O mundo noticioso tem destas coisas. Se num momento parece que não se fala de outra coisa além pandemia, desde a última madrugada que parece que só se fala de um assunto: América. Ou, melhor, de quem será o próximo inquilino da Casa Branca, ali para os lados da igualmente popular Avenida Pensilvânia, na capital norte-americana Washington D.C..O que só pode ser encarado como natural, tendo em conta de que se está a falar nos Estados Unidos da América. É um assunto que pode dizer mais aos americanos, mas diz muito ao mundo também.
Porém, além de se estar a verificar eleições renhidas, longas e à espera do correio, hoje deu-se um novo recorde em Portugal. E logo aquele que ninguém quer que seja batido. E se neste âmbito pandémico a realidade é de que os recordes são quase todos maus — seja o número de infetados, internados, etc —, a verdade é que a morte traz sempre outro peso, outra dor. Esta quarta-feira, ficou a saber-se que nas últimas 24 horas se perderam 59 vidas para a covid-19, o número mais alto desde o início da pandemia.
Só que além desse recorde, houve um outro número que assustou num primeiro momento quem abriu o último relatório epidemiológico divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS) — onde se verifica que existem 7.497 novos casos de infeção em Portugal. Ora, é um número alto e que pode ter gerado alguma confusão devido a alguma incongruência nos títulos nos jornais nacionais — já que uns dão conta de que há mais quase 4.000 casos e outros os tais 7.000. Afinal, o que se passou?
O número oficial, sem asterisco, significaria novo recorde de casos confirmados no país. No entanto, a realidade do boletim desta quarta-feira é que há efetivamente asterisco — e com uma explicação para o sucedido. Assim, pode ler-se que existe um "somatório de 3570 casos, decorrentes do atraso no reporte laboratorial, principalmente de um laboratório na região Norte, desde o dia 30/10/2020".
Ou seja, nas últimas 24 horas registaram-se praticamente 4.000 casos (3.927 para sermos mais exatos) de covid-19 em Portugal. Mas como houve um atraso no reporte de um laboratório do Norte, que não conseguiu comunicar valores desde o passado dia 30 de outubro, isto é, de atualizar os casos dos últimos 5 dias, todos os casos detetados durante esse período foram adicionados ao boletim de hoje. A explicação foi dada por António Lacerda Sales, secretário de estado Adjunto e da Saúde, quando começou a habitual conferência de imprensa com a explicação do aumento do número de casos de infeção.
"Os dados no boletim resultam da notificação do sistema SINAVE [Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica]. Dependemos quer da notificação dos laboratórios, quer dos médicos assistentes para que a fotografia diária seja a mais aproximada da realidade. Hoje esse retrato não espelha a realidade só das últimas 24 horas, uma vez que um laboratório do Norte não conseguiu fazer as notificações desde o dia 30, tendo feito a acumulação do número ontem num somatório de mais de 3500 casos. Apesar do retrato do reporte, estes casos foram naturalmente seguidos quer ao nível clínico, quer pelas equipas de saúde pública. A importância do reporte é crucial e o Ministério da Saúde está a tomar medidas para que estas situações não aconteçam", começou por justificar o governante, antes de sublinhar que é da responsabilidade do Governo "assumir o erro dos números com a verdade e a transparência de sempre".
Em suma, excluindo os 3.570 casos não reportados desde dia 30, o número de novos infetados das últimas 24 horas é de 3.927. Todavia, se efetivamente o número é menor, tal não significa que seja também ele positivo. Na verdade, é só um menos mau — já que na verdade se verifica o quinto pior dia da pandemia ao nível de infeções.
Para finalizar, uma pequena nota para não terminar esta crónica em tons negativos. António Lacerda Sales salientou durante a conferência de imprensa que era importante dar "a boa notícia", apesar de tudo. "Tem a ver com o valor do R [indicador de transmissão da covid] que tem estado a diminuir de forma sistemática desde o dia 14, 15 de outubro", frisou. O governante relembrou que no dia 10 de outubro o R era de 1,27 e hoje é de 1,14. No Norte, a região mais fustigada, era de 1,4 e hoje é de 1,13.
O que é que isto significa? De acordo com Lacerda Sales, "aparentemente, há um desacelerar da própria pandemia".
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