Depois de António Costa e Graça Freitas, Tiago Brandão Rodrigues foi a mais recente figura de relevo a ser convidada para o programa de Cristina Ferreira, na SIC, no âmbito da atual pandemia da Covid-19.

"Estamos todos a adaptar-nos, é preciso muita humildade num momento como este. Quem disser que está completamente preparado para tudo isto que aconteceu sem prévio aviso, sem a preparação [está a mentir]", começou por dizer o ministro da Educação, referindo que o próprio programa da SIC teve de se preparar "de um momento para o outro".

A conversa começou por abordar a questão da reabertura das creches, local onde "começa o percurso escolar" das crianças.

"Dizem os epidemiologistas, quem sabe de saúde pública e todos os cientistas que têm estudado esta pandemia global que efetivamente as crianças mais pequenas são aquelas que são menores transmissores deste novo coronavírus. Obviamente que é importante também irmos retomando a normalidade, mas sempre com todos os cuidados", começou por explicar Tiago Brandão Rodrigues.

"Nós temos uma pirâmide de organização social e familiar muito diferente dos outros países, sabêmo-lo bem, mas também é importante podermos começar a abrir este confinamento. Todos sabemos que isto tem de acontecer. Quando se fala de termos um problema de saúde pública, também temos paralelamente um problema social, um problema familiar e da economia. Parece que estamos a falar da economia dos grandes bancos, das grandes empresas, mas a economia é a das nossas pessoas", disse o ministro, referindo como exemplos "o pequeno negócio familiar, o restaurante do nosso vizinho, eu que sou contabilista e tenho de chegar às pessoas e poder ir visitar os meus clientes".

"E sabemos que o que aí vem, não a nível de saúde pública mas nesse outro problema [e economia] tem muitas outras implicações", afirmou.

No que diz respeito às educadoras, que têm de adaptar também o seu trabalho nesta fase, Tiago Brandão Rodrigues referiu em primeiro lugar as opções do estrangeiro, partindo depois para o exemplo português.

"Muitos dos países optaram por nem fechar. Como se sabe, muitos dos países nórdicos e do centro da Europa nunca fecharam nem as creches nem os jardins de infância", com crianças dos zero aos seis anos.

"Em Portugal nós optámos por fazê-lo em todos os níveis de ensino. O que está em cima da mesa é uma avaliação criteriosa, com muita ponderação, com muito rigor, tendo a saúde pública e o risco como grande norteador das nossas decisões", explicou.

Questionado sobre a possibilidade de os pais poderem escolher se os filhos retomam ou não o ensino presencial, o ministro começou por frisar que "os pais que têm crianças até aos 12 anos têm tido ajudas para poderem ficar em casa".

"Tudo isso está agora em decisão. Esta próxima semana é absolutamente fundamental", reforçou, relembrando que será na próxima quinta-feira, dia 30, que vão ser anunciadas as medidas a considerar.

Tempos de provação e de descoberta de "planos de ensino à distância"

Tiago Brandão Rodrigues referiu ainda que estes últimos tempos "têm sido uma provação" para todos, lembrando o "diálogo constante, as pontes constantes que as famílias tiveram de fazer com os diretores de turma, com o professor titular" e ainda o esforço das escolas, que têm de se adaptar.

"Temos séculos de ensino presencial, em que estávamos habituados a estar numa sala de aula. Até naquela velhinha telescola estava sempre lá alguém. É verdade que pela caixinha mágica chegavam os conteúdos, mas eles tinham um professor monitor em sala de aula, o contexto era muito diferente", disse.

Agora, os alunos estão em casa, não estão sozinhos mas não têm exatamente um professor ao lado. "Não nos podemos esquecer de outra coisa: nós sabemos que os pais estão também no seu teletrabalho", referiu Tiago Brandão Rodrigues. Todavia, um corte abrupto com a escola não seria aconselhável.

"Nós temos aqui vários quadros possíveis. Imaginemos que tínhamos dito, na interrupção letiva da Páscoa, que a partir de agora não há mais escola. Íamos ter mais três meses — que é o que falta aproximadamente para concluir o ano — de férias grandes, de férias de verão. Sem nenhum tipo de aprendizagem, sem nenhum tipo de monitorização por parte da escola. Sem nenhum contacto com os seus colegas e os seus professores. Imaginemos a fractura que isto seria, o quão catastrófico isto seria na aprendizagem. Recuaríamos, principalmente nos níveis mais baixos, que têm muita dificuldade", precisou.

"Sabemos que os pais estão completamente cheios de trabalho, sabemos que muitas vezes estão sob pressão com o seu teletrabalho e com, desculpem a expressão, o teletrabalho dos seus filhos. É importante nós sabermos seguir [em frente]", avançou.

