O governante, que falava em Coimbra para graduados portugueses no estrangeiro, considerou que o problema principal das empresas portuguesas “está na sua descapitalização”, com uma banca nacional “que só gosta de emprestar dinheiro para compra de casa”, acrescentando que a segunda fonte de problemas é a “fraquíssima qualidade” da gestão das empresas.

“Eu quero que os doutorados tragam mais qualidade para a gestão”, afirmou o ministro, na sessão de encerramento do 8.º Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro (GraPE 2019), que decorreu no Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra.

Para Augusto Santos Silva, um tecido industrial “muito pouco qualificado” e “muito pouco capitalizado” terá também dificuldades em atrair jovens qualificados ou até em perceber as vantagens de apostar na inovação.

Durante a sua intervenção, o ministro disse que se pode “esperar sentado” se se supõe que o atual tecido industrial português “é capaz, por si só, de perceber a vantagem em trazer inovação para o seu seio e a vantagem em contratar pós-graduados e doutorados”.

“É preciso mudar o tecido industrial”, vincou, considerando que atrair investimento estrangeiro para o país também é uma forma do tecido nacional mudar, face à competição que vem de fora.

De acordo com o ministro, as empresas que se estão a instalar no país requerem recursos humanos qualificados e localizações próximas de centros de investigação e universidades, sendo que as empresas estrangeiras que investem em Portugal confrontam-se “crescentemente com falta de mão de obra qualificada, incluindo doutorados”, especialmente nas áreas da “ciência de dados, engenharias e informáticas”.

“O panorama português é de escassez de mão de obra qualificada e não um panorama de abundância de mão de obra qualificada sem saídas profissionais”, notou.

Durante a intervenção, Augusto Santos Silva recordou que as vagas de emigrantes dos anos de 1960 e 70 foram responsáveis por mudanças no país, seja através das remessas enviadas para as famílias, as vindas periódicas nos verões, a requalificação do imobiliário ou a criação de pequenas e médias empresas nas suas terras de origem.

Dirigindo-se para a plateia, perguntou que contributo é que os jovens portugueses que hoje emigram darão ao país “daqui a 30 anos”?

“Se há uma espécie de laço ou de dívida em relação ao país, como é que se veem a contribuir para o desenvolvimento de Portugal?”, questionou, pedindo aos jovens graduados que deem respostas no próximo fórum, em 2020.