Em 2022, 3,5% da população entre os 15 e os 74 anos era consumidora abusiva ou dependente de álcool, “o que representa, aproximadamente, 259.000 indivíduos”, revela o relatório final do V Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral, Portugal 2022, divulgado hoje pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD).
Através de um questionário com apenas quatro perguntas, os investigadores avaliaram o uso abusivo e dependência de álcool e concluíram que este é um problema que tem vindo a aumentar desde 2012.
Em 2012, estes casos representavam 0,8% da população, tendo subido para 1% em 2017 e agora para 3,5%, segundo o relatório, que mostra que a situação é bastante mais grave entre os homens (5,9%) do que entre as mulheres (1,3%).
O consumo abusivo ou dependente aumenta também com a idade, sendo particularmente expressivo entre os 35 e os 64 anos.
Também aumentaram os episódios de consumos excessivos, conhecidos como “binge”, ou seja, de pelo menos seis bebidas para os homens e quatro para as mulheres, segundo o resultado das entrevistas realizadas entre setembro de 2021 e novembro de 2022.
Uma em cada dez pessoas (10,3%) admitiu ter tido pelo menos um desses comportamentos excessivos no último ano, sendo mais habitual entre os homens e na população entre os 25 e os 44 anos.
Há também mais casos em que os inquiridos ficaram “a cambalear, com dificuldade em falar, a vomitar e ou sem se recordarem do que aconteceu depois de terem bebido”. Mais uma vez, estes são episódios mais comuns entre homens e jovens entre os 15 e os 34 anos.
O estudo mostra ainda que é aos 16 anos que os jovens começam a beber e que mais de metade (59,2%) dos jovens entre os 15 e os 24 anos já consumiu ou consome álcool com alguma regularidade (40% disse tê-lo feito no último mês).
O principal motivo para um consumo frequente é a “sensação e o gosto do efeito provocado pela bebida”, havendo quem associe o álcool à diversão, acreditando por isso que vai “melhorar festas e comemorações” e “tornar os encontros sociais mais divertidos”.
Por outro lado, um quarto da população é abstinente: Entre as mulheres, a taxa sobe para os 35 % e entre os homens desce para os 15 %, revela o estudo que mostra que a percentagem de abstinentes também aumentou 10 pontos em relação a 2017.
Questionados sobre as razões que os levaram a não beber, os inquiridos apontaram como principais motivos a falta de interesse e a consciência sobre as consequências para a saúde.
Estar grávida ou a amamentar ou estar a tomar medicação são outras das justificações.
O relatório apresenta ainda motivos associados à educação e socialização: 26% considerou muito importante ter visto maus exemplos decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas e 23,8% apontou ter sido educado para não beber.
Quase 50% dos abstémios apontaram questões financeiras — ser caro ou ser um desperdício de dinheiro — para não beber.
No entanto, fora deste universo, há 75,8% da população que admite consumir álcool, dos quais 30% o fazem diariamente.
O vinho é a bebida de eleição, seguida da cerveja e das bebidas espirituosas.
É no norte que o consumo é mais elevado: 81,9% dos residentes disse já ter bebido, dos quais 68,5% no último ano e 59,9% no último mês.
As outras regiões com maiores consumos ao longo da vida são o centro (74%), Lisboa e Vale do Tejo (71,7%) e a Madeira (71,2%). Por oposição, o arquipélago dos Açores surge como a região com menor incidência (51,9%).
O inquérito foi realizado pelo CICS.NOVA — Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH) para o SICAD — Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, na sequência dos estudos realizados em 2001, 2007, 2012 e 2017.
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