"Precisamos, dentro da União, todos juntos, de ter coragem. Também por esta razão, olhamos com confiança para a presidência de turno do Conselho da União Europeia que Portugal assumirá no primeiro semestre de 2021, certos de que se tratará de um momento no qual a colaboração se tornará ainda mais estreita", afirmou.

O chefe de Estado italiano falava num jantar oficial no Palácio do Quirinal, em Roma, que ofereceu em honra do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que se encontra em visita de Estado a Itália.

Na sua intervenção escrita, a que a agência Lusa teve acesso, Sergio Mattarella disse que Portugal e a Itália têm "sensibilidades comuns" em relação ao futuro da União Europeia.

"Estamos, ambos, conscientes de que chegámos a uma viragem decisiva no percurso de integração, para podermos, completando a arquitetura da União, satisfazer plenamente as necessidades e os desejos dos nossos cidadãos e das nossas comunidades", acrescentou.

Sergio Mattarella, de 78 anos, foi eleito Presidente de Itália em 31 de janeiro de 2015 para um mandato de sete anos. É o 12.º chefe de Estado de Itália.

No seu discurso neste jantar oficial, o chefe de Estado de Itália referiu que este ano se comemora "o 500.º aniversário da morte de Leonardo da Vinci - celebrado também em Portugal com diversas iniciativas -, mas também os 500 anos da navegação de Fernão de Magalhães, cujas gestas foram transmitidas pelo vicentino Antonio Pigafetta".

Sergio Mattarella apontou estes dois acontecimentos como "etapas de um percurso entusiasmante, o da civilização europeia, na incessante exploração de novos horizontes", no qual portugueses e italianos têm estado "sempre próximos, num compromisso que se renova".

"Era italiano Antonio Pigafetta, o cronista a quem devemos o tanto que sabemos hoje sobre a viagem de circum-navegação"

"Era italiano Antonio Pigafetta, o cronista a quem devemos o tanto que sabemos hoje sobre a viagem de circum-navegação", realçou igualmente Marcelo Rebelo de Sousa, na sua intervenção, em que salientou como "é antiga e secular a relação de fraternidade" entre Portugal e Itália. "Uma união que remonta à fundação da nossa nacionalidade, sendo oriunda da Casa de Saboia a primeira rainha de Portugal", mencionou o Presidente português.

No quadro multilateral, ambos os chefes de Estado assinalaram a adesão da Itália, enquanto observador associado, à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no ano passado.

Na sua intervençao , Marcelo Rebelo de Sousa,  apelou à defesa e aprofundamento do projeto europeu, desde logo, com a conclusão da União Económica e Monetária, para honrar o mandato de Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu (BCE). O chefe de Estado considerou que se vive um tempo de "dúvidas, inquietações e convulsões", com "nacionalismos extremistas e populismos demagógicos", em que o "projeto de paz, desenvolvimento e coesão" europeu ganha ainda mais importância.

Segundo o Presidente da República, há que "assegurar que o desenvolvimento coeso e harmonioso do espaço europeu continuará a ser um objetivo primordial da União, completando o que importa completar, nomeadamente na União Económica e Monetária, e assim honrando o inestimável legado de Mario Draghi à frente do BCE".

O economista italiano Mario Draghi foi presidente do BCE entre 2011 e o final do mês passado. Enquanto exerceu essas funções, Marcelo Rebelo de Sousa convidou-o a participar numa reunião do Conselho de Estado, para falar sobre a situação económica e financeira europeia, em abril de 2016, e condecorou-o com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique, em junho deste ano.

No discurso que fez neste jantar oficial, o chefe de Estado abordou novamente a questão das migrações, salientando "a solidariedade que Portugal se orgulha de ter assumido perante os fluxos migratórios com que a Itália se tem confrontado" e agradeceu o apoio da República Italiana "após os terríveis incêndios que assolaram Portugal em 2017".

No seu entender, é preciso manter a "procura de soluções justas e solidárias" e garantir "um diálogo constante sobre os desafios geoestratégicos que exigem uma resposta coordenada - da situação do Mediterrâneo aos conflitos comerciais".

"Em todos estes domínios Portugal sabe que pode contar com a Itália, como a Itália está certa de que pode contar com Portugal. Na defesa do comércio livre e justo. Na salvaguarda do multilateralismo e das Nações Unidas. Na permanente valorização da unidade europeia", afirmou.

"A feliz coincidência de Portugal e Itália celebrarem ambos o 25 de Abril como um dia de liberdade"

Em tom de advertência, acrescentou: "Fazemo-lo por convicção e porque conhecemos bem o preço do isolamento, do fechamento sobre si próprio, da recusa do diálogo. Como conhecemos o custo do protecionismo e da 'não Europa'".

No final da sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a assinalar "a feliz coincidência de Portugal e Itália celebrarem ambos o 25 de Abril como um dia de liberdade, de fraternidade e de futuro" e mostrou-se certo de que esses "três signos" continuarão "a guiar a Europa e o mundo".

O chefe de Estado propôs um brinde "à saúde e felicidade do Presidente Sergio Mattarella e ao progresso e prosperidade de todos os italianos", expressando "profundo reconhecimento" ao seu homólogo "pelo que tem feito em prol das relações luso-italianas e do projeto europeu".

Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Itália na segunda-feira, para uma visita de Estado que termina na quarta-feira, em Bolonha, em que está acompanhado pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, e pelos deputados à Assembleia da República Jorge Lacão, do PS, Adão Silva, do PSD, e Bruno Dias, do PCP.