Prevista para acontecer no início de março, logo após terem sido conhecidas as conclusões da Comissão de Acompanhamento criada para avaliar a atividade da empresa que gere o aterro desde 2009, a iniciativa avançou com a chegada da segunda fase do plano de desconfinamento do combate à covid-19, explicou à Lusa a presidente da AJP, Marisol Marques.

Esta iniciativa fez com que quem chegasse hoje a Sobrado pela Estrada Nacional (EN) 209 rapidamente se deparasse com telas negras em plástico nos postes de iluminação, onde se lia "Sr. ministro Sobrado quer respirar. Fim do aterro!", mencionando, mais abaixo, tratar-se de "material reciclado".

Desde domingo, contou a responsável, que "centenas de telas negras começaram a ser colocadas nas principais ruas da freguesia de Sobrado", admitindo que o novo cenário gerado pelo entusiasmo da população "pode, facilmente, fazer chegar ao dobro número das telas".

"Inicialmente foram feitas 500, mas, devido aos pedidos recebidos através das redes sociais, foram feitas mais 300, mas o número pode chegar ao milhar de telas", frisou a responsável da AJP.

Dias antes de o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes ser ouvido na 11.ª Comissão do Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, prevista para quarta-feira, a associação espera ouvir "notícias agradáveis para os sobradenses", depois do anúncio no sábado do fim da chegada a Portugal dos resíduos importados.

"O fim dos resíduos importados anunciado pelo Governo é uma ótima notícia para os portugueses, mas também é óbvio que a Sobrado vai continuar a chegar lixo nacional e o que vem para ali são, sobretudo, resíduos biodegradáveis das superfícies comerciais que cheiram muito mal. Logo, continuam os maus odores e a possibilidade de contaminação das nossas águas", assinalou Marisol Marques.

Sustentando que o fim dos resíduos importados "não resolve, de todo, o problema" em Sobrado, a presidente da AJP garantiu que continuará a bater-se pelo "encerramento do aterro", mesmo que "o problema não acabe no dia a seguir a estar fechado, devido à herança muito pesada de poluição dos solos que permanecerá".

À Lusa, Marisol Marques revelou que a AJP foi convidada a "pronunciar-se por escrito até dia 19 pela 11.ª Comissão", tendo o pedido chegado na "passada quarta-feira, dia em que o presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, foi ouvido por videochamada".

No documento que terça-feira de manhã fará chegar ao Parlamento, a AJP vai acrescentar imagens do "que sofrem as crianças de Sobrado, nomeadamente com as picadas dos insetos e as infeções associadas".

No centro da vila, à sombra e rodeados das telas negras e plásticas que emprestaram um outro brilho à paisagem, Manuel Leal, de 73 anos, e Manuel Moreira, de 70 anos, falaram de passado e do presente de Sobrado.

Manifestando-se contra instalação do aterro na freguesia de Valongo, Manuel Leal, recordou um tempo em que Sobrado "era uma aldeia, rural, em que o ar que se respirava era bom para a saúde", para longo avançar no tempo e com uma expressão que exibiu zanga atirar: "agora temos dias em que nem conseguimos abrir as janelas".

E com a conversa a avançar para os que querem sair e os que recusam ir viver para Sobrado, Manuel Moreira falou na primeira pessoa de mais uma consequência do quotidiano local.

"Nasci em Sobrado, mas moro em Paredes. Com este cheiro não pensaria nunca viver aqui. É um cheiro nauseabundo, há muita gente que quer sair de cá. As pessoas estão saturadas, porque nem à mesa conseguem estar a fazer as refeições sem sentir aquele cheiro", disse.

Na próxima quarta-feira a cadeia de televisão britânica Sky News irá fazer uma reportagem em Sobrado, disse à Lusa Marisol Marques.

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