Uma mulher morreu, e outras três pessoas ficaram feridas, este domingo, 16 de julho, quando homens que se deslocavam de mota atiraram sobre pessoas que exerciam o direito de voto em Caracas, num plebiscito simbólico convocado pela oposição.

"Está a ser investigada a morte de Xiomara Escot e a situação dos três feridos, facto ocorrido durante uma situação irregular" no bairro de Catia, informa uma nota do Ministério Público.

No entanto, o chefe de campanha do referendo afirmou que duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas.

Carlos Ortiz escreveu na rede social Twitter que "paramilitares dispararam" sobre o local da consulta, relato confirmado pelo Observatório Venezuelano da Conflitualidade Social, que acrescentou que as pessoas que ali se encontravam se refugiaram numa igreja.

O líder da coligação da oposição, Henrique Capriles, afirmou que se tratou de um ato de "desespero [do Presidente Nicolás Maduro] e da sua cúpula corrupta, que mandou os seus grupos paramilitares assassinar" quem quis votar na consulta para repelir a Assembleia Nacional Constituinte impulsionada pelo governo.

Os venezuelanos foram hoje chamados às urnas, numa consulta simbólica promovida pela oposição a Nicolás Maduro para expressarem o seu parecer relativo ao projeto de Assembleia Constituinte promovido pelo Governo venezuelano.

A oposição acusa Maduro de pretender acabar com a democracia e submeter o país a um regime comunista ao estilo cubano. No referendo pergunta-se aos venezuelanos se rejeitam a assembleia constituinte que deverá entrar em funções no próximo dia 30, e que os opositores de Maduro consideram que se destina a "consolidar uma ditadura". Pergunta-se ainda se os cidadãos querem novas eleições.

Apesar de não ser reconhecida pelo governo, a consulta tinha decorrido com normalidade até então.

Os organizadores já tinham admitido recear a violência dos "colectivos", grupos de apoiantes de Nicolás Maduro como os que no passado dia 5 invadiram o parlamento dominado pela oposição e feriram vários deputados.

Apoiantes de Maduro invadem Parlamento com violência. Há vários feridos
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A consulta popular, que por decisão da Comissão Nacional de Telecomunicações, não será transmitida pelas rádios e televisões locais, decorre em 1.600 assembleias de voto do país, algumas delas em bairros tradicionalmente afetos ao regime, e também em outros países, nomeadamente em Portugal, onde se estima que vivam atualmente cerca de 20 mil cidadãos venezuelanos com direito de voto. Na Região Autónoma da Madeira, os responsáveis pelas mesas de voto, embora não dispondo de dados oficiais, calculam que entre quatro a cinco mil pessoas estão em condições de participar no referendo.

Empresas de sondagem como a Datanalisis dão conta de que 70% dos venezuelanos se opõem à Assembleia Constituinte (AC), prevendo-se, no entanto, que, por questões de segurança perante ações de coletivos (motociclistas armados afetos ao regime), a maior afluência dos quase 30 milhões de eleitores tenha lugar em zonas de classe média e alta, devendo os resultados ser conhecidos ao longo da noite de hoje.

O plebiscito, que a oposição designa como o maior ato de "desobediência civil", tem lugar após três meses de contínuos protestos violentos contra o Governo de Nicolás Maduro, durante os quais pelo menos 94 pessoas morreram.