Madeleine McCann tinha três anos quando desapareceu do quarto onde dormia com os irmãos gémeos, num aldeamento turístico na Praia da Luz, em Lagos, na noite de 3 de maio de 2007.

Passaram 16 anos e Maddie, como é conhecida, nunca apareceu. Em junho de 2020, investigadores alemães afirmaram ter provas de que a menina está morta, associando o caso ao pedófilo Christian Brueckner. Esta semana, as autoridades portuguesas anunciaram que iam ser feitas buscas na barragem do Arade, no distrito de Faro, relacionadas com o desaparecimento.

O que se sabe sobre as buscas?

A PJ iniciou as buscas na terça-feira. Os trabalhos foram acompanhados por autoridades alemãs e inglesas e previa-se que viessem a durar entre dois a três dias, o que se comprovou: foi anunciado esta tarde que as buscas foram concluídas, depois de as autoridades terem começado a desmobilizar no início da manhã de hoje.

"A Polícia Judiciária informa que foram dadas como cumpridas as diligência solicitadas pelas autoridades alemãs, através de um pedido de cooperação internacional, de que resultou a recolha de algum material que irá ser sujeito às competentes perícias", foi referido em comunicado.

Segundo a PJ, "a operação decorreu sobre coordenação da Polícia Judiciária, que envolveu investigadores, peritos de criminalística e pessoal da segurança. Os trabalhos tiveram a participação das autoridades alemãs ( BKA) e contaram com a presença de autoridades britânicas (MPS)".

As autoridades revelam ainda que, "salvaguardados que foram os interesses da investigação ainda em curso em Portugal, o material recolhido será entregue às autoridades alemãs".

Porquê a barragem do Arade?

Esta operação decorreu de uma Decisão Europeia de Investigação (as antigas cartas rogatórias) dirigida pelas autoridades da Alemanha a Portugal e centram-se no local que costumava ser frequentado por Christian Brueckner, suspeito do desaparecimento da menina.

Christian Brueckner, de 45 anos, está a cumprir pena em Kiel (Alemanha) por outro crime. Foi também acusado em outubro do ano passado pela justiça alemã de três crimes de violação e dois de abusos sexuais de crianças em território português, alegadamente cometidos entre 2000 e 2017.

A procuradoria de Brunswick adiantou, no entanto, que as acusações então deduzidas contra Christian Brueckner não se relacionam com o caso do desaparecimento da criança britânica, no aldeamento turístico na Praia da Luz.

O que dizem as autoridades portuguesas sobre Christian Brueckner?

Durante a investigação não surgiram quaisquer depoimentos dos investigadores portugueses. Contudo, Gonçalo Amaral, antigo inspetor da Polícia Judiciária, agora aposentado, que teve em mãos o processo do desaparecimento que aconteceu a 3 de maio de 2007, disse em declarações à Rádio Renascença que considera que o retomar das buscas serve para criar um bode expiatório que nada tem a ver com o caso e que já foi de resto avaliado pela polícia portuguesa.

"É um pouco estranho este orçamento e meios no terreno para esta operação. Pergunto porquê? Para isto é preciso ter fundamentos fortes e não são apenas um simples 'ele estava neste local por isso vamos ali procurar'. Porque não na barragem de Santa Clara a Velha, mais acima, onde ele também ia e era assíduo e havia uma comunidade alemã? Há aqui algo que não funciona", sublinhou.

Amaral também estranha as novas informações e as suspeitas sobre Christiane Bruckner e o envolvimento da Alemanha, questionando todo o processo: "Uma pessoa chegou e disse que este alemão, uma vez num festival no sul de Espanha, lhe confidenciou que era responsável pelo desaparecimento de Maddie. Era um indivíduo que vivia em Portugal, que tinha cometido alegadamente o crime em Portugal, a investigação corria em Portugal, então porque é que os ingleses em vez de remeterem para o nosso país remetem para a polícia alemã?".

Para o ex-investigador, "é desde essa altura que se constrói um perfil em relação a este indivíduo que está detido até por uma violação que aconteceu lá perto (da Praia da Luz), violação que não existiu! Neste caso de violação de 2005 o exame ginecológico realizado no Hospital de Portimão, na noite em que aconteceu o alegado crime, mostra que não houve violação".

"O indivíduo está preso por algo que não existiu. Foram ainda recolhidos na casa da mulher os lençóis, etc... e nada foi encontrado que tivesse vestígios deste alemão", acrescenta.

Por isso, não hesita: "Os pais e os amigos não podem ser responsabilizados e é preciso um bode expiatório e está aqui! Ao fim de oito anos é isto. A investigação alemã quer apenas provar que este indivíduo tem algo a ver com este caso. Com tanto dinheiro o que se podia fazer era a reconstituição do dia 3 maio 2007, com pais e amigos e testemunhas, e isso podia trazer a verdade".

*Com Lusa

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