O Departamento de Educação britânico anunciou um plano de investimento de 1,4 mil milhões de libras (aproximadamente 1,6 mil milhões de euros) para ser aplicado na recuperação de aprendizagens no Reino Unido nos próximos três anos.

A maior fatia deste financiamento destina-se a providenciar 100 milhões de horas em tutorias destinadas aos estudantes — incluindo seis milhões para crianças desfavorecidas —, havendo também dinheiro alocado para dar formação aos professores e para permitir que estudantes no último ano da escolaridade obrigatória o possam repetir sem consequências.

O plano junta-se assim aos já 1,9 mil milhões de euros anunciados previamente, totalizando 3,3 mil milhões de euros. Parecem valores avultados — e o Governo britânico anunciou-os como tal — mas o plano foi imediatamente recebido com condenação por parte das instituições de ensino, das associações de professores, da oposição e até da própria comissão que o executivo nomeou para avaliar as necessidades educativas do país.

Nomeado comissário da recuperação da educação pelo Governo de Boris Johnson, Kevan Collins demitiu-se do cargo. Porquê? Porque segundo os seus cálculos, eram necessários 13,5 mil milhões de libras (aprox. 15,6 mil milhões de euros) para promover uma recuperação adequada das necessidades educativas durante os três anos estipulados.

Numa declaração — citada pelo Guardian — o ex-responsável disse que o valor anunciado “não chega perto” do necessário e que as ações do Governo “denunciam uma subavaliação da importância do ensino” e que constituem uma “abordagem apática” que “arrisca falhar a centenas de milhares de alunos”. As palavras de Collins encontraram eco nos sindicatos dos professores do Reino Unido e no partido Trabalhista, na oposição. 

Para agravar um plano que já de si parece destinado à impopularidade, o executivo britânico está a equacionar a possibilidade de alargar os horários escolares por mais 30 minutos, sendo que a ideia — criticada pelos sindicatos dos professores — está ainda sob revisão mas “está definitivamente na agenda”, como confirmou o ministro da Educação, Gavin Williamson, à BBC.

O Education Policy Institute, um think tank britânico dedicado à educação, revelou um dado esclarecedor sobre o plano. Estimando que os alunos do ensino primário no Reino Unido terão perdido dois meses de aprendizagem de leitura e três de matemática, os 1,4 mil milhões anunciados representam apenas um investimento acrescido de 50 libras por aluno — ou seja, 58 euros —, no espaço de um ano, ou 310 libras (aprox. 360 euros) ao longo de três anos.

Em comparação, os investimentos feitos em países que já revelaram planos, como os Países Baixos ou os Estados Unidos da América, são muito mais significativos, refere o EPI:

  • Tendo anunciado um plano de 122 mil milhões de dólares (99,8 mil milhões de euros), o Departamento de Educação dos EUA investiu, em média, 1857 euros nos seus alunos;
  • o Governo neerlandês foi bastante mais longe. O seu plano de 8,5 mil milhões de euros significa que 6600 escolas primárias do país receberão uma média de 180.000 euros por escola no próximo ano letivo e as 650 escolas secundárias uma média de mais de 1,3 milhões de euros por escola. Além disso, serão ainda alocados 645 milhões de euros para compensar as instituições que terão de lidar com um maior fluxo de alunos que estiveram parados. Ao todo o investimento será, em média, de 3,830 euros por aluno.

E Portugal, como se enquadra nestas contas?

No dia 1 de junho, o Governo português anunciou — através do seu ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e do primeiro-ministro António Costa — o há muito esperado Plano de Recuperação de Aprendizagens, sob a designação “Plano 21|23 Escola +”.

Destinado a recuperar as aprendizagens potencialmente perdidas nestes dois últimos anos letivos devido à pandemia, o plano prevê um investimento extra de perto de 900 milhões de euros, que inclui 140 milhões para o reforço de recursos humanos nas escolas — o que significará, entre outras coisas, a contratação de mais 3300 professores —, 43,5 milhões para a formação dos professores e não docentes, 47,3 milhões para o aumento dos recursos digitais e 670 milhões para a modernização dos equipamentos e infraestruturas das escolas.

Para já, ainda não se sabe qual a aplicação concreta destes fundos, e o plano ainda será sujeito a aprovação final — o Ministério da Educação vai ainda ouvir os parceiros antes —, mas foi de imediato alvo de críticas no próprio dia da apresentação por parte da Fenprof.

A Federação Portuguesa dos Professores lamentou a falta de propostas claras para combater problemas estruturais e criticou o parco investimento na contratação de pessoal docente. Ainda assim, elogiou a rejeição do Governo em aumentar a carga horária ainda mais.

Quando comparado com os exemplos acima mencionados —do Reino Unido, Países Baixos e EUA —, Portugal fica a meio da tabela. Tomando por base os dados dos alunos no ensino básico e secundário na escola pública referentes a 2019 no Pordata, 900 milhões de euros investimentos por 1.163.413 estudantes significa um investimento em média de aproximadamente 773,59 euros por aluno.