“Embora tenha havido ontem [terça-feira] alguns sinais positivos em termos de afirmações [das autoridades russas}, na realidade, no terreno, ainda não vimos nenhuma alteração. Ou seja, continuamos numa situação em que a Rússia tem capacidade para uma ação militar de grande envergadura com pouco ou nenhum pré-aviso”, disse, em declarações a jornalistas, após o primeiro dia de uma reunião de ministros da Defesa da Aliança Atlântica.
Gomes Cravinho sublinhou que, para a NATO, “diálogo e diplomacia são a chave para a resolução desta situação e o desanuviamento das tensões”, mas, ao mesmo tempo, a organização transatlântica considera que “dissuasão e diálogo são duas faces da mesma moeda, e é muito importante os aliados da NATO terem uma postura de grande dissuasão, precisamente para precaver contra qualquer aventureirismo, qualquer atitude que ponha em causa a segurança da Aliança”.
Apesar dos anúncios por parte de Moscovo acerca do início da retirada de tropas, uma vez concluídos “exercícios militares”, o ministro apontou que “a avaliação que é feita pelos serviços de informações da NATO é que não houve nenhuma retirada significativa de forças”.
“Pode ter havido algumas rotações, mas a Rússia mantém toda a capacidade que tinha há dois, três dias – e, aliás, até tem vindo a reforçar nestes últimos dias – de levar a cabo uma ação militar a muito curto prazo”, disse.
João Gomes Cravinho especificou que a Rússia “está envolvida em exercícios de enorme escala junto à fronteira com a Ucrânia” e “tem toda a capacidade para, sem pré-aviso, alterar o rumo desses exercícios militares”.
“E, portanto, espero que amanhã ou o dia seguinte nos tragam novidades, mas não estamos a ver por enquanto nenhum relaxamento da postura agressiva que a Rússia tem tido na fronteira ucraniana”, reforçou.
NATO não pediu esforço suplementar
“Nós não temos previsto nada para além daquilo que foi decidido no último Conselho Superior de Defesa Nacional [CSDN], ainda no ano passado. Naturalmente que qualquer nova decisão terá de ser objeto de consideração por parte do CSDF, mas não temos para já previsto nada”, disse João Gomes Cravinho, em declarações à imprensa após o primeiro dia de uma reunião de ministros da Defesa da NATO, na capital belga.
Apontando que esta reunião a nível de titulares das pastas da Defesa dos Aliados seria “o momento ideal” para a NATO solicitar aos países membros um “reforço de qualquer postura militar”, no quadro de um aumento de forças na zona oriental da Aliança face à crise entre Ucrânia e Rússia, se considerasse tal necessário, o ministro disse que essa questão não foi colocada pela liderança militar da organização.
“Este seria o momento ideal se os nossos militares da NATO, a liderança militar, tivesse considerado necessário. A liderança militar não colocou essa questão aos decisores políticos”, disse.
O ministro aproveitou, de resto, a oportunidade para “esclarecer um assunto que provocou algumas dúvidas, em relação ao envio de militares portugueses para a Roménia”, depois de o social-democrata Luís Marques Mendes, no domingo, no seu espaço de comentário habitual na SIC, ter declarado que Portugal iria enviar tropas para Roménia, ao abrigo do acordo NATO, no âmbito do clima de tensão entre a Rússia e a Ucrânia.
“Efetivamente, isso está previsto, faz parte de exercícios habituais. Aconteceu em 2021, está previsto voltar a acontecer em 2022, mas apenas no último trimestre do ano, e portanto nada tem a ver com a situação na Ucrânia”, declarou Gomes Cravinho.
Os ministros da Defesa da NATO, reunidos em Bruxelas entre hoje e quinta-feira, exortaram hoje a Rússia a escolher a via diplomática para a resolver a crise com a Ucrânia, mas, como medida preventiva, confirmaram o reforço da presença militar a Leste.
“As ações da Rússia representam uma séria ameaça à segurança euro-atlântica. Como consequência, e para assegurar a defesa de todos os Aliados, estamos a destacar forças terrestres adicionais para a parte oriental da Aliança, bem como recursos marítimos e aéreos adicionais, tal como anunciado pelos aliados, e aumentámos a prontidão das nossas forças”, lê-se numa declaração dos ministros da Defesa da NATO divulgada hoje à tarde.
Acrescentando que a NATO está também prestes a “reforçar ainda mais” a sua “postura defensiva e dissuasora para responder a todas as contingências”, os ministros da Defesa da Aliança Atlântica argumentam que estas medidas são “preventivas e proporcionais” e não contribuem para uma escalada das tensões.
Sem nunca fazerem referência aos anúncios de Moscovo de uma retirada de tropas – que a Aliança garante não ter ainda constatado no terreno – os ministros da Defesa começam por reafirmar a sua “profunda preocupação” com o “reforço em grande escala, sem justificação e na ausência de qualquer ameaça, do dispositivo militar russo na Ucrânia e em seu torno, assim como na Bielorrússia”.
“Instamos a Rússia, nos termos mais fortes possíveis, a escolher a via da diplomacia, e a inverter imediatamente o reforço do seu dispositivo militar e retirar as suas forças da Ucrânia, de acordo com as suas obrigações e compromissos internacionais. Continuamos empenhados na nossa abordagem dupla à Rússia: forte dissuasão e defesa, combinada com a abertura ao diálogo”, indicam os 30 membros da organização.
Os ministros garantem que “a NATO e os Aliados continuam a prosseguir a diplomacia e o diálogo com a Rússia sobre questões de segurança euro-atlântica, incluindo ao mais alto nível” e apoiam todos os esforços com vista à implementação dos Acordos de Minsk.
“Manifestámos a nossa disponibilidade para participar num diálogo renovado sobre segurança europeia, iniciado pela Polónia enquanto atual presidência da OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa]. Fizemos propostas substanciais à Rússia para reforçar a segurança de todas as nações da região euro-atlântica e aguardamos uma resposta. Temos repetidamente oferecido, e continuamos a oferecer, mais diálogo através do Conselho NATO-Rússia, e estamos prontos para nos envolvermos. Encorajamos vivamente a Rússia a retribuir e a escolher a diplomacia e a desescalada”, indicam.
Numa altura em que o Kremlin garante que concluiu as manobras militares nas zonas fronteiriças, um anúncio recebido com muita cautela pela NATO e União Europeia, a crise entre Rússia e Ucrânia será objeto de discussão ao mais alto nível na quinta-feira a nível dos 27, já que foi hoje convocada uma reunião informal de uma hora dos chefes de Estado e de Governo da UE para fazer um ponto da situação do conflito, imediatamente antes do arranque da cimeira UE-África.
Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa.
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