O ministro da educação confessou ainda ter noção da carga de trabalho "exagerado, exacerbado" que os professores enviaram aos alunos nas semanas anteriores à Páscoa. Contudo, "as coisas foram-se compondo, as escolas puderam construir os seus planos de ensino à distância".

Sobre a ação do próprio Ministério, Tiago Brandão Rodrigues disse que esse tempo serviu também para criar o #EstudoEmCasa, "para servir de complemento", uma vez que ainda existem crianças e jovens que "infelizmente não têm acesso aos meios" informáticos, referindo por sua vez a "sociedade que é desigual, onde nem toda a gente tem a possibilidade de dizer 'se a escola não tratar no meu filho, eu tenho aqui todas as valências para o fazer'".

"Esta [a telescola] era a solução possível. Num momento como este, criar soluções possíveis é algo que temos de combater numa situação que é praticamente impossível. Esta não é a solução ideal. É situação possível, em que todos colaborámos", frisou, deixando uma palavra de apreço às escolas e aos pais.

"Todos nós temos amigos que, a determinado momento, sentiram que isto era uma verdadeira avalanche que caía por cima das sua casas. Não sabiam como é que iam estar confinados, como é que iam cuidar dos seus, como iam trabalhar", disse.

Sobre a ação das escolas, o ministro frisou que esta tem sido "notável", que têm sido "inexcedíveis a trabalhar para que o bem-estar das crianças possa acontecer" nesta fase, reconhecendo também que as expectativas estão sempre muito elevadas.

"Queremos soluções absolutamente maravilhosas, eficazes e imediatas. Às vezes acontece nas séries de televisão, no mundo do incrível e do bizarro, mas não na vida real".

Pôr a telescola a funcionar

Sobre o #EstudoEmCasa, Tiago Brandão Rodrigues começou por explicar que, embora os professores "não quisessem isto para a vida deles, foram os primeiros a dizer 'presente' e a dizer 'estamos aqui'. Tudo surge numa semana e logo de seguida temos de estar a gravar".

"Temos de ter conteúdos, não nos podemos esquecer que temos aulas desde as nove da manhã até às seis da tarde. É um conjunto enorme de horas para produção televisiva", frisou.

Para colocar o plano em marcha, o Ministério da Educação contactou um conjunto de escolas que habitualmente trabalha com a Direção-geral da Educação. Foram seis escolas públicas, duas privadas e a Ciberescola (essencialmente para o estudo da língua portuguesa como língua não-materna) que permitiram que tudo andasse.

"As escolas vieram até nós com os seus professores, que trabalham lá todos os dias, que têm projetos educativos e notáveis, e construiu-se, em conjunto com a Direção-geral da Educação, um guião para cada um dos blocos temáticos. Estes blocos temáticos têm 30 minutos e tiveram de ser gravados de seguida", sem cortes ou edições. "Exatamente como acontece na sala de aula, o professor improvisa", reforçou.

Contudo, não ter os alunos presentes é também um desafio, uma vez que não é possível "perguntar como foi o dia, como estão no início da aula, perceber as dúvidas". Para ajudar no processo com as câmaras, "vão acendendo umas luzes" para onde os professores têm de olhar, utilizando também "ferramentas" que por vezes já utilizavam para "cativar em blocos pedagógicos que são de largo espectro", uma vez que incluem conteúdos de vários anos.

"É impossível a professora de Ciências da Natureza acertar no preciso ponto em que estavam todas as escolas", exemplificou. "No fundo, tem de ser um conjunto de conteúdos pedagógicos que possam reafirmar o que já acontecia, que possam recordar [a matéria] ou que possam dar novos conteúdos e novas aprendizagens".

Sobre a utilização da RTP Memória para o efeito, o ministro referiu que foi necessário "encontrar um canal que estivesse em todas as plataformas de televisão, para que ninguém ficasse para trás", sendo que os únicos possíveis eram "os sete canais que estão da Televisão Digital Terrestre [TDT]".

"Muita gente, fora das grandes cidades, mas mesmo aí, só tem TDT. E essa só tem sete canais", reforçou, dizendo que também poderia ter sido repartido por vários canais, opção que foi descartada porque "muitas vezes em casa só há uma televisão e não dá para puxar para trás", o que dificultava no caso de várias crianças e exigia uma grelha sequencial para que todos pudessem ver.

