O aiatola Khamenei pediu "que este crime seja investigado e, claro, que haja punição para os autores e responsáveis (…), dando continuidade ao esforço científico e técnico deste mártir em todas as áreas em que trabalhou", segundo um comunicado divulgado no portal oficial do líder iraniano.
O Presidente iraniano, Hassan Rohani, também acusou hoje Israel de agir como "mercenário" para os Estados Unidos ao assassinar um cientista do programa nuclear iraniano.
"Mais uma vez, as mãos impiedosas da arrogância mundial, com o regime sionista usurpador como mercenário, estão manchadas com o sangue de um filho desta nação", denunciou Rohani numa declaração publicada no seu portal oficial, referindo-se ao assassínio de Mohsen Fakhrizadeh.
O Irão usa geralmente o termo "arrogância global" para se referir aos Estados Unidos.
Rohani prometeu que a morte do cientista não iria "perturbar" o progresso científico no país, reforçando que a morte se devia à "fraqueza e incapacidade" dos inimigos de Teerão de impedir o seu desenvolvimento.
O Presidente iraniano também deu as condolências "à comunidade científica e ao povo revolucionário do Irão".
Na sexta-feira, o chefe do Estado-Maior iraniano, general Mohammad Bagheri, alertou que “uma terrível vingança” se abaterá sobre os responsáveis pelo assassínio do cientista iraniano especializado no setor nuclear.
“Os grupos terroristas e os responsáveis e autores dessa tentativa cobarde devem saber que uma terrível vingança os aguarda”, escreveu Bagheri na rede social Twitter, segundo a agência estatal Irna.
Igual tom assumiu Mohamad Javad Zarif, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão. "Terroristas assassinaram hoje (sexta-feira) um proeminente cientista iraniano. Essa covardia - com sérios indícios de participação israelita - mostra um belicismo desesperado de seus autores", escreveu no Twitter. Zariv também pediu que a comunidade internacional dê "fim às suas vergonhosas posições ambivalentes e condene este ato terrorista".
O jornal The New York Times avançou que uma autoridade norte-americana e dois funcionários de inteligência confirmaram que Israel esteve por trás do ataque, sem maiores detalhes.
Em comunicado, o Ministério da Defesa do Irão identificou o alvo do ataque como sendo Mohsen Fakhrizadeh, chefe do departamento de investigação e inovação daquele ministério.
Mohsen Fakhrizadeh ficou "gravemente ferido" quando o seu carro foi alvejado por vários atacantes, que por sua vez foram atacados pela equipa de segurança do cientista, pode ler-se no comunicado, em que acrescenta que a equipa médica não o conseguiu reanimar.
Segundo um jornalista da televisão estatal, uma carrinha preta com explosivos escondidos sob pedaços de madeira explodiu em frente ao carro de Fakhrizadeh, antes deste ser atacado por tiros de outro veículo que seguia noutra faixa de trânsito. Fotografias e vídeos da cena mostram um carro preto à beira da estrada com buracos de bala e sangue no asfalto.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos indicou, em 2008, que o cientista estava a realizar “atividades e transações que contribuíam para o desenvolvimento do programa nuclear do Irão.
Fakhrizadeh tinha sido descrito pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, como o pai do programa de armas nucleares do Irão.
Fakhrizadeh liderou o chamado programa "Amad", ou "Esperança", do Irão.
Israel e o Ocidente alegaram que essa operação militar tinha como objetivo saber a viabilidade de construção de armas nucleares no Irão, mas Teerão alegou sempre que o seu programa nuclear é pacífico.
A Agência Internacional de Energia Atómica referiu que o programa "Amad" terminou no início dos anos 2000 e os seus inspetores monitorizam agora as instalações iranianas como parte do acordo nuclear do Irão com os cinco países com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França – e a Alemanha.
O ministro da Defesa, Amir Hatami, disse na televisão que o cientista desempenhou um "papel importante nas inovações de defesa". "Ele administrou a defesa nuclear e fez um ótimo trabalho", acrescentou, sem maiores detalhes.
Segundo Hatami, este assassinato está "totalmente relacionado" com a morte do general Qassem Soleimani em janeiro, num ataque por drone dos Estados Unidos em Bagdad, no Iraque.
O assassinato ocorre menos de dois meses antes da chegada à Casa Branca do democrata Joe Biden, vencedor das eleições de 3 de novembro nos Estados Unidos. Biden planeia transformar a política dos EUA em relação ao Irão, após quatro anos do republicano Donald Trump na presidência, que, em 2018 se retirou do acordo com as grandes potências, assinado em 2015, sobre o programa nuclear iraniano. Desde então, Washington restabeleceu, e mais tarde reforçou, as sanções contra Teerão.
O presidente dos Estados Unidos compartilhou no Twitter nesta sexta-feira a informação sobre o assassinato do cientista iraniano, mas sem acrescentar nenhum comentário próprio.
John Brenan, ex-chefe da CIA, classificou no Twitter o assassinato como "um ato criminoso extremamente perigoso" que pode levar a "represálias letais e a uma nova fase do conflito regional".
Diversos outros cientistas especializados no setor nuclear do Irão foram assassinados nos últimos anos, e o país atribuiu sempre a culpa a Israel.
Por outro lado, o The New York Times noticiou em meados de novembro que Abdullah Ahmed Abdullah, conhecido como Abu Mohammed al-Masri e número dois da Al Qaeda, foi morto em Teerão por agentes israelitas, durante uma missão secreta encomendada pelos EUA. O Irão negou a informação.
*com agências
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