Depois de duas semanas de reuniões a portas fechadas e virtuais, 195 países aprovaram na sexta-feira esta primeira avaliação completa do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em sete anos, cujo "resumo para tomada de decisões" foi negociado online e palavra por palavra.

Em plena sucessão de catástrofes no planeta — inundações na Alemanha e na China ou incêndios gigantescos na Europa e na América do Norte, passando por uma onda de calor recorde no Canadá —, os cientistas publicam hoje às 9:00 estas novas avaliações e previsões sobre o aumento da temperatura, a elevação do nível dos oceanos e a intensificação de eventos extremos.

"Será a advertência mais premente feita até agora sobre o facto de que o comportamento humano acelera de forma alarmante o aquecimento climático", declarou o presidente da COP26, Alok Sharma, em entrevista à The Observer, edição de domingo do jornal britânico The Guardian.

Este relatório "vai ser um sinal de alerta para todos aqueles que ainda não compreenderam porque é que a próxima década vai ser totalmente decisiva para o clima", acrescentou o ministro britânico, advertindo "que nos aproximamos perigosamente do momento" em que será tarde demais para fazer alguma coisa.

"Mudar de direção"

A encarregada climática da ONU, Patricia Espinosa, tinha insistido na abertura da sessão do IPCC, no final de julho, quanto à necessidade de se fazer algo já.

"A realidade é que não estamos num bom caminho para respeitar o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a +1,5°C até o fim do século. De facto, estamos no caminho contrário, dirigimo-nos para mais de +3°C. Devemos mudar de direção urgentemente antes que seja tarde demais", lembrou.

"Eu digo isso aos encarregados de tomar decisões: a ciência não permite ver o mundo como gostaríamos que fosse, mas o mostra tal como é. Não é política, é a realidade", acrescentou.

Ao assinar o Acordo de Paris em 2015, praticamente todos os países do planeta comprometeram-se a reduzir as emissões de CO2 para limitar o aquecimento "abaixo" de +2°C com relação à era pré-industrial, inclusive a +1,5°C se fosse possível.

Como a temperatura do planeta aumentou cerca de 1,1°C e cada fração de grau a mais aporta a sua carga adicional a eventos extremos, este limite de +1,5°C tornou-se a meta prioritária de muitos militantes e autoridades políticas.

Será possível superá-lo? É uma das questões abordadas pelo relatório do IPCC, com base em milhares de estudos científicos recentes. "Se não reduzirmos nossas emissões na próxima década, não conseguiremos. O +1,5°C será alcançado muito provavelmente entre 2030 e 2040. São as melhores estimativas que temos atualmente", disse à AFP antes do início da sessão, em julho, o climatologista Robert Vautard, um dos autores desta primeira parte da avaliação do IPCC.

Para limitar o aquecimento a +1,5°C, é necessário reduzir a cada ano as emissões em 7,6% em média entre 2020 e 2030, segundo a ONU. Embora em 2020 tenha sido registada uma redução das emissões por causa da pandemia, espera-se que voltem a aumentar.

Outros dois capítulos da avaliação do IPCC serão publicados em 2022. O dos impactos, do qual a AFP obteve uma versão preliminar, que mostra como a vida na Terra será transformada em 30 anos ou inclusive antes, e o terceiro, dedicado às soluções para reduzir as emissões.

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