No que diz respeito às reações de pais e alunos, o ministro frisou que têm sido "muito positivas", embora haja de tudo na internet. "Obviamente que depois as redes sociais fazem o seu trabalho e aquilo depois é um rastilho. Todos opinamos, muitas vezes detrás de um nome que não é o nosso e que nos dá liberdade de dizermos tudo".

Apesar de haver esta possibilidade do #EstudoEmCasa, Tiago Brandão Rodrigues admite que aquilo que ainda acontece um pouco por todo o país é o contacto direto com as escolas. "Mas muitos professores estão a utilizar esta hashtag porque sentem que é mais um material, mais um recurso, mais uma ferramenta", que está disponível "no mundo inteiro e para todas as idades", através do recurso à RTP Play, também com links para fichas e actividades.

"Não é só aquela meia hora, existe trabalho posterior", afirmou.

À frente do computador das nove às cinco? Cada caso é um caso

Sobre os diferentes métodos utilizados para dar continuidade às aulas, o ministro da Educação referiu que as escolas têm "encontrado soluções não tão exaustivas", para que as crianças e jovens não tenham de estar frente ao computador "das nove às cinco".

"Há aqui um processo de adaptação constante. As escolas estão também a auferir constantemente aquilo que se adapta ao contexto. As famílias e as escolas têm de ter compreensão mútua, têm de criar pontes e limar arestas", explicou.

"São as escolas, principalmente os professores, que têm sido os artífices de tudo isto".

Contudo, as escolas não podem perder autonomia. "Pensar que uma escola em Mafra, uma escola no centro de Lisboa ou uma escola em Paredes de Coura vão ter o mesmo contexto para aturar exatamente da mesma escola seria absolutamente impensável", exemplificou Tiago Brandão Rodrigues. "Não estamos a trabalhar no contexto turma, estamos a trabalhar no contexto aluno. Mais do que pensar a sua turma, cada professor tem um trabalho complexo — e por isso tão notável — de pensar cada um dos seus alunos, com as suas dificuldades e o seu contexto".

Dizendo que "a escola é um elevador social", Tiago Brandão Rodrigues referiu ainda que "quando se entra na sala de aula [os alunos] são todos iguais. Agora em casa não, infelizmente sabemos que o contexto é diferente, o meio onde se movem é diferente e o professor tem de se adaptar". Neste sentido, fala-se neste ano letivo mas prepara-se já o próximo.

O que ainda aí vem e as desigualdades que se fazem sentir

Sobre o futuro, dizendo não responder resguardado num "taticismo político", o ministro da Educação reforçou a importância da próxima semana, em que se fica a saber se o estado de emergência é ou não levantado.

"Muita gente começou a perceber porquê que a matemática é tão importante para nos protegermos. De repente temos um mundo a olhar para a matemática como sendo absolutamente fundamental para salvar vidas, o que também é uma lição para muitos de nós", brincou, fazendo referência à observação da curva epidemiológica e a quem não percebia a importância da matemática.

No que diz respeito ao regresso às aulas, não existe para já qualquer alteração. "Todos os anos do Básico não voltarão, o 10.º ano não voltará e, relativamente ao 11.º e ao 12.º dissemos sempre 'se e quando'. Se voltarem terá de ser decidido durante a próxima semana e quando voltarão também", assegurou, especificando que não voltam "para todas as disciplinas, mas para aquelas em que vão ter exames nacionais", sendo que os alunos tiveram cinco períodos presenciais e apenas um à distância com a matéria que poderá sair nas provas.

"Vamos ter um conjunto de itens que pode ser selecionado [nos exames]. Sete em dez itens, para que ninguém seja prejudicado, se eventualmente não teve uma das partes da matéria. Obviamente que este é um trabalho de aproximação que estamos a fazer para mitigar as diferenças".

"Estamos a tentar mitigar toda e qualquer possibilidade de que existam desigualdades num mundo em que as desigualdades se agudizam. As desigualdades que já conhecíamos são, numa situação como esta, muito mais complicadas", referiu o ministro, dando o exemplo das refeições asseguradas pela ação social escolar desde o início da pandemia. "Começámos com 2 mil alunos a irem todos os dias às nossas cantinas e já estão a ir quase todos os dias 11 mil alunos buscar [comida] num serviço de take-away para levarem para casa. Mostra já a necessidade que as pessoas começam a passar".

Quanto às regras a nível prático para o regresso, nomeadamente na constituição das turmas nas salas de aulas, Tiago Brandão Rodrigues referiu que tal "tem de ser trabalhado com as autoridades de saúde", no seu devido tempo, dizendo, no entanto, que "tudo o que tem sido feito tem sido para acautelar todas as contingência, todos os preparativos, sempre com a garantia de que a saúde individual e coletiva é o mais importante".

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.