Carlos Pereira, da divisão de vitivinicultura da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), disse à agência Lusa que o ano vitícola no Douro se caracteriza pela “seca prolongada” e que, desde junho, a região está também em “seca severa”.
Segundo o boletim climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, quase 79% de Portugal continental encontra-se em situação de seca severa e extrema,
As videiras durienses já estão habituadas ao clima seco e quente, mas este ano choveu na região menos 50% do que num ano médio.
Carlos Pereira ressalvou que o stress hídrico, ou seja, de falta de água, não é um problema no Douro precisamente porque as videiras já estão habituadas, no entanto referiu que se verificam “situação pontuais de stress hídrico exagerado”.
“Em algumas situações está a criar stress hídrico exagerado, está a criar alguns problemas de desfolha precoce e também de paragens de maturação. Isto em situações pontuais”, frisou.
São casos que se verificam, por exemplo, em vinhas do Douro Superior e do Cima Corgo, em que as videiras estão viradas a sul e com mais exposição solar, ou em vinhas novas.
“O inverno foi frio mas a primavera foi bastante quente o que levou a um avanço do ciclo vegetativo da videira em cerca de duas a três semanas. As vindimas serão antecipadas de uma forma geral duas semanas ou até pontualmente mais”, salientou.
Por exemplo, na Quinta do Vallado, no Peso da Régua, as vindimas começam na quarta-feira com o corte das uvas brancas.
Francisco Ferreira, um dos responsáveis desta quinta, referiu que, em relação ao ano passado, há uma antecipação na vindima de cerca de 15 dias. Comparativamente com um ano médio no Douro, essa antecipação é de cerca de 10 dias e acontece devido ao tempo “extremamente quente e seco”.
Na Mêda, na Quinta Vale D’Aldeia, a vindima das uvas brancas começa no final da próxima semana.
O enólogo Eduardo Conceição explicou que a antecipação da vindima é uma consequência da “seca e altas temperaturas” que se têm verificado este ano no Douro.
“Tivemos temperaturas muito altas e a maturação está um pouco acelerada”, salientou.
Apesar da seca, o Douro prevê uma boa vindima, quer em termos de qualidade quer em quantidade.
Segundo Carlos Pereira, da DRAPN, a nível sanitário não se verificaram problemas na vinha, quer doenças ou pragas. Espera-se também um aumento da produção significativo na região.
Eduardo Conceição frisou que as “expectativas são muito boas”, mas ressalvou que tudo depende das condições meteorológicas que se verificarem até à vindima.
Segundo dados divulgados em julho pela Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), as previsões apontam para uma produção entre as 266 e as 288 mil pipas de vinho.
De acordo com estes dados, prevê-se um aumento na produção entre os 13 e 22%, comparativamente com a média de produção dos últimos sete anos, que é de 236 mil pipas. Comparativamente com o ano passado o aumento é maior e poderá rondar entre os 26 e os 36%.
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