“Só em Lisboa ajudamos entre 50 a 70 pessoas por semana”, acrescentou o voluntário do grupo de ajuda alimentar, em declarações à Lusa, no domingo, no final do concerto do músico The Legendary Tigerman, que se juntou à “causa” da União Audiovisual.

O Village Underground, em Lisboa, acolheu o concerto – para o qual não se pagava entrada, mas se pedia contribuições alimentares, que depois vão ser distribuídas pela União Audiovisual aos mais necessitados.

Ricardo Queluz refere que é “a meio do mês” que recebem mais pedidos e assinala que, neste momento, estão “a ter um bocadinho menos de ajuda”, admitindo que possa ter a ver com o período de férias, mas também com algo que já antecipavam: alguns dos que têm ajudado podem agora não estar em condições de o fazer ou até de estarem, eles próprios, a precisar de ajuda.

Isto porque estamos a falar de uma área – a da cultura, artes e espetáculos – onde proliferam os “trabalhadores independentes”, que têm trabalho num mês e no seguinte já não, mas que, como todos os outros, precisam de “trabalhar para sobreviver e pagar as contas”, vinca Ricardo Queluz.

“No início tivemos muita gente a ajudar, (…) muitas semanas de grande suporte das pessoas”, realçou.

À saída do concerto, um músico-técnico-fotógrafo comentava a sorte que tinha tido de poder levar a família para uma quinta na zona de Aljezur. Estava de regresso a Lisboa por um dia e “para um só trabalho, ‘o’ trabalho”. De resto, “tudo foi cancelado”.

“As pessoas agora começam a ter noção de que o espetáculo não é só o artista e o artista não é só aquela pessoa que aparece na revista ou num jornal. Isto envolve muito trabalho, mais dias de trabalho do que só aquela hora/hora e meia em que o artista está no palco”, destaca Ricardo Queluz.

A União Audiovisual dá apoio a técnicos de espetáculos, artistas, maquilhadores, cabeleireiros, catering, produtores, encenadores, entre outros envolvidos no setor da Cultura.

De acordo com a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), desde meados de março e até ao final de abril foram cancelados, suspensos ou adiados cerca de 27 mil espetáculos.

Um inquérito promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, Audiovisual e Músicos (Cena-STE), divulgado no início de abril, dá conta de que 98% dos trabalhadores de espetáculos tiveram trabalhos cancelados, 33% dos quais por mais de 30 dias.

Para as 1300 pessoas que responderam ao questionário, as perdas por trabalhos cancelados representaram dois milhões de euros, apenas para o período de março a maio.

A ideia de criar um grupo de entreajuda no Facebook surgiu em março, quando a pandemia se instalou e o setor paralisou. “Dois, três dias depois, já tinha seis mil pessoas” aderentes, recorda Ricardo Queluz, contando que chegaram a receber donativos em dinheiro, mas optaram depois por aceitar bens alimentares apenas.

A União Audiovisual criou uma estrutura para fazer as recolhas e as entregas dos cabazes alimentares. O grupo foi criado “só para este efeito” e, “quando esta crise acabar”, também “irá terminar”, frisou Ricardo Queluz.

Até meados de maio, a crise no setor da Cultura tinha dado origem a pelo menos dois grupos de ajuda alimentar, que começaram por Lisboa, mas criaram depois núcleos no resto do país. Para além da União Audiovisual, também o nosSos (projeto de ajuda alimentar que pode ter duas leituras "Nós S.O.S." e "Nossos"), promovido pela companhia de teatro Palco 13, faz entregas semanais.

Quem quiser ajudar, ou precisar de ajuda, pode contactar estes grupos usando a Internet. A União Audiovisual tem um grupo no Facebook, que é fechado, mas basta pedir para aderir, bem como um site. O "Nossos" está presente neste site, e também no Facebook da Palco 13.