Como distinguir uma notícia falsa de uma verdadeira? “Se a data de um artigo muda várias vezes, se mais nenhum meio de comunicação cobriu aquela história bombástica... estas são algumas impressões digitais de uma notícia falsa”, respondeu Yaron Galai, co-fundador e CEO da Outbrain, questionado por Ian Katz, diretor de programas do Channel 4, durante o debate "Como afastarmo-nos das fake news", no palco principal da Web Summit, esta quarta-feira, 8 de novembro.

São apenas duas ‘dicas’, mas são da maior relevância num momento em que o “tempo da ingenuidade acabou”, diz Ann Mettler, que vê nas fake news [notícias falsas] uma tentativa de desestabilizar a democracia e desafia cada um a tornar-se “o seu próprio editor”, a assumir o ónus de discernir se uma notícia é ou não verdadeira, “sem que isso tire responsabilidade às empresas tecnológicas” sobre aquilo que permitem que viva e se propague nas suas plataformas.

“Porque não se pode olhar para as fake news como algo isolado: há discurso de ódio, o terrorismo moderno não seria possível sem a Internet, a espionagem económica, ciberguerras... Temos de olhar para o grande plano e perceber que algo não está bem. Somos todos a favor do digital, sabemos que as redes sociais vieram para ficar, mas temos de as tornar compatíveis com o nosso sistema democrático”, defendeu Ann Mettler.

Assumindo que não cabe às autoridades definir o que é ou não verdade, Mettler reitera que este é “um assunto sério”, que a Europa está atenta e que “não é ingénua” relativamente a atos que “têm como objetivo desorientar a população”. “Está demasiado em risco (…). Somos favoráveis ao digital, mas não à custa da democracia”, acrescentou.

E neste ‘combate’ ainda não é claro por onde alinham as gigantes tecnológicas como o Facebook, amplamente criticado pela incapacidade de travar a circulação de notícias falsas na sua plataforma durante a campanha presidencial norte-americana — e cujo impacto efetivo no resultado das eleições presidenciais de 2016 é ainda desconhecido.

“Um meio de comunicação social tem responsabilidade sobre aquilo que publica”, já empresas como o Facebook e o Google “encontram-se num ponto de inflexão, em que têm de decidir se assumem responsabilidade sobre o conteúdo que propagam”, acrescenta Joseph Kahn, diretor-executivo do The New York Times, convidado também para o debate. E estas empresas, diz, têm dado “sinais contraditórios” na matéria: por um lado, distinguir o que é falso do que é verdadeiro tem um custo significativo. Por outro, é fundamental evitar situações como a alegada influência russa nas eleições norte-americanas. Por fim, estas empresas têm reservas quanto à possibilidade de serem consideradas órgãos de comunicação social, e reguladas enquanto tal. “O seu negócio depende, até certo ponto, da preservação de alguma neutralidade; mas o seu impacto é tão grande que as obriga a assumir alguma responsabilidade”, resumiu.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tem sido muito crítico dos media, acusando-os por diversas vezes de publicar notícias falsas ou de fazer uma cobertura desonesta da sua presidência. Um dos momentos mais marcantes neste braço de ferro foi quando Kellyanne Conway, conselheira do Presidente, cunhou a expressão “factos alternativos” ao defender as afirmações do então (polémico) porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, sobre o número de pessoas que assistiram à tomada de posse de Trump.

A Web Summit, que termina esta quinta-feira, decorre no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa. Segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal, participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil 'startups', 1.400 investidores e 2.500 jornalistas. A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa por três anos, com possibilidade de mais dois de permanência na capital portuguesa.

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