Trata-se de agricultores que estão radicados em Los Altos Mirandos, a sul de Caracas, uma região composta pelas localidades de São Pedro, São Diego, São João, São Diego e Santo António, e que, segundo estimativas consulares, ascendem a 40 mil portugueses, maioritariamente originários da Madeira.

"A nossa comunidade está dedicada 60% à agricultura, 30% à floricultura e os restantes 10% a outras atividades", explicou um floricultor à agência Lusa.

Natural do Estreito de Câmara de Lobos, Madeira, Agostinho Figueira afirmou que continua a fazer o mesmo tipo de produção (flores), "mas a produção caiu muito, está muito reduzida".

"Ou faltam os pesticidas, ou os fertilizantes ou a mão de obra. É possível conseguir produzir mas a situação está bastante complicada e problemática", disse.

Por outro lado, o luso-descendente Joaquim Fernandes Camacho faz aquilo que o pai lhe ensinou e por isso está "atento ao que falta no terreno, às bombas de água, aos empregados e aos clientes" particulares.

"Também estou atento para semear e fazer a colheita, levar os produtos às frutarias e às feiras, mas agora há muitas sementes que não se conseguem, nem venenos, mas vamos trabalhando com o pouco que vamos conseguindo. A produção baixou, mas continuamos a plantar alface, coentros, aipo, brócolos, repolho, beterraba, cebolinho, beringelas, courgetes e outras coisinhas", referiu.

Natural de Canhas, Madeira, Lino Miguel Marques chegou à Venezuela em 1982, onde trabalha "de sol a sol, às vezes até de noite", semeando "alfaces, brócolos, abóboras e um pouco de tudo" que depois vai vender, frequentemente ao mercado de Coche (Caracas).

"Muitos portugueses foram-se embora, mas muitos ainda estão por cá. Agora, com a falta de pessoal todos estamos mal. Além disso, não há sementes nem pesticidas. Temos que semear as hortaliças e deixar crescer, ficar para semente, e voltar a semear. A agricultura é importante mas ninguém quer cultivar", frisou.

De "sol a sol" trabalha também o lusodescendente Luís Paulo da Silva, que insiste que no passado era mais difícil semear alface, coentros, cebolinhos, brócolos ou courgetes.

"Agora há muita maquinaria e antes fazíamos mais esforço físico. Agora temos que investir mais porque tudo sobe de preço, inclusive as sementes. Às vezes há que deixar envelhecer as plantas para extrair-lhe as sementes. É realmente difícil porque nos querem vender tudo em dólares e nós vendemos em bolívares. Além disso os fertilizantes não são os adequados para as plantas, que demoram mais a desenvolver-se e muitas vezes morrem por falta de inseticidas", disse.

O também lusodescendente José Manuel de Andrade Caldeira dedica-se à agricultura, mas também trabalha como comerciante e compra a produção de alguns compatriotas, que vende depois no mercado de Cátia (Caracas) e também a vendedores informais.

"Os portugueses lutam diariamente até conseguir as coisas mesmo onde não há, para o pão de cada dia. Mas, com o difícil que está a situação, as poucas sementes que se conseguem estão à venda em dólares", desabafou.

Por outro lado, comentou que se "percebe que a situação está boa em Portugal" e admite que gostava de lá ir "algum dia, mas aqui a situação está difícil", economicamente.

No entanto, às autoridades portugueses pede que apoiem os agricultores para que continuem a trabalhar na Venezuela.

"Não me lembro que alguma autoridade portuguesa tenha estado aqui, nem os meus pais, que cresceram aqui. Nunca nos apoiaram. Queremos ajuda, aqui na Venezuela, da embaixada de Portugal, para os portugueses que estão aqui, para que continue a semear, a produzir hortaliças e para continuar a lutar", disse.

A Venezuela atravessa, nos últimos anos, uma grave crise política, social e económica, que já motivou a saída de mais de dois milhões de venezuelanos, que procuram melhores condições de vida nos países vizinhos. As estimativas oficiais apontam para uma comunidade residente de cerca de 500 mil portugueses e lusodescendentes, dos quais alguns milhares regressaram a Portugal, principalmente à Região Autónoma da Madeira.