Ao contrário de outros setores, os sucessivos aumentos dos encargos com a produção e distribuição de produtos farmacêuticos, causados inicialmente com a crise energética e agravados agora pelos efeito da guerra na Ucrânia, não podem ser compensados pelo aumento do preço dos medicamentos, cujas margens são estipuladas pelo Estado.
Em declarações à agência Lusa, José Redondo, vogal da Apifarma, afirmou que, este ano, houve uma redução de preços dos medicamentos, como tem sido habitual nos últimos anos, de cerca de 2%, o que faz com que as margens se reduzam, podendo haver produtos que entrem em situações de margens negativas.
“É evidente que para uma empresa, o mais importante é o seu portfólio do conjunto ter uma margem positiva, mas é pouco saudável ter produtos nessas circunstâncias e o risco que pode existir é a necessidade de descontinuar alguns produtos”, alertou.
Por outro lado, apontou José Redondo, também tem havido um “aumento de custo significativo” dos transportes. “É evidente que a indústria é menos afetada do que a distribuição, mas em Portugal muitas das empresas farmacêuticas oferecem um transporte semanal para os seus principais clientes e assumem esse custo”.
“Há também muita importação, nomeadamente de princípios ativos provenientes da Índia e da China, e os contentores variam de mês para mês, mas no mínimo quadruplicaram os preços relativamente àquilo que seria o preço médio do ano passado”, salientou, ressalvando que este aumento de preços foi agravado pela guerra na Ucrânia, mas já se vinha a sentir.
Já no final de 2021, havia um forte aumento de preços ao nível dos transportes e da energia devido à dificuldade de transporte com origem na China, “o que tem criado problemas de rutura e de manutenção das cadeias de abastecimento, que é um assunto que preocupa tanto a indústria farmacêutica como o aumento de preços”.
“As cadeias de abastecimento estão cada vez com maiores debilidades, o que, para minimizar, obriga a aumentar os ‘stocks', a antecipar encomendas numa conjuntura de preços altos, tendo assim aqui uma série de fatores que contribuem muito negativamente para a estrutura de custos de produção da indústria farmacêutica”, sublinhou.
Para José Redondo, era importante, “do ponto de vista económico, e mesmo de bom senso, poder haver alguma atualização de preços, sobretudo dos medicamentos mais baratos, que têm dificuldade em poder suportar este aumento de custos, que já ninguém acredita que é temporário”.
Os distribuidores farmacêuticos também estão sofrer os impactos da inflação, estando a sua “grande preocupação” no aumento da energia e dos combustíveis, uma vez que a sua atividade está centrada na armazenagem e no transporte.
A cadeia de medicamentos de frio tem “um custo considerável de energia” e nos transportes é a questão dos combustíveis, disse o presidente Associação de Distribuidores Farmacêuticos (Adifa), Nuno Flora, adiantando que no primeiro trimestre deste ano tiveram um aumento de cerca de 15% nos custos energéticos totais.
“As empresas vão, até onde podem. Tentam melhorar a eficiência das suas operações, fazer algum reajuste de rotas das suas entregas, agrupar outras, porque a continuar a este ritmo, do ponto de vista económico, o ano está muito mal encaminhado, o ano está perdido”, lamentou.
Segundo o presidente da Adifa, as empresas têm tentado que não haja consequências na cadeia de abastecimento e têm conseguido.
“Agora, as empresas obviamente terão de ajustar aquilo que é a sua operação, torná-la mais eficiente e aquilo que é a sua operação junto dos clientes, farmácias, nomeadamente, mas também hospitais, se calhar com alguma redução de alguns dos serviços que é prestado, porque senão não é sustentável”, reiterou.
Além das 27 plataformas logísticas, com os inerentes custos energéticos, as empresas do setor dispõem de mais de 800 viaturas ligeiras de distribuição, que entregam diariamente mais de um milhão de embalagens aos clientes.
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