“Hoje tivemos notícia de uma cidadã luso-moçambicana que estava em cativeiro há 50 dias e que foi resgatada em Maputo. Mas há outras pessoas que continuam longe da família, por isso é importante realizar esta vigília, apelar ao fim dos raptos e à intervenção das autoridades, como aconteceu neste caso”, descreveu à Lusa fonte da organização.

A denominada “vigília contra os raptos em Moçambique”, anunciada esta semana, está agendada para 23 de dezembro, às 12:00, no Terreiro do Paço, em Lisboa, e segundo a organização o objetivo é apelar “às autoridades de Moçambique para enveredarem todos os esforços na tentativa do resgaste das vítimas”.

“E às autoridades de Portugal que prestem o apoio necessário e incondicional no âmbito da colaboração habitual entre os dois Estados, no processo dos raptos de portugueses e moçambicanos em Moçambique”, lê-se no anúncio da realização da vigília, em que os promotores defendem que a situação “não pode continuar”.

“Pela segurança das pessoas, pelo futuro e pela progressão do país. Cada rapto é uma família destruída”, acrescentam.

Maputo vive há algumas semanas uma nova onda de raptos, sobretudo de empresários, com registo de dois luso-moçambicanos visados desde novembro e suspeitas de envolvimento de agentes ligados à investigação policial neste tipo de crime.

Uma petição lançada na terça-feira, dirigida aos governos de Moçambique e de Portugal, pede medidas para resgatar os cidadãos em cativeiro, apelando para “não deixem estas vítimas cair no esquecimento”, tendo reunido já quase meio milhar de subscritores.

A polícia de Moçambique deteve esta madrugada três pessoas envolvidas no rapto de uma jovem luso-moçambicana de 26 anos, que esteve em cativeiro durante 50 dias, e procura um quarto elemento considerado “peça-chave” neste e outros casos.

“Temos dados de mais um indivíduo que é uma peça-chave fundamental para o esclarecimento deste caso de rapto. Estamos a trabalhar, acreditamos que a qualquer momento podemos trazer resultados de mesmo trabalho”, afirmou hoje Hilário Lole, porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) de Maputo, em declarações aos jornalistas.

A vítima tinha sido raptada à porta de casa, no centro de Maputo, no dia 01 de novembro, por três homens armados, tendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal confirmado anteriormente que estava a acompanhar este caso e um outro, de outro cidadão também luso-moçambicano, alvo de uma tentativa de rapto também na capital, pouco dias depois.

“Este trabalho não foi um resgate pago, mas sim um resgate graças ao Sernic, em colaboração com outras forças (…) Isto para dizer que não houve necessidade de pagamento de valor para o resgate desta vítima”, avançou esta manhã o porta-voz daquela força de investigação policial, garantindo que decorrem operações para identificar os mandantes do crime.

Segundo o Sernic, decorrem ainda diligências para tentar identificar “outros indivíduos pertencentes a esta quadrilha”, tendo em conta a suspeita de estarem envolvidos noutros casos de rapto no país.

De acordo com a mesma fonte, já se registaram seis casos de rapto em Maputo, “que foram executados”, e outras cinco tentativas, neste caso frustradas devido à intervenção da polícia, dos próprios ou mesmo da população.

“Infelizmente estamos com duas vítimas em cativeiro”, concluiu Hilário Lole.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, reconheceu quarta-feira, no parlamento, que apesar das melhorias no combate à criminalidade, mantém-se a preocupação com os crimes de rapto que continuam a assolar o país.

“Apesar destes avanços, continuam a preocupar-nos os casos de raptos, mesmo com registo de redução em seis, contra 12 casos registados em igual período de 2022”, afirmou o chefe de Estado, no habitual discurso anual sobre o Estado da nação, na Assembleia da República, em Maputo.