Este é um dos resultados do último inquérito realizado pela Deco – associação de defesa do consumidor relacionado com o impacto da pandemia covid-19 na população.
Sobre as alterações no ambiente em casa, o inquérito, realizado entre os dias 17 e 20, revela que 60% dos inquiridos que coabitam com outras pessoas afirmam ter passado “por algumas situações de fricção, sobretudo, devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem no mesmo espaço durante todo o dia”.
“As diferenças de opinião sobre as medidas de prevenção da covid-19 a adotar são outros rastilhos incendiários” e, nos agregados com crianças, “o acompanhamento escolar é também é foco de conflito, segundo 28% dos inquiridos”, indica a Deco.
Por outro lado, 45% dos portugueses que coabitam com outros revelam que as restrições à mobilidade tiveram um impacto positivo no relacionamento familiar, sobretudo em agregados que incluem casais com filhos menores.
“O bom ambiente familiar é útil, mas não elimina as mazelas na saúde provocadas pelo confinamento”, indica a associação, apontado que seis em cada 10 inquiridos, com destaque para as mulheres, assinalaram que as restrições à mobilidade prejudicam o seu bem-estar psicológico.
O medo de contrair covid-19 impediu, por sua vez, que um quarto dos inquiridos que tiveram um problema grave de saúde se deslocassem ao hospital, arriscando-se a que a situação evoluísse sem retorno.
A falta de atividade física e a ingestão de maior quantidade de comida, incluindo ‘snacks’ doces e salgados foi referida por 39% dos portugueses inquiridos pela associação de defesa do consumidor.
Seis em cada 10 afirmam ir menos vezes ao supermercado pessoalmente, sendo que 49% diz frequentar menos os mercados tradicionais e 44% o comércio local.
“Por terem maior disponibilidade ou já fruto da redução dos rendimentos, cerca de um quinto dos inquiridos presta, agora, mais atenção aos preços dos produtos, e um terço afirma aproveitar sobras de refeições anteriores”, diz a Deco.
A grande maioria (oito em cada 10) revela não desperdiçar comida, quase o triplo dos que o faziam no início deste ano.
Apenas 6% dos inquiridos afirmam não ter saído de casa uma única vez na última semana.
Segundo a Deco, “a grande maioria saiu para comprar alimentos, medicamentos ou outros produtos, sendo que quatro em cada 10 o fez mais do que uma vez por semana”.
Quase metade foi passear ou correr nas redondezas da habitação, conforme previsto nas medidas do estado de emergência, mas 10% saiu da sua área de residência.
“Os prevaricadores são, sobretudo, os mais jovens, entre os 18 e os 30 anos” e são também os que “mais contrariam a regra de evitar os contactos sociais” já que cerca de um quarto confessou ter saído para se encontrar com familiares ou amigos.
Na população em geral, 12% tiveram o mesmo comportamento, segundo o estudo.
“Quem vive sozinho também é mais propenso a quebrar o isolamento, arriscando o contágio”, pelo que a Deco defende que deve ser feita “alguma reflexão numa altura em que se fala em levantar as restrições impostas pelo estado de emergência”.
O inquérito da Deco foi realizado entre 17 e 20 de abril através de um questionário ‘online’, tendo a associação recebido 1.008 respostas e segue-se a um outro, publicado em meados de março, que concluía que o prejuízo total das famílias devido à pandemia rondava naquela altura os 1,4 mil milhões de euros.
O estudo publicado hoje pela Deco Proteste revela que quase 60% da população ativa está a sofrer redução de rendimentos devido à perda de emprego ou à diminuição do trabalho como consequência da pandemia covid-19.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 204 mil mortos e infetou mais de 2,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Perto de 800 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal morreram 903 pessoas das 23.864 confirmadas como infetadas, e há 1.329 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram, entretanto, a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos, como Dinamarca, Áustria, Espanha ou Alemanha, a aliviar algumas das medidas.
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