O subsecretário do Departamento de Estado para o Crescimento Económico, Energia e Ambiente falou à Lusa em Lisboa, no âmbito de um périplo que está a realizar em oito países europeus, entre os quais Portugal, onde o tema da segurança do 5G e a exclusão da chinesa Huawei na nova rede de quinta geração está na agenda.
Questionado sobre se o facto de empresas portuguesas manterem uma relação comercial com empresas chinesas coloca em perigo a relação de Lisboa com Washington, Keith Krach afirmou: "Não estamos a pedir a ninguém para desacoplar ou algo assim".
E acrescentou: "Respeitamos o direito de Portugal de tomar as suas próprias decisões".
Para o subsecretário, a grande preocupação tem a ver com a segurança nacional.
"A grande preocupação, e eu vi isso muito ontem [quarta-feira] quando estive na sede da NATO, é que, da perspetiva da NATO, o 5G é fundamental, seja em tempos de paz ou de guerra. Tem de se usar as redes civis e eu acho que eles estão realmente com receio" que possam ser fraturadas, prosseguiu o subsecretário norte-americano.
"Portanto, você tem um conjunto de países que são redes confiáveis num conjunto não confiável", sublinhou.
"Neste momento, 20 dos 30 países da NATO estão na rede limpa ('clean network'). Em outras palavras, confiáveis", apontou Keith Krach.
Questionado sobre se espera que Portugal siga as preocupações dos Estados Unidos, o responsável governamental disse que sim.
"Para o bem dos portugueses, estou realmente esperançoso de que agora estejam a seguir a caixa de ferramentas 5G da União Europeia, que é o mesmo tipo de padrões que usamos nos Estados Unidos", salientou.
Apesar do Governo português não ter tomado uma posição oficial sobre a Huawei nas redes de 5G, as três operadoras de telecomunicações não vão ter a tecnológica chinesa no 'core' [núcleo da rede].
O 'core' de uma rede móvel corresponde ao conjunto de equipamentos e plataformas que permitem a implementação, controlo e gestão dos serviços de voz e dados sobre a rede, como também a gestão da acessibilidade, mobilidade, autenticação, segurança e registo de utilização de serviços por parte dos clientes.
No entanto, até agora a Huawei não está excluída do resto da infraestrutura.
Questionado sobre o que pensa relativamente a isso, Keith Krach afirmou: "Acho que estão ainda a tomar essa decisão".
"Em termos de conversas com os reguladores e essas empresas, ainda há limites para essa tomada de decisão", acrescentou.
"Se pensar no sistema 5G, é como um colar de pérolas. Você é tão forte quanto o seu elo mais fraco", por isso, não ter no 'core' [a Huawei], mas deixar na ponta, "isso corrompe todo o sistema", considerou.
"E se olhar para o 5G, essa é a espinha dorsal" do estado de vigilância do Partido Comunista chinês, referiu.
"Onde todos os dados entram e nenhum sai. A propaganda sai, mas a verdade não entra. E estou muito contente por ver, pelo menos da parte das autoridades governamentais e dos CEO [presidentes executivos] com quem conversei, que entendem que o Partido Comunista chinês é uma ameaça real e urgente para as democracias em todo o mundo", salientou o responsável.
Questionado sobre se se referia às autoridades e empresas privadas em Portugal, Keith Krach disse que "sim".
"Como sabe, estou numa viagem por oito países pela Europa e, claramente, os países em que estive até agora na União Europeia, certamente entendem isso. Acho que fizeram um excelente trabalho com a 'caixa de ferramentas' 5G da UE, que os reguladores aqui em Portugal partilharam que iriam seguir", prosseguiu.
"E nessa caixa de ferramentas, eles definem os critérios para fornecedores de alto risco. Também definem critérios em todo o sistema, não apenas no núcleo ('core'). E também dizem que, para as empresas de telecomunicações na UE, a decisão do fornecedor 5G deve ser feita pelo Conselho de Administração", salientou o subsecretário norte-americano.
"E se o Conselho de Administração escolher um fornecedor de alto risco e algo der errado, então esses membros do Conselho são individualmente responsáveis", sublinhou.
Instado a comentar a afirmação do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que afirmou que o Governo "está muito disponível e ansioso pelo investimento americano em Portugal" e se isso será possível a curto prazo, o subsecretário foi perentório: "Não vejo porque não".
"Lidero a diplomacia económica para os Estados Unidos, dobrámos a quantidade de dinheiro que colocamos" na instituição Development Finance Corp, "reativámos o nosso banco de importação e exportação", explicou.
"Portugal tem sido um grande parceiro, amigo, aliado e como ex-CEO global fiz ótimo negócio no país. Portanto, é fácil fazer negócios com Portugal e o que eu sei é que quando se faz negócio com um empresário português, é integridade. Essas foram minhas experiências. Não tive mais do que ótimas experiências", rematou.
O périplo de Keith Krach, que começou em 21 de setembro, termina em 04 de outubro, e o próximo destino é Espanha.
De acordo com a sua agenda, o Keith Krach tem previstas reuniões com altos funcionários do governo de cada país, bem como da União Europeia e da NATO, e presidentes executivos do setor privado para discutir o programa 'clean network', a segurança 5G e os objetivos económicos e de segurança nacional comuns, incluindo proteção da privacidade de dados e propriedade intelectual de "atores malignos", e a promoção dos Direitos Humanos.
Por: Alexandra Luís da agência Lusa
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