A recomendação da União Europeia para que as companhias aéreas evitem o espaço aéreo da Bielorrússia constitui mais uma complicação para estas empresas, que já estão acostumadas a fazer “gincanas” devido a este tipo de restrições.
Qual é a posição dos Estados e das empresas?
A União Europeia recomendou na segunda-feira às companhias aéreas do bloco para evitarem o espaço aéreo da Bielorrússia para punir o regime de Alexander Lukashenko, acusado de ter desviado um avião comercial europeu para Minsk para prender um dissidente.
A UE também anunciou o encerramento do seu espaço aéreo aos aviões da Bielorrússia, em uníssono com o Reino Unido e a Ucrânia.
A Air France concordou, anunciando durante a noite a suspensão da passagem dos seus aviões pelo país. O mesmo fez a sua empresa-irmã KML, assim como várias outras empresas europeias, como a Lufthansa, Finnair ou SAS, ou asiáticas, como a Singapura Airlines e a ANA (Japão).
Quais as consequências para as companhias?
Em média, perto de 2.500 aparelhos que realizam voos comerciais utilizam semanalmente o espaço aéreo bielorrusso, segundo a Eurocontrol (organização europeia para a segurança da navegação aérea), um ritmo baixo devido à crise da pandemia da covid-19.
Hoje ao início da tarde, os aviões que apareciam no ‘site’ FlightRadar24 a sobrevoar a Bielorrússia contavam-se com os dedos de uma mão — aliás, o próprio presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, demonstrou-o numa publicação no Twitter.
Para as ligações entre a Europa e a Ásia, contornar a Bielorrússia representa uma complicação, que, no entanto, pode ser ultrapassada, segundo os profissionais: o país é três vezes menor que a França e há várias rotas possíveis, muitas vezes ditadas pelas condições meteorológicas.
As ligações também têm de ter em conta as restrições, na mesma região, ao sobrevoo de parte da Ucrânia, palco de um conflito entre lealistas e pró-russos. Foi lá que um avião da Malaysia Airlines foi abatido em 2014, causando a morte de 298 pessoas.
“Vai aumentar o tempo de voo, o combustível, mais horas de manutenção”, mas a situação nesta região não se degradou a ponto de “não se conseguir encontrar rotas alternativas”, declarou à agência France-Presse um piloto de longo curso, que não quis ser identificado.
A mesma fonte é testemunha da “emoção” dos profissionais face ao ato de “pirataria” do poder em Minsk.
“Contornar o espaço aéreo de um país razoavelmente grande, situado no centro da Europa, é muito caro para qualquer companhia aérea”, disse hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, adiantando “lamentar” o anúncio de Bruxelas.
Segundo um porta-voz da ANA, Takafumi Okubo, evitar a Bielorrússia “terá consequências limitadas porque existe uma grande escolha de trajetos”.
Para os trajetos mais curtos, a situação será mais difícil de gerir: um voo da companhia “low cost” húngara Wizz Air entre Kiev e Vilnius hoje de manhã durou 1h32 em vez dos 57 minutos da anterior quinta-feira, segundo o FlightRadar24.
E para a Bielorrússia?
Quase um quinto dos 2.500 voos semanais sobre a Bielorrússia são operados pela companhia nacional Belavia, que dispõe de uma frota de 30 aparelhos, desde aeronaves regionais de menos de 100 lugares como a Embraer 175 a aviões de médio curso como o Boeing 737-900.
Na segunda-feira, a Belavia tinha previstos 20 voos de ou para aeroportos da UE e entre 40 e 60 com um itinerário que passava pelo seu espaço aéreo, segundo o Eurocontrol, ligações que deixarão de acontecer.
As finanças da Bielorrússia também podem ser afetadas porque várias companhias aéreas deixarão de pagar as taxas de sobrevoo do país.
Existem precedentes?
Evitar o espaço aéreo de um país ou países devido a questões de segurança ou políticas está longe de ser excecional.
Os países são soberanos para proibir o seu sobrevoo ou restringir o sobrevoo de zonas sensíveis pelas suas companhias.
Durante quase quatro anos, a Qatar Airways teve de contornar a península arábica para ligar a Europa e a América devido ao boicote que lhe impôs a Arábia Saudita. Os seus aviões puderam retomar o itinerário mais curto no início de janeiro.
Nas últimas semanas, os disparos de ‘rockets’ do movimento islâmico palestiniano Hamas contra a região de Telavive levaram as autoridades de Israel a desviar os aparelhos do aeroporto junto a esta cidade para o sul do país.
Os espaços aéreos sírio, líbio, iemenita e iraquiano, palcos de operações armadas, constituem igualmente zonas contornadas pelos voos comerciais.
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