Em declarações aos jornalistas no Palácio de Belém, no final de uma audiência com o Presidente da República, o líder do Chega foi instado a comentar o caso do abuso por parte de um padre que foi denunciado ao cardeal patriarca mas não foi participado às autoridades judiciais.
“As notícias que eu vi ontem preocuparam-me muitíssimo, sobretudo por haver a mínima suspeita ou possibilidade de que responsáveis religiosos pudessem tentar ocultar da justiça este fenómenos”, afirmou, defendendo que “é um dever de todos os católicos denunciar estas situações”.
E afirmou que se fosse cardeal patriarca “teria comunicado” este caso “à justiça, mesmo contra a vontade da vítima”, apontando que não vê “razão nenhuma” para o anterior e o atual patriarca “ocultarem da justiça o que quer que seja em matéria de abusos sexuais de crianças”.
“Nós temos que acabar com o abuso sexual de crianças e isto na Igreja é um cancro” que “tem de ser completamente anulado”, salientou Ventura, frisando que “doa a quem doer, isto é um cancro que tem que acabar na nossa sociedade” porque “deixa marcas para a vida toda e tem de acabar”.
O presidente do Chega afirmou que “a nível mundial há um problema na Igreja” e esta instituição “tem que ter a força não só de denunciar como de enviar para a justiça”.
Considerando que “a Igreja nesta matéria não se pode fechar nela própria” e “pode fazer a sua análise e a sua prevenção”, André Ventura defendeu que “é o Ministério Público e a Polícia Judiciária que têm de fazer estas investigações” pois são quem tem “os instrumentos, os mecanismos e a forma de o fazer”.
E apontou que o Chega defende “a castração química para pedófilos, para todos, sejam eles religiosos ou não”.
O líder do partido de extrema-direita mencionou ainda que foi seminarista e, quando começou a sua resposta, tirou do bolso um terço e afirmou que tinha rezado hoje “precisamente por causa disso”, pelo cardeal patriarca e “pelo que tinha acontecido na Igreja”.
O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, assegurou hoje que “desde a primeira hora” deu instruções, no Patriarcado, “para que a Tolerância Zero e a Transparência Total sejam regra conhecida de todos” quanto ao abuso de menores.
Numa carta aberta em que procura esclarecer o que “testemunhou” no caso do padre acusado de abuso denunciado em 1999 ao anterior patriarca, José Policarpo, e revelado esta semana pelo jornal Observador – que noticia que “duas décadas depois” o atual patriarca se encontrou com a vítima, “que não quis divulgar o caso”, pelo que não foi dado conhecimento às autoridades judiciais, – Manuel Clemente diz aceitar que “este caso e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje” todos querem “ver implementados”.
Segundo Manuel Clemente, o seu antecessor “acolheu e tratou o caso em questão tendo em conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a família da vítima. O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e nomeado para servir numa capelania hospitalar”.
O cardeal entende igualmente não ter estado “perante uma renovada denúncia da feita em 1999. Se assim tivesse sido, a mesma teria sido remetida à Comissão Diocesana, criada por essa altura, e teriam sido cumpridos todos os procedimentos recomendados à data”.
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