Num discurso transmitido, esta terça-feira, pelo Facebook, acompanhado por dezenas de milhares de pessoas, Venâncio Mondlane voltou a exigir a recontagem dos votos das eleições de 9 de outubro que, segundo a Comissão Eleitoral, foram vencidas por Daniel Chapo, do partido Frelimo, no poder em Moçambique há 49 anos.

"Perdemos 50 pessoas, mortas pelas autoridades", declarou Mondlane. 

"Elas foram mortas como mártires de uma revolução, de uma mudança", acrescentou, denunciando mais uma vez resultados eleitorais, segundo ele, “fraudulentos”. Mondlane discursou a partir de um local não revelado, após ter afirmado, na semana passada, estar no exterior, dizendo temer pela sua segurança.

No discurso à nação, o presidente Filipe Nyusi, que deverá passar o poder ao seu sucessor, Daniel Chapo, em janeiro, condenou o que chamou de uma "tentativa de instalar o caos no nosso país".

Segundo Nyusi, 19 pessoas morreram nos confrontos, cinco delas polícias. Mais de 800 pessoas ficaram feridas, entre elas 66 polícias, acrescentou.

A polícia e o Governo confirmaram, até ao momento, o número de mortos.

A ONG moçambicana "Centro para a Democracia e os Direitos Humanos" (CDD) contabilizou, pelo menos, 65 mortos, afirmou à AFP o seu responsável, André Mulungo.

"Venâncio", como é conhecido, exorta os seus apoiantes a vestirem-se de preto nos três dias de luto e a evitarem voltar às ruas sob o risco de serem vistos pela polícia.

Oficialmente, o ex-apresentador de rádio, de 50 anos, obteve 20% dos votos, contra cerca de 71% para Daniel Chapo, que será empossado se o Conselho Constitucional confirmar os resultados do pleito pelo menos duas semanas antes da cerimónia.

Nyusi apelou ao diálogo entre os dois principais candidatos e os seus outros dois concorrentes, Ossufo Momade, do partido Renamo, e Lutero Simango, do Movimento Democrático Moçambicano (MDM).

"Todos os problemas podem ser resolvidos com a ajuda da compreensão mútua e da procura de consenso", afirmou.

Grupos de defesa dos direitos humanos denunciaram o uso de munições reais contra os manifestantes da oposição.

"A polícia usa gás lacrimogéneo, balas de borracha ou reais, sob o pretexto de que se trata de garantir a ordem pública”, denunciou Ivan Mausse, investigador da ONG "Centro de Integridade Pública" (CIP).