Em 6 de maio, a Vasp enviou uma nota aos clientes relativa à atualização das condições de fornecimento, segundo a qual iria cobrar, a partir de 4 de julho, uma taxa diária de entrega no valor de 1,50 euros de segunda a sábado e de um euro aos domingos, a que acresce o IVA, como forma de comparticipação dos custos de transporte, entrega e recolha das publicações.

Para os pontos de venda, o valor angariado com a nova taxa vai além das despesas do transporte, entrega e recolha de publicações.

De acordo com os números avançados à Lusa pelos comerciantes, a Vasp tem cerca de 6.000 pontos de venda que vão ser obrigados a pagar cerca de 49,32 euros por mês, perfazendo um total de 295.920 euros.

Postos de venda de jornais pedem audiência ao Governo

Em comunicado, a Associação Nacional de Vendedores de Imprensa (ANVI) disse que “requereu esta semana pedidos de audiência ao secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media (Ministério da Cultura) e secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor (Ministério da Economia) sem que tivesse, até à presente data, sido confirmada a disponibilidade daquelas secretarias de Estado para reunir e apoiar a situação de fragilidade dos pontos de venda”.

De acordo com a ANVI, “a par dos referidos pedidos de reunião”, a associação “entrou já em conversações com a Vasp para que suspenda de imediato a intenção de aplicar as referidas taxas adicionais sem que até ao momento tivesse recebido a confirmação por parte daquela empresa que aceitaria desistir da referida cobrança prevista para o próximo mês de julho”.

Além disso, a entidade realizou “pedidos de reunião para alguns editores no sentido de se avançar com nova alternativa à distribuição atualmente existente, prevendo-se chegar a todos os editores durante a próxima semana” e iniciou o “levantamento da oferta de distribuição a nível regional que possa permitir à ANVI assegurar a todos os seus associados uma alternativa mais vantajosa à situação atualmente existente”.

“Sem resposta dos referidos ministérios, nem a garantia da Vasp da referida suspensão de aplicação de novas taxas, não será possível assegurar a venda de todos os periódicos nos próximos dias 18 e 19 de junho”, assegura a entidade esta semana.

“Nesta fase importa dar especial atenção a todos os pontos de venda que com dificuldade têm resistido no último ano e os quais se veem agora ser confrontados com alteração de contratos de forma unilateral e com valores – para muitos – bastante superiores ao da sua faturação”, remata.

Distribuidora reúne-se com Governo no final do mês

A Vasp vai reunir-se com o Governo no final do mês para encontrar uma solução, na sequência da taxa extra anunciada pela distribuidora de jornais e revistas, disse o presidente da empresa, Paulo Proença, à Lusa.

Contactado pela Lusa sobre a existência de uma reunião com o Governo no final do mês, o responsável confirmou a informação.

"Recebemos ontem uma informação do chefe de gabinete do secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor", João Torres, "a confirmar uma audiência para o dia 28 de junho", disse Paulo Proença.

A reunião contará também com a presença dos secretários de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, e a secretária de Estado da Valorização do Interior, Isabel Ferreira.

Vasp diz que protestos são dirigidos contra a entidade errada

"Nós somos solidários com os pontos de venda no sentido que entendemos que a questão da taxa é uma situação que vem penalizar o setor, que tem sofrido, tal como a Vasp, com a pandemia", mas "entendemos" que o boicote "não é a melhor forma de expressarem esse desagrado porque vai ainda penalizar mais não só a distribuidora como os editores, as gráficas, toda a cadeia de valor", afirmou.

"Os protestos estão a ser dirigidos contra a entidade errada, consideramos que há muita falta de informação sobre a real situação que a distribuição e todo o setor atravessam, acho que teria sido mais produtivo a associação ter tentado juntamente com a Vasp junto do Governo tentar obter apoios", salientou.

Aliás, "sempre foi essa a postura da Vasp, até porque a associação não existia", foi criada no passado dia 11 de junho, desconhecendo-se quantos membros tem.

"O boicote não é a melhor forma de protesto", sublinhou Paulo Proença.

A Vasp dirigiu ao Governo, "desde o início da pandemia, várias missivas no sentido de alertar para a grave situação que a distribuição e todo o setor estavam a atravessar devido à quebra de vendas", recordando que a distribuidora vive de uma margem sobre as vendas.

"Quando temos quebras de vendas superiores a 20%, aliás na casa quase dos 24% nos últimos 12 meses e quando os custos são maioritariamente fixos, com tendência aumentar, com aumentos dos salários mínimos ou aumentos dos combustíveis", entre outros, "a situação é altamente deficitária", prosseguiu o gestor.

A Vasp "foi aguentando os prejuízos da operação" durante a pandemia, "sempre pedindo apoio ao Governo no sentido de se tentar encontrar uma solução" e agora "foi obrigada a tomar a única medida que podia tomar, que é pedir um esforço que também vindo a ser pedido aos editores, no sentido de comparticiparem no sentido" da empresa continuar a distribuir jornais e revistas em todo o país.

[Notícia atualizada às 07h42]