“Títulos de propriedade, registos bancários e correspondência mostram que uma família cazaque acusada de branquear centenas de milhões de dólares roubados comprou apartamentos de luxo numa torre de Manhattan parcialmente pertencente ao Sr. Trump e envolveu-se em grandes empreendimentos comerciais com um dos sócios do magnata”, noticiou hoje o FT.
A juntar às provas encontradas pelo jornal internacional de língua inglesa está o facto conhecido de Trump, após ter sofrido uma série de falências que fizeram com os que os bancos não lhe quisessem emprestar mais dinheiro, andar em permanente busca de sócios dispostos a financiar os edifícios que ostentam o seu nome.
O FT refere que “ao longo dos anos, o candidato presidencial norte-americano reuniu uma coleção eclética de financiadores e colaboradores, alguns com passados duvidosos, com ligações ao crime organizado ou a esquemas fraudulentos”.
“Mas talvez o maior risco para o complexo e por vezes opaco império empresarial do Sr. Trump era que fosse utilizado para um fim que as autoridades norte-americanas temem se tenha generalizado no setor imobiliário do país: a lavagem de dinheiro sujo”, escreve o FT.
Num momento em que Trump é candidato à Casa Branca, estas revelações levantam questões sobre que medidas adotam as suas empresas para garantir que os fundos que por elas passam são limpos, sublinha-se no texto.
Em janeiro deste ano, a então diretora do Departamento de Combate a Crimes Financeiros norte-americano, Jennifer Shasky Calvery, alertara que “autoridades estrangeiras corruptas ou criminosos transnacionais poderiam estar a usar o setor imobiliário de topo norte-americano para investir secretamente milhões de dinheiro sujo”.
Um ex-diretor de uma construtora que trabalhou com Trump acusou-o de “esquecimento intencional” quanto a pormenores sobre os negócios dos seus sócios. Mas um porta-voz da Trump Organization veio declarar que efetuava “extensas” verificações de antecedentes dos seus parceiros, contratando inclusive, para tal, investigadores externos.
Um desses sócios, a Bayrock, já antes tinha sido fonte de controvérsia, mas agora os pormenores da sua associação à família de Viktor Khrapunov, um ex-ministro da Energia do Cazaquistão e ex-presidente da câmara da cidade de Almaty, mostram que a Bayrock estava envolvida num alegado esquema de lavagem de dinheiro ao mesmo tempo que colaborava com Trump.
Advogados de Almaty disseram num tribunal norte-americano em março que Khrapunov e a sua família “conspiraram para saquear sistematicamente centenas de milhões de dólares de ativos públicos e para branquear os seus ganhos ilícitos através de uma complexa rede de contas bancárias e empresas de fachada, particularmente nos Estados Unidos”.
Viktor Khrapunov, que agora vive na Suíça, diz que está a ser atacado por se opor ao homem para quem trabalhava, o Presidente Nursultan Nazarbayev, o dirigente autoritário do Cazaquistão desde 1989, e os seus defensores afirmam que a fortuna da família Khrapunov vem do êxito nos negócios, não de desvio de fundos.
Segundo os especialistas, as leis que regulam os negócios imobiliários nos Estados Unidos são insuficientes, e as disposições contra o financiamento do terrorismo da Patriot Act, aprovada na sequência dos atentados do 11 de Setembro de 2001, obrigaram as entidades de crédito à habitação a realizar investigação do tipo “conheça o seu cliente”.
“Mas quem lava dinheiro paga em dinheiro, e transações como as dos apartamentos Trump Soho passaram por essa brecha, que só foi parcialmente colmatada este ano”, refere o FT.
Em janeiro, os Estados Unidos lançaram um programa piloto concebido para identificar os reais proprietários das empresas fachada usadas para comprar imóveis de luxo em Manhattan e Miami e, em julho, as autoridades indicaram que as novas regras corroboravam as suspeitas de que “aquisições em dinheiro de imóveis de luxo para habitação por uma entidade legal são altamente vulneráveis a abusos para lavagem de dinheiro”.
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