Notícia atualizada às 18:44 de 1 de abril de 2021. Acrescenta informação relativa à realização de "eventos teste-piloto" na Cultura em Portugal.


Amesterdão, Ziggo Dome.

Antes da pandemia, seria uma noite normal em que um grupo alargado de pessoas, que não se conhecem na sua maioria, se juntam no mesmo sítio para ouvir música, dançar e beber umas cervejas.

6 de março de 2021. Entre vagas de covid-19 e planos de vacinação, juntar 1.300 pessoas neste espaço de Amesterdão tem outro nome. É uma experiência social.

Esta experiência social em concreto resultou de meses de conversas entre as empresas de eventos e o governo holandês. Nasceu daí um projeto designado por “FieldLab” que desenhou oito eventos – de festivais a concertos com plateia e a jogos de futebol – com o objetivo de estudar o comportamento dos participantes, fazer o rastreio de possíveis infeções e delinear estratégias para a reabertura progressiva dos espaços.

Os eventos começaram ainda em fevereiro e tiveram um dos pontos altos nas duas noites do Ziggo Dome que juntaram 1300 pessoas de cada vez num lugar com capacidade para 17 mil pessoas [para efeitos de comparação, o Altice Arena tem capacidade para 20 mil pessoas]. A par com as bicicletas e os canais bucólicos, a música é parte importante da oferta cultural de Amesterdão, com vários eventos anuais e DJs internacionais oriundos da cidade.

As conclusões sobre estas "experiências sociais" ainda não foram divulgados, mas para Andreas Voss, professor especializado no controlo de infeções da Universidade Radboud, os dados para já disponíveis sobre os participantes nos eventos face à população em geral permitem, dizem que não há mais risco do que no dia a dia de qualquer pessoa na Holanda. "Temos resultados promissores que mostram que na maior parte das situações criadas, o risco durante o evento era mais baixo ou igual ao de alguém que ficou em casa."

O ministro da Saúde da Holanda concorda e disse mesmo que considerava os resultados muito encorajadores.

“Até aqui, os porquinhos da Índia estão muito felizes por estarem nesta experiência”, brincou Voss em declarações à CNN.

Para que os eventos se pudessem realizar os participantes comprometeram-se a cumprir regras antes, durante e depois. Foram realizados testes antes e após o evento foi pedido que fossem restringidos contactos com pessoas vulneráveis. Cinco dias depois do evento, todos os participantes fizeram um segundo teste.

E lá dentro, como é que tudo correu?

Nos eventos no Ziggo Dome, as regras não eram iguais para todos. O FieldLab dividiu o espaço destes eventos em seis áreas – a mais flexível envolvia até 50 pessoas que não usavam máscaras e tinham acesso ao bar durante o concerto e a mais rígida contemplava 250 pessoas, sempre obrigadas a manter máscara e encorajadas a manter 1,5 metros de distância.

Os relatos dão conta que uma vez dentro de portas as regras ditadas pela organização foram esquecidas por muitos. Máscaras tiradas para poder beber cerveja, círculos no chão ignorados ao sabor da música e do convívio. Segundo Voss, tal não constituiu surpresa para os organizadores que não procuraram corrigir ou alertar os participantes já que o objetivo era que estes eventos fossem uma espécie de simulador da vida real. Já nas conferências e jogos de futebol que também integram a lista de eventos-teste, mais de 94% mantiveram as máscaras.

Alguns dos depoimentos prestados à CNN são reveladores do estado de espírito dos participantes, nomeadamente os mais jovens. "Uma espécie de sonho em que tudo volta a ser permitido", no relato de um dos participantes. Ou “é quase impossível descrever em palavras o que foi. Foi tão incrível”, segundo outro. Outro ainda, de 21 anos, resumiu assim: “acho que nunca fui tão feliz no último ano como naquele dia”.

Antes dos eventos no Ziggo Dome a 6 e 7 de março, a primeira das oito experiências de evento público teve lugar, ainda em fevereiro, em Utrecht, numa conferência para 500 pessoas no Beatrix Theater — e da qual resultou um teste positivo conhecido. Todos os participantes tiveram de apresentar um teste negativo à covid-19 com não mais do que 48 horas para poder estar na conferência – e esse era também o caso da pessoa que depois testou positivo. À entrada foi medida a temperatura e havia sensores que permitiam à organização perceber o nível de interação que o público manteve. Cinco dias depois do evento, o teste à covid-19 foi repetido para todos.

Neste primeiro evento-experiência esteve presente a secretária de estado dos assuntos económicos e do clima e contou com a atuação do comediante Dolf Jansen e da Metropole Orchestra.

Ainda em fevereiro, foram também realizados dois jogos de futebol com a presença de público. No jogo entre NEC e De Graafschap estiveram presentes 1500 pessoas divididas em grupos de 750 pessoas. Noutra partida entre Almere City e Cambuur, foram também permitidas 1500 pessoas, mas divididas em grupos de 200, 600 e 700.

A experiência de Berlim

Não é só na Holanda que há ensaios sobre como poderá voltar a ser a “vida real”. A 19 de março, também Berlim fez uma espécie de ensaio tendo como “simulador” um concerto da Orquestra Filarmónica da cidade, que há um ano não realizava eventos públicos. Mil pessoas estiveram na assistência e, tal como na Holanda, a alegria do reencontro foi notória para público e músicos.

