"Espero que os factos revelados, com coragem, pelo senhor Paulo Marinho [ex-aliado de Bolsonaro] sejam totalmente esclarecidos", escreveu este domingo na rede social Twitter Sergio Moro, que se demitiu do Governo brasileiro no final de abril, em rutura com Bolsonaro, a quem acusou de alegada interferência na Polícia Federal.
Em causa estão as declarações feitas no domingo pelo empresário brasileiro Paulo Marinho, figura central na campanha presidencial de Jair Bolsonaro, em 2018, que revelou que autoridades policiais atrasaram a divulgação de uma operação que envolvia um dos filhos do atual Presidente para não prejudicar a sua eleição.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Paulo Marinho, que cedeu a sua casa no Rio de Janeiro para a estrutura de campanha presidencial de Bolsonaro, afirmou ainda que o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do Presidente, foi informado por um delegado da Polícia Federal, entre a primeira e a segunda volta da eleição (outubro) de 2018, que seria iniciada uma operação que o envolvia.
Em causa está a Operação Furna da Onça, que expôs detalhes das movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Queiroz é acusado de operar um esquema de "rachadinha" - prática em que funcionários devolvem parte dos seus salários pagos pelo estado a quem os contrata - no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O empresário revelou que Flávio Bolsonaro foi avisado da investigação por um delegado da Polícia Federal que era simpatizante do atual chefe de Estado, e os agentes teriam atrasado a divulgação da operação, então sigilosa, para que ela ocorresse apenas após a realização da segunda volta, que consagrou Bolsonaro como Presidente.
"Vai ser deflagrada a operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz [Nathalia], que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro [que ainda era deputado federal] em Brasília", disse Marinho, relatando as alegadas declarações do delegado.
"Nós vamos segurar essa operação para não a detonar agora, durante a segunda volta, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição [presidencial]", terá dito o delegado, segundo Paulo Marinho, que é agora pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e também suplente de Flávio Bolsonaro no Senado.
Após a divulgação da entrevista feita pela Folha, o procurador-geral da República, Augusto Aras, indicou que vai analisar o relato de Paulo Marinho de que Flávio Bolsonaro foi avisado com antecedência sobre a operação policial em causa.
A oposição política de Bolsonaro também se posicionou em relação às revelações feitas pelo empresário, pedindo a investigação das acusações.
"Fraude Eleitoral! A operação que revelou o esquema das rachadinhas geridas pelo Queiroz no gabinete do Flávio Bolsonaro foi adiada pela Polícia Federal para depois da eleição presidencial para não prejudicar o chefe da máfia, Jair Bolsonaro. CPI [Comissão parlamentar de inquérito] já, para investigar esse crime", escreveu no Twitter o deputado federal Marcelo Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Já o deputado o deputado Kim Kataguiri, do partido Democratas, argumentou que, caso de provem as acusações de Marinho, podem mesmo ser realizadas novos eleições presidenciais este ano.
"Sendo comprovada, o Tribunal Superior Eleitoral pode cassar a chapa [candidatura] de Bolsonaro e Mourão [vice-presidente], dando margem para que ainda em 2020 haja novas eleições presidenciais", advogou Kataguiri.
Fernando Haddad, que disputou a segunda volta das presidenciais de 2018 com Bolsonaro e que, caso se comprovem as acusações, terá sido o candidato mais prejudicado com essa ação, falou em "fraude".
"Conforme suspeita, suplente de Flavio Bolsonaro confirma que Polícia Federal alertou-o, entre a primeira e a segunda volta, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama Fraude", escreveu no Twitter o ex-candidato presidencial pelo Partidos dos Trabalhadores.
Após a divulgação da reportagem, Paulo Marinho pediu proteção policial para si e para a sua família no Rio de Janeiro.
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