"No seu programa e nas declarações prestadas ao longo do processo [do 'Brexit'] nada indicia que Macron terá uma posição mais distante dos objetivos da UE, tentando de algum modo endurecer a posição europeia. Não me parece. Com ele a França terá uma solução de continuidade em relação ao que a França tem defendido", comentou hoje à Lusa a professora da Escola de Direito da Universidade Católica do Porto.
O liberal pró-europeu Emmanuel Macron venceu a primeira volta das presidenciais francesas com 24,01% dos votos, à frente da líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen que conseguiu 21,30% dos votos, segundo os resultados definitivos do escrutínio de domingo.
Segundos os resultados definitivos publicados hoje pelo Ministério do Interior francês, o candidato conservador François Fillon ficou na terceira posição com 20,01% dos votos, seguido pelo candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon com 19,58% dos votos.
Na sequência da votação, várias forças políticas - incluindo o atual residente no Palácio do Eliseu, François Hollande - apelaram ao voto em Macro contra Marine Le Pen, na segunda volta, a 07 de maio. As sondagens já davam uma vitória a Macron à segunda volta.
Sofia Oliveira Pais, que analisou ao pormenor os programas eleitorais dos dois candidatos, destacou que o de Macron "é mais equilibrado, de acordo com os objetivos da UE".
"Macron aceita a continuidade da França no Euro, apesar de defender que é necessário criar uma governança europeia nesta matéria, nomeadamente um ministro de economia e finanças para a Zona Euro. (...) Já Marine Le Pen quer a saída do euro e a reintrodução do franco", recordou a docente.
Também "há uma diferença clara entre Macron e Le Pen" na questão da redução do défice de França para o limiar dos 3% [do PIB] nos próximos anos, cumprindo quer o pacto de estabilidade europeu, quer o tratado sobre estabilidade, coordenação e cooperação da União Económica e Monetária.
"Macron, como era expectável, aceita a redução do défice já para o próximo ano e, se for necessário, para os anos seguintes. Marine Le Pen diz que - uma vez que o objetivo da Frente Nacional é retirar França da UE - aceita a redução do défice, mas nunca no quadro da UE, nem no quadro do Pacto de Estabilidade e Crescimento europeu. A existir essa redução terá de ser feita fora desse contexto", realçou a especialista.
Sobre um possível 'Frexit' [uma saída da França da UE], Sofia Oliveira Pais considera que é "um risco muito mais relevante do que o 'Brexit'".
"Basta pensar que, em termos históricos, o Reino Unido só entrou em 1972 e sempre teve uma posição eurocética. A França é um dos Estados-membros fundadores. O Reino Unido sair da UE é um choque e levanta problemas, mas a União sobrevive. Não sei sobreviveria a uma saída da França", concluiu.
Comentários