“Ter um verão que se estende até ao início de novembro, com secura e temperaturas altas, será a regra daqui a umas décadas. Aquilo que este ano é uma exceção, os modelos preveem que seja a regra daqui a 50 anos”, afirmou João Santos, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
O responsável falava à agência Lusa a propósito da iniciativa “Open Day Modelvitidouro”, que decorre sexta-feira, no Regia Douro Park – Centro de Ciência e Tecnologia de Vila Real, e que vai juntar especialistas internacionais e produtores de vinho.
O encontro vai debruçar-se sobre as consequências das alterações climáticas para a viticultura e, segundo João Santos, este ano é “um excelente exemplo”.
“Estamos a ter uma seca severa a extrema no país todo, temos problemas desde a falta de água, os fogos, a poluição dos rios e albufeiras. É um excelente ano para falarmos desta questão”, frisou.
Relativamente à viticultura, referiu que há “muitas videiras em stresse extremo neste momento”, verificando-se “uma mortalidade enorme quer de videiras quer de árvores de todo o tipo”.
“Este encontro realiza-se numa altura em que as pessoas estão a perceber que a questão das alterações climáticas está aí, que temos que começar a lidar verdadeiramente com ela e que não podemos continuar a adiar indefinidamente as resoluções”, salientou.
João Santos defendeu que é necessário atuar aos níveis da “mitigação e da adaptação”.
A mitigação está dependente das ações dos governos a nível mundial, que devem concretizar uma alteração do paradigma energético e têm que apostar mais nas energias renováveis.
“As alterações climáticas, até certa medida, são reversíveis, se reduzirmos as emissões de gases de efeito de estufa ou se, pelo menos, as estabilizarmos”, sustentou.
Depois, a adaptação terá de feita a nível mais local e de acordo com as necessidades de cada região.
Por exemplo, a nível da viticultura, o especialista referiu que estas medidas de adaptação poderão passar pela rega, que atualmente no Douro é uma prática só é permitida em casos excecionais. Ressalvou que há, no entanto, o problema da escassez dos recursos hídricos.
Adiantou ainda outras estratégias que estão a ser estudadas, como a aplicação do caulino, que funciona como uma espécie de protetor solar para as videiras, a seleção clonal de variedades de castas mais resistentes à seca e calor ou práticas agrícolas como a gestão da poda ou a condução da videira.
De acordo com João Santos, os modelos utilizados para Portugal apontam para o “aumento das temperaturas, que será mais acentuado no interior do país”, e para a diminuição da precipitação.
“O que notamos essencialmente é o alargamento do verão, o período seco que tipicamente estava associado aos meses de verão está a alargar-se para a primavera e outono”, frisou.
João Santos ressalvou que a “amplitude das alterações climáticas vai ser muito importante”. “Uma coisa é uma subida de dois ou três graus na temperatura do ar e outra coisa é uma subida de seis a oito graus. Neste caso eu diria que quase não há medidas de adaptação possível”, sublinhou.
O dia aberto conta com a participação de especialistas internacionais na área das alterações climáticas e da vitivinicultura, nomeadamente o professor norte-americano Gregory Jones e Nuno Magalhães, professor da UTAD, bem como de produtores de vinho provenientes de várias regiões do país.
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