O concerto teve lugar quando a Alemanha atravessa uma terceira vaga de covid-19 e o projeto conta com o apoio dos responsáveis da cultura da capital. No total, estão previstos nove eventos em sete localizações distintas incluindo teatros, óperas e concertos entre 19 de março e 4 de abril.

À entrada dos eventos são realizados testes e só quem tem teste negativo e identificação válida é que pode entrar nos espetáculos. No caso do concerto da Orquestra Filarmónica de Berlim as 1000 pessoas na assistência apresentaram 1000 testes negativos.

O objetivo, tal como na Holanda, é entender o comportamento do público e avaliar as medidas de segurança e os resultados de forma a poder planear calendários culturais numa base regular. As autoridades alemãs, e as de Berlim em concreto, têm sido cautelosas mas otimistas. A possibilidade de existirem eventos suspensos é assumida  - os previstos para a Páscoa estiveram em causa antes da chanceler Angela Merkel ter voltado atrás com a decisão de confinamento geral durante o período pascal – mas também se discute a possibilidade de alargar este tipo de testes e simulações a outros locais como restaurantes e hotéis.

Eventos para vacinados em Israel

Em Israel, a reabertura da vida cultural teve início ainda em fevereiro, a par com o avanço na vacinação.

Teatros, museus, salas de espetáculos estão autorizados a organizar eventos de capacidade reduzida, mas com uma particularidade: só pode entrar quem tiver a “carta verde”, uma aplicação que atesta quem já está vacinado.

Em 25 de fevereiro de 2021, Israel tinha já 4,5 milhões de pessoas vacinadas, cerca de metade da população, e cerca de 3,2 milhões já tinham recebido as duas doses da vacina.

Em Barcelona, foram 5.000 num concerto

Cinco mil pessoas assistiram este sábado, dia 27 de março, a um concerto de rock  com a banda Love of Lesbian em Barcelona, Espanha, depois de passarem por uma triagem à covid-19 no mesmo dia, para testar a sua eficácia na prevenção de surtos da doença em grandes eventos culturais.

Espanha tem os ajuntamentos limitados a quatro pessoas em espaços fechados e, segundo os organizadores, este tratou-se do primeiro evento comercial com uma audiência tão grande a acontecer na Europa durante a pandemia da covid-19.

Os bilhetes, com preços entre os 23 e 28 euros, e que incluíam o preço do teste antigénico e de uma máscara de alta qualidade, de uso obrigatório, esgotaram em oito horas.

As máscaras podiam ser retiradas para comer ou beber, em áreas designadas para o efeito.

A organização deste espetáculo, já tinha sido responsável por um outro, com cerca de 500 pessoas, que aconteceu em dezembro.

E por cá, como será? Para já, avançam "eventos teste-piloto"

A informação foi anunciada pelo Governo pouco depois de António Costa confirmar que o desconfinamento "a conta gotas" vai prosseguir na segunda-feira, dia 5 de abril. Ou seja, o executivo aprovou em Conselho de Ministros a realização de "eventos teste-piloto" na Cultura em articulação com DGS. Em concreto, o diploma admite a realização de testes de diagnóstico do vírus SARS-CoV-2, por imposição da DGS ou por iniciativa do promotor do evento.

De acordo com as conclusões de hoje do Conselho de Ministros, as salas têm de fechar às 22:30, nos dias úteis, e às 13:00, aos fins de semana e feriados. As regras de segurança a aplicar são mesmas aprovadas para o primeiro ‘desconfinamento’, em maio de 2020, com a Orientação 028/2020, da DGS, ainda em vigor.

O executivo salienta em comunicado que estas ações estão previstas no decreto-lei "que altera as medidas excecionais e temporárias de resposta à pandemia da doença covid-19, no âmbito cultural e artístico", hoje aprovado em Conselho de Ministros, e que "estabelece as normas aplicadas aos espetáculos do ano de 2021".

"A criação de uma linha de crédito específica", para o setor dos espetáculos ou festivais, está também a ser analisada pelos ministérios da Cultura e da Economia, adianta por seu lado o comunicado entretanto divulgado pelo gabinete da ministra da Cultura, Graça Fonseca.

"O Ministérios da Cultura e da Economia estão a trabalhar no sentido de criar medidas adicionais de apoio ao setor dos espetáculos ou festivais, tal como proposto pelas respetivas entidades representativas, nomeadamente a análise da criação de uma linha de crédito específica", lê-se no comunicado.
As salas de espetáculos, teatros, auditórios e salas de exibição de filmes cinematográficos e similares reabrem a 19 de abril, com as mesmas regras em vigor à data do encerramento.

Na conclusão do comunicado, o Ministério da Cultura "reitera o empenho (...) no agendamento dos eventos teste-piloto", e na possibilidade de "alteração da orientação em vigor", que diz respeito à utilização de equipamentos culturais, nomeadamente salas de espetáculos, de exibição de filmes e similares, assim como à realização de programação ao ar livre, com limites de público, em função do distanciamento físico e da área disponível.