Putin assinou dois decretos que pedem ao Ministério da Defesa que “as Forças Armadas da Rússia [assumam] as funções de manutenção da paz no território” das “repúblicas populares” de Donetsk e Lugansk, segundo noticia a agência France Presse (AFP).

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu hoje a independência dos territórios separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, com os quais assinou tratados de amizade e assistência mútua com os líderes de Donetsk, Denis Pushilin, e Lugansk, Leonid Pásechnik.

Com esta decisão, Putin corre o risco de atear a pólvora, quando o Ocidente receia uma invasão da Ucrânia pelas tropas russas.

O reconhecimento da independência dessas regiões separatistas da Ucrânia como Estados representará o fim do processo de paz, e a Rússia tomará oficialmente sob a sua asa as regiões em causa que, na prática, já apoia militar e financeiramente.

Os acordos de Minsk, negociados em 2015 sob mediação franco-alemã, preveem a devolução dos territórios de Donetsk e Lugansk ao controlo de Kiev, por meio de eleições e de uma autonomia.

Mas a Ucrânia exige a retirada prévia dos separatistas armados controlados pela Rússia. Segundo Moscovo, Kiev está a levar a cabo manobras de diversão para sabotar o processo de paz.

O Presidente ucraniano convocou hoje o Conselho de Segurança Nacional e Defesa, após o anúncio do seu homólogo russo de que irá reconhecer a independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk.

Na sua conta da rede social Twitter, Volodymyr Zelensky explica que tomou essa decisão “perante as declarações emitidas durante a reunião do conselho de segurança russo” e após conversas telefónicas com os líderes de França, Emmanuel Macron, e da Alemanha, Olaf Scholz.

Antes disso, Zelensky ordenara ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, que pedisse uma reunião imediata do Conselho de Segurança da ONU para abordar medidas urgentes destinadas a obter uma inversão da escalada do conflito e a garantir a segurança do seu país.

Kuleba invocou o artigo 6 do Memorando de Budapeste (1994), que concedeu à Ucrânia garantias de segurança em troca da renúncia ao arsenal nuclear herdado da antiga União Soviética.

Durante a recente conferência de segurança de Munique, Zelensky instou o Ocidente a garantir a segurança da Ucrânia até que o país ingresse na NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte), algo a que o Kremlin se opõe terminantemente.

O chefe da diplomacia ucraniana também negou as informações procedentes da Rússia de que Kiev tinha atacado o território das repúblicas de Donetsk e Lugansk, palco de uma intensificação das hostilidades desde a semana passada.

De facto, Kiev informou que dois soldados ucranianos e um civil morreram hoje nos ataques perpetrados pelas milícias pró-russas no Donbass.

Kiev considera que Moscovo e os separatistas pró-russos orquestraram uma campanha de desinformação sobre uma ofensiva ucraniana iminente, que levou os rebeldes a anunciar a mobilização geral dos homens maiores de idade e a retirada para a Rússia da população civil.

Em seguida, os dirigentes pró-russos pediram o reconhecimento da sua independência ao líder do Kremlin, Vladimir Putin, que hoje presidiu a uma reunião do conselho de segurança da Rússia para abordar esse assunto.

Putin, que defendeu em 2008 o reconhecimento da independência das regiões separatistas georgianas da Abkházia e da Ossétia do Sul, assegurou que anunciaria hoje a sua decisão.

A Rússia concedeu nos últimos anos a cidadania a cerca de 700.000 residentes nas zonas pró-russas de Donbass, que participaram inclusive nas eleições legislativas de setembro passado.