Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, fez o balanço numa conferência de imprensa na cidade sudanesa de Porto Sudão, no Mar Vermelho, que serve de sede ao governo internacionalmente reconhecido e apoiado pelos militares.

Segundo o responsável, o número de mortos pode ser muito superior.

“O Sudão está a sofrer uma tempestade perfeita de crise”, disse Tedros no final da sua visita de dois dias ao Sudão, considerando que “a escala da emergência é chocante, tal como o é a insuficiência das medidas tomadas para travar o conflito”.

O Sudão mergulhou no caos em abril do ano passado, quando as tensões latentes entre os militares e um poderoso grupo paramilitar, as Forças de Apoio Rápido, explodiram numa guerra aberta em todo o país.

O conflito transformou a capital, Cartum, e outras zonas urbanas em campos de batalha, destruindo as infraestruturas civis e um sistema de saúde já de si muito afetado. Sem o básico, muitos hospitais e instalações médicas fecharam as portas.

O conflito criou também a maior crise de deslocações do mundo, já que, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações, mais de 13 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas desde o início dos combates.

Os combates têm sido marcados por atrocidades, incluindo violações em massa e assassínios por motivos étnicos que constituem crimes de guerra e crimes contra a humanidade, segundo a ONU e grupos internacionais de defesa dos direitos humanos.

Na sexta-feira, investigadores dos direitos humanos apoiados pela ONU apelaram à criação de uma “força independente e imparcial” para proteger os civis, acusando ambas as partes de crimes de guerra, incluindo assassínios, mutilações e tortura.

As inundações sazonais das últimas semanas agravaram a miséria. Segundo as autoridades locais, dezenas de pessoas morreram e infraestruturas críticas foram destruídas em 12 das 18 províncias do Sudão.

Um surto de cólera é a mais recente calamidade para o país, tendo em conta que, nas últimas semanas, a doença matou pelo menos 165 pessoas e deixou cerca de 4.200 doentes, segundo o Ministério da Saúde na sua última atualização, na sexta-feira.

“Estamos a apelar ao mundo para que acorde e ajude o Sudão a sair do pesadelo que está a viver”, disse Tedros, acrescentando que é urgente um cessar-fogo imediato.

“O melhor remédio é a paz”, acrescentou.