"O Senado irá reunir para uma sessão pro forma na segunda-feira, isto é, no [dia] 24 [de dezembro]. A próxima sessão programada será em 27 de dezembro", disse o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, no Congresso.  Por causa da paralisação, Trump ficará em Washington durante o Natal, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

Antes deste anúncio, o presidente já tinha usado o Twitter para informar sobre o adiamento da viagem à Flórida para passar as festas de fim de ano de forma a dar continuidade às negociações com o Congresso, já depois de operações de vários serviços-chave do governo ter suspendido a atividade desde o primeiro minuto de sábado, dia 22 de dezembro.

"Estou na Casa Branca, a trabalhar muito", tuitou o presidente. "Estamos a negociar com os democratas sobre como precisamos desesperadamente de segurança fronteiriça (gangues, drogas, tráfico de pessoas, etc)".

Algumas agências do governo federal fecharam as portas e centenas de milhares de funcionários foram obrigados a entrar em licença, sem direito a salário, enquanto outros devem trabalhar sem receber pagamento.

Para evitar o temido "shutdown" dos serviços federais era necessário que o Congresso e a Casa Branca chegassem a um entendimento, mas apesar dos esforços de última hora não foi alcançado um acordo sobre o muro, uma das principais promessas de campanha de Trump e para o qual ele pretende cinco mil milhões de dólares.

Quase 75% do governo, incluindo as Forças Armadas e o Departamento de Saúde, estão totalmente financiados, o que garante o funcionamento normal. O bloqueio atinge os restantes 25% dos organismos federais, o que pode afetar até 800.000 funcionários. A maioria dos funcionários da NASA deve permanecer em casa, assim como aqueles que trabalham no Departamento de Comércio e muitos funcionários do Departamento de Segurança Interna (DHS).

Os parques nacionais abrirão ao público, mas vários empregados não poderão trabalhar.

Embora os serviços de segurança continuem operacionais, os efeitos da disputa orçamental e a incerteza resultante provocam algum caos em Washington, ainda mal recomposta da renúncia do secretário de Defesa, Jim Mattis.

Paralelamente, Wall Street teve sua pior semana em 10 anos e sofreu fortes perdas nas sexta-feira.

Posições irreconciliáveis

A incerteza sobre a duração da paralisação parcial é grande, já que as duas posições parecem irreconciliáveis.

Trump transformou a luta contra a imigração no seu principal objetivo e a construção do muro com o México seria uma realização concreta de uma das suas promessas de campanha.

Durante sexta-feira, Trump defendeu os méritos desta ideia e disse estar pronto para um 'shutdown' orçamental, enquanto persegue a meta de obter recursos para o muro, o fio condutor da sua política migratória. Para Trump, o muro deve impedir os migrantes que desejam entrar nos Estados Unidos.

Em outubro, uma caravana de migrantes hondurenhos que deixou San Pedro Sula com destino aos Estados Unidos teve muita cobertura dos media e também de Trump, que alimentou a campanha para as eleições de meio do mandato denunciando uma "invasão".

Após a sessão de sexta-feira no Congresso, Trump voltou a defender a sua ideia de maior segurança na fronteira num vídeo no Twitter que mostra imagens de uma das caravanas de migrantes.

"Esperemos que o bloqueio não dure muito", afirmou, ao pedir que os democratas cedam em sua posição.

Com a perspectiva de falta de verba federal para o muro, Brian Kolfage, um veterano da guerra no Iraque, iniciou um "crowdfunding" que na sexta-feira já somava mais de 11 milhões de dólares, cinco dias após o lançamento.

"O presidente Trump fez birra"

Na quinta-feira, Trump advertiu que não promulgaria um projeto de acordo a curto prazo que permitiria prorrogar o financiamento do governo até 8 de fevereiro, se este não incluísse fundos suficientes para o controle das fronteiras.

A oposição democrata se nega categoricamente a considerar a ideia. "O presidente Trump fez birra e convenceu os republicanos da Câmara de Representantes a empurrar o nosso país para um destrutivo 'Trump shutdown'", afirmaram os líderes democratas no Congresso, Chuck Schummer e Nancy Pelosi, num comunicado conjunto.

"O presidente Trump queria uma paralisação do governo e agora ele tem. Depois de rejeitar uma oferta bipartidária de 1,6 mil milhões de dólares para a segurança na fronteira que foi aprovada pelo Comité de Atribuições do Senado, o presidente prefere manter o governo federal dos Estados Unidos como refém", afirmou o senador Bob Menéndez.

David Cox, presidente da Federação Americana de Funcionários do Governo, declarou em um comunicado que "o fracasso em financiar as operações do governo é vergonhoso, inaceitável, e um desperdício completamente evitável de dólares pagos pelos contribuintes".