“A minha mensagem é muito simples: matar as exportações russas, exceto alguns produtos críticos que o mundo precisa”, declarou Kuleba, acrescentando que Moscovo deveria deixar de “fazer dinheiro e investi-lo numa máquina de guerra que mata, viola e tortura ucranianos”.
Ao mesmo tempo, pediu às companhias de transportes marítimos para cessar o transporte de petróleo russo.
“Há duas formas de abordar as sanções. A primeira é dizer ‘vamos concentrar-nos no petróleo e procurar formas de parar de comprar petróleo russo”, começou por dizer.
Mas, “há outra forma: a grande maioria do petróleo russo vendido no mercado mundial é transportado por mar”, continuou, dizendo que aqueles que continuaram a fazê-lo “em qualquer parte do mundo” deveriam ser “confrontados com problemas”.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou hoje estar “confiante” em alcançar um acordo sobre um embargo da União Europeia ao petróleo russo até ao início do Conselho Europeu de segunda-feira, apesar do bloqueio da Hungria, que depende fortemente dos hidrocarbonetos russos.
Kuleba denunciou também a “chantagem” russa em que Moscovo exige um levantamento das sanções impostas pela guerra para evitar uma crise alimentar global.
“Isto é chantagem clara. Não há melhor exemplo de chantagem nas relações internacionais. Se alguém o aceita, então essa pessoa tem um problema”, atirou.
Um alto diplomata russo tinha exigido hoje o levantamento das sanções contra Moscovo como condição para evitar uma iminente crise alimentar global causada pela ofensiva na Ucrânia.
A Ucrânia, um grande exportador de cereais, viu a sua produção bloqueada pelos combates, e a Rússia, outra potência cerealífera, não pode vender a sua produção devido a sanções que afetam os setores financeiro e logístico.
As terras ucranianas altamente férteis colocavam o país como quarto maior exportador mundial de milho antes da ofensiva, a caminho de se tornar no terceiro maior exportador de trigo.
No entanto, o conflito perturbou a produção agrícola ucraniana e a Rússia é acusada por Kiev e pelo Ocidente de impedir a exportação de cereais através do mar Negro, especialmente no grande porto de Odessa, o que suscita receios de uma grave crise alimentar mundial.
O chefe da diplomacia ucraniana abordou ainda a urgência das necessidades de armamento do seu país, que resumiu em duas siglas: MLRS — sistemas de lançamento múltiplo de foguetes — e ASAP (“O mais rapidamente possível”, na sigla em inglês).
Na região do Donbass, em que a situação é “extremamente má”, os sistemas poderiam ajudar as forças ucranianas a recuperar locais como a cidade meridional de Kherson.
Em Davos, Kuleba disse já ter tido cerca de 10 reuniões bilaterais com líderes de países que possuem esses sistemas e que recebe como resposta uma pergunta: “os norte-americanos já lho deram?”.
“Portanto, este é o fardo de ser um líder. Todos estão a olhar para ti. Então Washington tem de manter a promessa e fornecer-nos múltiplos sistemas de foguetes o mais rápido possível. Os outros vão segui-los”, considerou.
Ao mesmo tempo, enfatizou que se o país não receber sistemas MLRS o mais depressa possível, a “situação no Donbass ficará ainda pior”.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas — mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,6 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 3.974 civis morreram e 4.654 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 91.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.
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