónia, de sexta-feira até hoje, por três vezes se fez conquista lusa no cume do pódio.

Por outras palavras, Auriol Dongmo, Patrícia Mamona e Pedro Pablo Pichardo conquistaram medalhas de ouro. A primeira na prova de lançamento do peso, os restantes no triplo salto. Para se ter noção do feito, trata-se do melhor registo de sempre de Portugal (em Pista Coberta), que só tinha tido duas vitórias por uma ocasião, em 1996, em Estocolmo.

O desenho banhado a ouro do atletismo nacional começou a ganhar forma no sábado. A matéria-prima apareceu pela primeira vez quando Dongmo bateu a concorrência com um arremesso de 19,34 metros. Aliás, a atleta portuguesa (nascida nos Camarões) foi mesmo a única a conseguir todos os ensaios válidos acima dos 19 metros. No derradeiro, olhou para a sueca Fanny Roos, que ficou em segundo, e disse para ela própria: "Auriol, o primeiro é o teu lugar, não é de mais ninguém". E foi.

Neste domingo, a glória continuou à boleia do triplo salto. Primeiro no masculino, depois no feminino. O que deu mote na superação de todos os outros que saltaram pelo seu caminho foi Pichardo, de 27 anos, que nasceu em Cuba mas que tem passaporte português desde 2017.  Em Torun, o atleta superou todos os adversários por uma margem confortável: o azeri Alexis Copello saltou 17,04, o alemão Max Hess 17,01, ao passo que Pichardo atingiu a marca de 17,30 metros. Corrida, chamada, salto, ouro.

Mas episódio de salto categórico para o topo do pódio não se ficou por aqui. Não muito depois estava garantido novo 1.º lugar. É que Patrícia Mamona hoje saltou como nunca. Há dois anos tinha feito 14,44 em Madrid (recorde nacional em pista coberta), mas este domingo atingiu a marca dos 15,53. A vitória foi por um triz, é verdade, ou não tivesse o pódio ter-se decidido por uma unha negra, uma vez que as três primeiras ficarem separadas por um mero centímetro. Seja como for, a parte que interessa, é que a portuguesa foi a melhor.

"Sinto-me muito satisfeita, devido a muitas situações cheguei a equacionar nem fazer pista coberta, só estava a pensar no ar livre. Houve uma fase em que senti que tinha de provar alguma coisa e comecei a concentrar-me nisso, que tinha de provar a mim própria, apesar de tudo o que fiz, que ainda posso fazer mais", disse uma Patrícia Mamona visivelmente emocionada.

O feito destes atletas não passou ao lado dos governantes. Do Chefe de Estado ao primeiro-ministro, passando pelo presidente da Assembleia da República, todos deixaram mensagens a felicitar aqueles que trouxeram ouro para Portugal. Mensagens e elogios mais do que merecidos. Afinal, foi a melhor presença portuguesa de sempre.