Espera-se que mais de 200 jornais publiquem editoriais, esta quinta-feira, 16 de agosto, para salientar a necessidade de independência da imprensa. Nas redes sociais, o hashtag de referência é #EnemyOfNone (#InimigoDeNinguém).
A iniciativa partiu do jornal "The Boston Globe" e acontece num momento particular: o presidente norte-americano multiplica os ataques contra a imprensa, classificando regularmente de "Fake News" (notícias falsas) qualquer informação publicada pelos veículos de comunicação que lhe possam desagradar. E Trump também ganha do "mainstream" da imprensa o apelido de "inimigo".
Nesse sentido, o "Boston Globe" convoca todas as redações do país a escreverem e publicarem editoriais para denunciar "uma guerra suja contra a imprensa livre".
Para os defensores da liberdade de imprensa, esta retórica do presidente dos Estados Unidos ameaça o papel de poder compensatório dos media e põe em risco a Primeira Emenda constitucional.
Uma iniciativa limitada
"Não acho que a imprensa possa ficar de braços cruzados e sofrer. Tem que se defender, quando o homem mais poderoso do mundo tenta minar a Primeira Emenda", defende Ken Paulson, ex-editor do jornal "USA Today" e diretor do centro "First Amendment Center", no Newseum, o museu do Jornalismo situado em Washington. Este ameniza, porém, o alcance da iniciativa: "As pessoas que leem editoriais não precisam ser convencidas". "Não são elas que tentam gritar durante as reuniões presidenciais", afirmou Paulson, referindo-se ao frio acolhimento dado, com frequência, aos jornalistas da Casa Branca - como no caso da rede CNN.
Para Paulson, no clima atual, os veículos de comunicação social devem desenvolver uma campanha de marketing mais ampla para salientar a importância da liberdade de imprensa como valor central.
Os partidários do presidente veem, porém, outra razão para formular críticas.
"Os meios de comunicação fazem um ataque deliberado público e mais ainda contra Donald Trump" e contra "metade do país que o apoia. E os veículos perguntam-se porque é que pensamos que são notícias falsas?", escreveu Mike Huckabee, ex-governador republicano e colunista do canal conservador Fox News.
Para James Freeman, colunista do prestigioso "The Wall Street Journal", jornal especializado em Economia e propriedade do magnata Rupert Murdoch - um aliado do presidente -, esta iniciativa "provavelmente não é a melhor maneira de ampliar o número de leitores entre os eleitores de direita".
Resistência e valores
Para os defensores da imprensa, porém, o que está em jogo é importante demais para permitir a escalada retórica do presidente.
Alguns acreditam que os comentários de Donald Trump provocaram ameaças contra jornalistas que cobriam os seus eventos e também podem criar um clima de hostilidade que abre as portas para ataques violentos, como o que aconteceu contra a sede do jornal "The Capital", em Annapolis, Maryland, no final de junho. No episódio, cinco pessoas foram assassinadas por um atirador que tinha uma relação conflituosa com o meio de comunicação social.
O professor de Jornalismo Dan Kennedy, da Universidade Northeastern, não tem dúvidas de que os simpatizantes do presidente verão nesta iniciativa "mais uma prova de que a imprensa age como um membro da resistência".
"Mas a retórica de Trump sobre os meios de comunicação tornou-se cada vez mais ilimitada e é útil para que os jornais reafirmem os seus valores e a importância da Primeira Emenda de forma coerente e coordenada", acrescentou.
Até terça-feira à noite, o jornal "The Washington Post", um dos mais investigados na administração Trump e um dos alvos mais frequentes da ira presidencial, ainda não tinha aderido à iniciativa.
*Por Rob Lever / AFP
Comentários