João Gomes Cravinho visitou hoje o 9.º contingente nacional, destacado na base militar “Grã Capitan”, no campo de treino de Besmayah, a cerca de 50 quilómetros da capital iraquiana, Bagdad.

O contingente de 30 efetivos, três dos quais mulheres, participa no treino e formação das forças iraquianas no quadro da operação “Resolução Inerente”, da coligação internacional contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), liderada pelos Estados Unidos.

A situação referida fazia parte do treino de combate que elementos da Polícia Federal iraquiana estão a receber das forças portuguesas.

Noutra zona do campo de treino, a capitão Marisa Cardoso dava instrução sobre “progressão no terreno de secções de combate” a um outro grupo de iraquianos, sentados no chão à sua volta.

Chefe de uma das equipas de formação às forças iraquianas, a capitão Cardoso, na sua primeira missão internacional, disse aos jornalistas que sempre foi algo que ambicionou fazer.

“Até agora tem sido uma experiência extremamente positiva”, declarou a militar, cujo contingente chegou ao Iraque em abril, partindo em outubro.

Apesar das diferenças culturais entre Portugal e o Iraque, classificou de “completamente normal” o modo como os iraquianos encaram as suas instruções.

“A princípio acham um bocadinho estranho, o primeiro e segundo dia, mas depois rapidamente se adaptam e cumprem comigo como fazem com os outros”, afirmou a militar portuguesa, adiantando que os seus instruendos têm até “mais cuidado em termos de postura”.

Outro instrutor dava indicações em inglês, que eram depois traduzidas, a um grupo que treinava “tiro a seco” com AK47, para saber os procedimentos a seguir na carreira de tiro.

“Levanta a arma, dispara, baixa, patilha de segurança”, enumera o militar português após um inicial recurso ao apito.

Depois na carreira de tiro, com os alvos a cerca de 25 metros, uns acertam e outros não. Este grupo de iraquianos teve duas semanas de treino de um total de nove.

A rotina de treino inclui acordar às 04:00 porque a principal dificuldade do contingente no Iraque são “as condições climáticas” com a temperatura “normalmente acima dos 45 graus”, explicou o comandante da instrução na base, capitão João Vestia Dias.

O treino é feito às primeiras horas do dia e muito à tarde ou à noite. Hoje foram atingidos os 48 graus, praticamente sem humidade.

“Temos uma boa relação com os iraquianos e tem corrido muito bem”, disse Vestia Dias.

“Os iraquianos enquanto alunos são muito parecidos com os portugueses, (…) somos pessoas humildes, genuínas (…) acatam bem o que nós temos para transmitir, também não temos uma forma de estar autoritária, estamos aqui para ajudar”, adiantou.

Vestia Dias não nega que não haja riscos, referindo que “o Iraque é um país volátil” e que “pode haver um ataque”, mas refere um processo “para evitar infiltrados” e garante: “estamos preparados”.

“Neste momento estamos num ambiente seguro para dar formação”, afirma.

O treino é dado fora da base e as carrinhas com o ministro e a comitiva que se deslocaram ao local foram acompanhadas por viaturas blindadas com equipas de segurança, à frente e à retaguarda. Todos os visitantes estavam equipados com coletes antibala e capacete.

Cautelas não faltam. Os dois helicópteros Puma que transportaram o ministro e a sua comitiva entre o aeroporto de Bagdad e a base, durante a viagem de ida dispararam por precaução ‘flares’, fontes de calor utilizadas para desviar mísseis eventualmente disparados contra os aparelhos.

O comandante do 9.º contingente português, o major André Barros, disse aos jornalistas que os militares “estão motivados” e elogiou a formação que receberam em território nacional e os laços de camaradagem criados.

Antes, elementos da força portuguesa tinham cantado os parabéns ao primeiro-sargento Vítor Moreira, que fez 35 anos na sua quarta missão internacional, depois de uma experiência em Timor-Leste e duas no Afeganistão.

O capitão Gabriel Batista disse que foi com a ajuda dos companheiros que enfrentou o “momento emocional delicado” de aguardar o nascimento da sua filha a muitos quilómetros de distância de casa.

Já estava em preparação para a missão no Iraque quando a mulher engravidou. A bebé tem 12 dias e “está em casa com a mãe e ótima”, contou aos jornalistas.

“Estamos cometidos com a missão e está a correr muito bem”, declarou o major Barros.

Admitindo que a organização extremista Estado Islâmico “continua a ser uma ameaça global”, sublinha que Portugal apoia com esta força destacada a luta contra o grupo radical.

Desde 2015, já passaram por Besmayah cerca de 290 militares portugueses, em rotação a cada seis meses e desde novembro do ano passado, as forças portuguesas deram instrução a mais de 2.000 elementos do exército e da polícia federal iraquiana.

André Barros assinala ainda que a base de “Grã Capitan” está no deserto, ou seja, “tem um perímetro de segurança fantástico”, adianta.