"Acabei de presidir a uma reunião com o gabinete e acordámos que o Governo deve pedir eleições antecipadas, a terem lugar a 8 de junho". Foi desta forma que a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou, na manhã desta terça-feira, em frente ao número 10 de Downing Street a marcação de eleições gerais antecipadas para o início de junho deste ano, três anos antes do que estava previsto.

"Precisamos de eleições gerais e precisamos disso já. E temos neste momento a hipótese de o fazer acontecer", disse a líder do Governo britânico.

Conta o jornal britânico The Guardian, na sua edição online, que May confessou que estava "relutante" em pedir eleições antecipadas, mas que irá disputar este sufrágio com determinação.

May justificou a decisão com base do desacordo que tem sido expresso entre os vários partidos acerca dos planos de saída do Reino Unido da União Europeia. No discurso, a primeira-ministra justificou estas eleições gerais antecipadas com a necessidade de estabilidade. "O país está a unir-se mas Westminster [Parlamento britânico] não", disse.

"A única maneira de garantir alguma certeza e segurança para os próximos anos é através de eleições antecipadas", continuou May.

A notícia ganhou um carácter surpreendente depois da líder dos conservadores ter sublinhado, na sua tomada de posse, que não haveria nenhuma eleição durante o seu mandato, palavras essas reafirmadas na mensagem de Natal difundida em dezembro do ano passado.

A moção para uma chamada às urnas antecipada será apresentada amanhã, quarta-feira, na Casa dos Comuns. Para que a moção seja aprovada, e que haja eleições antes de 2020, ano em que estavam previstas novas eleições, é necessário um consenso entre 2/3 do Parlamento britânico.

Esta proposta de eleições antecipadas acontece menos de um mês depois de o Reino Unido notificar formalmente a União Europeia da ativação do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, que determina o processo de saída da União Europeia.

Ao formalizar a saída, Theresa May escreveu uma carta que detalha os termos da separação e as principais preocupações dos britânicos. Uma missiva que entrará para a história e que poderá ler aqui.

Leia aqui discurso de Theresa May na íntegra:

"Acabei de presidir a uma reunião com o gabinete e acordámos que o Governo deve pedir eleições antecipadas, a terem lugar a 8 de junho. E quero explicar as razões para esta decisão e para aquilo que acontecerá a seguir e a escolha com que se depara o povo britânico quando votar nestas eleições.

No último verão, depois de o país votar para sair da União Europeia, o Reino Unido precisava de estabilidade e de uma liderança forte, e desde que me tornei primeira-ministra o Governo serviu exatamente isso.

Apesar das previsões de risco económico e financeiro imediato, desde o referendo que vemos as confianças dos consumidores a manter-se alta, tivemos um número recorde de empregos e o crescimento económico superou todas as expectativas. Também levámos a cabo aquilo que foi determinado pelo resultado do referendo. O Reino Unido vai sair da União Europeia e não há como voltar atrás.

Olhando para o futuro, o Governo tem o plano para renegociar a nova relação com a Europa. Queremos uma parceria profunda e especial entre uma União Europeia forte e de sucesso e um Reino Unido que é livre para decidir o seu próprio rumo. Tal significa voltar a ter controlo do nosso dinheiro, das nossas terras e das nossas fronteiras e seremos livres para fazer acordos comerciais com parceiros antigos e com parceiros novos em todo o mundo.

Esta é a abordagem certa e é do interesse nacional, mas os outros partidos políticos opõe-se. Neste momento de grande importância para a nação, deveria haver união em Westminster, mas em vez disso há divisão. O país está a unir-se, mas Westminster não.

Nas recentes semanas o Partido Trabalhista ameaçou votar contra o acordo que alcançámos com a União Europeia. Os democratas liberais disseram que querem limitar a ação do Governo paralisando-o. O Partido Nacional Escocês disse que vai votar contra a legislação que formalmente termina com a participação britânica na União Europeia, e os membros não eleitos da Casa dos Lordes comprometeram-se a lutar contra o Governo em todas as etapas.

Os nossos opositores acreditam que porque a maioria do Governo é pequena, a nossa determinação irá enfraquecer e que nos forçarão a mudar de caminho. Estão errados. Eles subestimam a nossa determinação de o trabalho ficar feito e eu não estou preparada para lhes permitir que coloquem em risco milhões de trabalhadores em todo o país.

Ao fazê-lo colocam em risco o trabalho que temos de fazer para preparar o Brexit e enfraquecem a posição do Governo nas negociações com a Europa. Se não tivermos uma eleição geral agora, os seus jogos políticos vão continuar e as negociações com a Europa vão atingir o seu ponto crítico em tempo de campanha para as próximas eleições [2020].

As divisões em Westminster estão a colocar em risco a nossa capacidade de fazer do Brexit um sucesso, e vão causar incerteza e instabilidade.

Precisamos de eleições gerais e precisamos disso já. Porque temos a oportunidade única para o fazer enquanto a União Europeia acorda a sua posição nas negociações e antes das conversações detalhas começarem.

Apenas recentemente, eu, relutantemente, cheguei a esta conclusão. Desde que me tornei primeira-ministra disse que não deveriam existir eleições até 2020, mas agora conclui que a única forma de garantir estabilidade para os anos vindouros é levar a cabo estas eleições e procurar o vosso apoio para as decisões que preciso de tomar.

Levarei uma moção à Casa dos Comuns, pedindo eleições antecipadas para o dia 8 de junho. A moção irá requerer uma maioria de dois terços da Casa dos Comuns. Então tenho um desafio simples para a oposição: aqueles que criticam a visão do Governo para o Brexit, que desafiaram os nossos objetivos, que ameaçaram bloquear a legislação que colocamos diante do Parlamento… este é o vosso momento para mostrar o que realmente querem dizer, para mostrar que tratam a política como um jogo.

Votemos todos amanhã a favor das eleições, vamos colocar em marcha os nossos planos para o Brexit e um programa alternativo de governo, deixemos as pessoas decidir.

A decisão com que o país se depara será sobre liderança. Será uma escolha entre uma liderança estável e forte, com o foco no interesse nacional e comigo como vossa primeira-ministra, ou um governo de coligação enfraquecido liderado por Jeremy Corbyn, apoiado pelos democratas liberais que querem reabrir as divisões do referendo e por Nicola Sturgeon e o Partido Nacional Escocês.

Cada voto para os conservadores tornará mais difícil as políticas da oposição que querem impedir-me de fazer o meu trabalho. Cada voto pelos conservadores tornar-me-á mais forte quando negociar com os primeiros-ministros, presidentes e chanceleres da União Europeia. Cada voto pelos conservadores significa que nos podemos manter fieis ao nosso plano para um Reino Unido mais forte, e tomar as decisões certas de longo prazo para um futuro mais seguro.

Foi com relutância que decidi que o país precisa destas eleições, mas é com grande convicção que digo que são necessárias para garantir a liderança forte e estável que o país precisa para o Brexit e para o futuro. Então, amanhã, que a Casa dos Comuns vote favoravelmente a eleição, deixemos todos colocar em cima da mesa as suas propostas para o Brexit e os seus programas de governo, e retiremos o risco da incerteza e da instabilidade e continuar a dar ao país a liderança forte e estável que este exige".