O apelo foi lançado pela ‘número dois’ do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Emine Dzhaparova, numa reunião do Conselho de Segurança convocada pela Albânia e pelos Estados Unidos com o objetivo de se fazer uma atualização abrangente sobre os aspetos políticos e humanitários da guerra em solo ucraniano.

“A minha mensagem é muito clara: precisamos de reforçar as sanções em setores económicos particularmente importantes para a Rússia; um embargo total de gás e petróleo; desconexão de bancos russos do sistema global financeiro. Este é o preço que o Estado agressor deve pagar”, disse a governante perante o corpo diplomático presente da reunião, incluindo a Rússia.

No seu pronunciamento, Emine Dzhaparova considerou ainda a implementação da Fórmula da Paz - uma iniciativa defendida pelo seu Presidente, Volodymyr Zelensky -, o aumento da assistência militar imediata e o reforço das sanções às Rússia como os “principais pilares para a vitória da Ucrânia e restauração da segurança e da justiça”.

“É um objetivo comum para aqueles que entendem que se o Estado de Direito for substituído pelo Estado de Força, ninguém pode ser assegurado”, acrescentou a vice-ministra das Relações Exteriores da Ucrânia.

A Ucrânia quer promover na Assembleia-Geral da ONU uma resolução que apoie a Fórmula da Paz defendida por Zelensky, e que exige, entre outros, a retirada das tropas russas, apesar da rejeição de Moscovo.

O anúncio foi feito na quinta-feira por Emine Dzhaparova, que assegurou que Kiev quer apresentar este texto à Assembleia-Geral em fevereiro, quando a invasão da Rússia completará um ano.

“A ideia é consagrar a Fórmula da Paz, os seus pontos e a sua visão e filosofia”, disse Dzhaparova a jornalistas durante uma visita à sede da organização internacional.

Segundo a governante, esse tema será a primeira prioridade do ano para a Ucrânia na ONU, embora continue a tentar promover outra resolução que legitima a criação de um tribunal especial para julgar crimes da Rússia contra o seu país.

A reunião de hoje aconteceu mais de um mês após o último encontro do Conselho de Segurança para discutir a situação na Ucrânia e contou com uma atualização por parte da subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Construção da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo.

Além de evidenciar os números de refugiados gerados pelo conflito, a subsecretária alertou ainda para as “inevitáveis cicatrizes invisíveis” da guerra, numa alusão a quase um quarto da população que corre o risco de desenvolver problemas mentais devido ao conflito, citando dados da Organização Mundial da Saúde.

DiCarlo apresentou também dados sobre a violência sexual em contexto do conflito.

Desde de 24 de fevereiro, quando a guerra foi lançada, a ONU documentou mais de 90 casos de violência sexual, divididos em duas categorias principais: a maioria como método de tortura e maus-tratos na detenção, afetando predominantemente homens; e violência sexual envolvendo violações, incluindo violações coletivas de mulheres e meninas em áreas sob controlo russo.

“É imperativo que todos os perpetradores de violações dos direitos humanos sejam responsabilizados”, frisou DiCarlo.

Numa reunião marcada por duas criticas a Moscovo, o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya, aproveitou para anunciar que pediu uma reunião do Conselho de Segurança na próxima semana sobre a perseguição à oposição na Ucrânia e sobre a “contínua repressão à Igreja Ortodoxa”.

“Mais recentemente, além de perseguir dissidentes e líderes da oposição , vimos uma tentativa de destruir a única igreja canónica na Ucrânia, a Igreja Ortodoxa Ucraniana”, disse Nebenzya.

”As consequências de tais ações para a paz e segurança regionais podem ser muito graves, e é por isso que acreditamos que esta situação merece um exame minucioso dos membros do Conselho de Segurança a esse respeito”, acrescentou o diplomata.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.919 civis mortos e 11.075 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.