Recém-chegada de Itália, onde fez parte de uma equipa que esteve a estudar a resistência aos sismos dos edifícios, consoante estão ou não reforçados, a especialista, engenheira civil e professora, visitou o Japão um ano após o sismo de 2011, ainda viu um autocarro no cimo de um edifício, e garante: comparámos a intensidade e o de Lisboa, de 1755, foi maior, teve mais intensidade e o seu impacto atingiu maiores distâncias.
Professora da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, do Instituto Politécnico de Setúbal, Cristina Oliveira diz que o país não está preparado, nem preocupado, com a atividade sísmica, ao contrário de Itália, onde as pessoas estão sensibilizadas e as autoridades preparadas.
No sismo de domingo, disse, as pessoas ainda não tinham regressado a casa, estavam a dormir nos automóveis. E depois também não é permitido voltar a ocupar as casas sem que os bombeiros, altamente especializados, façam uma vistoria.
Lembrou a professora que Portugal tem regulamentação antissísmica desde 1958, que tem vindo a ser aperfeiçoada, mas não se sabe como estão os edifícios anteriores.
“As casas deviam ser revistas de tempos a tempos, mas nada é feito. No ano passado foi publicada legislação que é praticamente ignorada, porque diz que, na recuperação de prédios, não se pode diminuir a resistência sísmica existente. Mas não obriga a reforço. E se não tiver resistência nenhuma também nada acontece”, diz à Lusa.
Com o panorama português, os investigadores pensam que “vai ter de haver uma desgraça para que as coisas mudem” e gostariam de evitar isso, porque um sismo como os de Itália seria “devastador”, tanto mais que a localização geográfica do país, alerta a professora, admite sismos de intensidade inimaginável.
Itália tem sempre sismos de magnitude mais baixa porque está sob influência de uma falha dentro da placa tectónica, Portugal está sob influência de uma zona de subdução (a sul do Algarve), de convergência de placas, onde uma se infiltra debaixo de outra e a pressiona, levando a sismos quando a tensão é demasiada e há um ressalto.
“Há sempre uma tensão, só não sabemos quando é libertada. Mas historicamente, de 200 em 200 anos, há grandes sismos em Portugal”, diz.
Mas diz também que da “lição” de 1755 restaram apenas duas frases (“resvés Campo de Ourique” e “cair o Carmo e a Trindade”) e que os portugueses não estão preparados nem alertados, nem preocupados, e não sabem como se comportar perante um sismo.
E não sabem que há o risco, real, de 1755 se repetir e de nomeadamente em Lisboa só zonas mais recentes “se aguentarem”. Há 261 anos, a esta hora, ninguém diria que ia acontecer. Mas aconteceu.
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