“Encaramos esta petição e a criação do Dia Nacional dos Jardins como uma justa e merecida homenagem a uma pessoa a quem o País muito deve em termos de ideias inovadoras, obras ambientais de referência e boas práticas inspiradoras”, pode ler-se no documento.
O texto da petição dos alunos do 10.º L da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes recorda ainda que Gonçalo Ribeiro Telles foi um arquiteto paisagista “de eleição, premiado nacional e internacionalmente, um pensador visionário, um político generoso e empenhado e um cidadão exemplar”.
Por curiosa coincidência, a data proposta é também o aniversário da publicação, em 2015, da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, sobre cuja aplicação em Portugal o 7MARGENS tem publicado (e publicará ainda) vários trabalhos. Os alunos assinalaram também a dupla comemoração desta data.
A ideia da petição foi nascendo progressivamente, nos projetos da área de Cidadania e Desenvolvimento. O professor Carlos Café, que enquanto diretor de turma é responsável por essas aulas, conta ao 7MARGENS que utiliza muito a música como motivação no seu ensino. Numa ocasião, passou aos alunos o tema Heroes, de David Bowie que, a dada altura, canta "We can be heroes, just for one day" (Podemos ser heróis apenas por um dia).
“Ribeiro Telles tinha morrido na semana anterior e eu disse-lhes que cada um pode ser herói, deixando a sua marca. Falei dele, da sua obra, e dos jardins da Gulbenkian como referência maior”, conta o professor.
Depois da conversa inicial, os alunos começaram a recolher imagens, notícias, citações, com a ideia de ver, num segundo momento, o que fariam.
Mais tarde, Carlos Café contactou o professor universitário e pensador Viriato Soromenho-Marques, que falou da ideia dos alunos na sua coluna no Jornal de Letras. “Decidimos então avançar para a petição, envolvendo os encarregados de educação – incluindo um jurista, que ajudou”.
Entretanto, os alunos contam já com o apoio do Grupo Prainha (onde se situa a Piscina Atlântica, também concebida por Ribeiro Telles), a Câmara Municipal de Portimão e a Junta de Freguesia de Portimão e – “apoio de peso” – da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas.
Sonhar com “um dia especial”
Para já, a iniciativa conseguiu levar à proposta da Assembleia Municipal de Portimão no sentido de criar o Dia Municipal dos Jardins, precisamente a 25 de maio. No próximo ano, com ou sem dia nacional já consagrado – Carlos Café julga que não será difícil a ideia ter “um final feliz” –, a turma pensa promover alguma iniciativa que tenha os jardins não só como tema mas também como palco. E também já foram convidados a escolher um de três jardins de Portimão (dois que foram requalificados e um novo) para lhe ser atribuído o nome de Ribeiro Telles.
No imediato, segue-se a preparação de um livro eletrónico sobre jardins, que recolherá desenhos de todas as escolas do agrupamento – desde o jardim de infância ao secundário e incluindo alunos de ensino especial –, um resumo da vida de Ribeiro Telles, citações suas e um texto introdutório de Soromenho-Marques – que é, aliás, o primeiro subscritor da petição.
O texto da petição diz que devemos ao arquitecto “o ter-nos mostrado que as cidades e as vilas são tanto mais humanas quanto mais verdes e sustentáveis forem”, bem como “o ter-nos ensinado que as cidades e as vilas não devem excluir-se da Natureza que as circunda, mas, pelo contrário, incluir a Natureza dentro delas de forma contínua e harmoniosa”.
Ribeiro Telles tinha “a ideia generosa de uma Natureza com pessoas dentro e de cidades e vilas com a Natureza dentro do seu coração e das suas artérias verdes”. Por isso “o jardim é uma metáfora feliz de tudo” o que ele ensinou.
“Os jardins são uma síntese com a marca da contemporaneidade”, acrescenta o texto, uma “síntese da cidade e do campo, do urbano e do bucólico, da ordem geométrica das árvores e sebes desenhadas e da irreverência surpreendente das flores campestres”. São ainda “lugares de encontros” para pessoas e também lugares “onde os animais se sentem em casa e os lugares que muitas aves escolhem para fazer a sua casa”.
Os alunos do 10.º L criaram já páginas no Instagram e Facebook (Jardins de Telles), além de terem gravado, na Piscina Atlântica da Prainha, um vídeo em que lêem a petição.
O documento conta, até ao momento de publicação deste artigo, com 753 assinaturas. Para poder ser debatida na respetiva comissão parlamentar da Assembleia da República – que pode decidir fazer uma recomendação ao Governo –, precisa de chegar às mil assinaturas válidas (cidadãos com mais de 18 anos). Para ser levada a plenário tem de chegar aos quatro mil subscritores.
Se for aprovada a instituição do Dia Nacional, será uma forma de recordar o “generoso e paciente jardineiro do Reino da Natureza” e um dos “heróis do nosso tempo” que era Ribeiro Telles. E já se pode sonhar que esse pode ser “um dia especial, em que os idosos saiam dos lares e de suas casas para apanhar sol e conversar entre si”, em que “as crianças mais novas vão passar a manhã a brincar à apanhada, a andar de baloiço ou a jogar à bola” e em que as próprias “aulas sejam dadas ao ar livre, nos jardins das escolas e nos jardins e parques das vilas e cidades”.
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