“A ideia é ajudar a saúde mental, monitorizando e treinando a atividade cerebral”, explicou à Lusa um dos seus criadores, Ricardo Gil da Costa, que hoje vai apresentar a invenção na conferência de tecnologia a decorrer em Lisboa, a Web Summit

Ricardo será o orador num painel chamado “Mobilising mental health: A brain interface for everyday life” (Mobilizar a saúde mental: um interface cerebral para todos os dias), onde vai explicar o conceito e os avanços da iniciativa, a ser desenvolvida pela empresa que criou nos Estados Unidos, onde trabalha, a Neuroverse. Mas já explicou à Lusa que o aparelho, que se conecta com um telemóvel ou um tablet, pode ajudar em doenças como Parkinson ou Alzheimer, entre outras.

Licenciado em biologia, Ricardo é doutorado em neurociências, trabalhou como investigador em institutos nacionais de saúde norte-americanos, dedica-se à investigação e criou a empresa com base no que já fazia, o estudo e monitorização de vários tipos de sinais cerebrais.

“Temos conhecimentos que não estão a ser utilizados e temos problemas de aumento exponencial de doenças como Alzheimer ou Parkinson. Há um aumento de longevidade e o cérebro não acompanha essa longevidade”, disse, lembrando que aliado ao sofrimento desses doentes há um custo de tratamento também muito elevado.

Faltava por isso, afirmou, um sistema de monitorização do cérebro do ponto de vista neurofisiológico , que se faz nos hospitais (muitas vezes quando a doença já está em fase muito avançada), que se faz através de encefalografias , sempre sistemas muito caros e que exigem muitas estruturas e pessoal especializado.

Por isso Ricardo propõe um pequeno aparelho, que se põe na testa, e que se faz tudo isso em casa, que é acessível a qualquer bolsa e que pode medir aspetos como a atenção ou a memória. E de uma forma lúdica, até com jogos, permitindo que os resultados sejam enviados ao médico.

“Percebemos que não podia ser só um aparelho e criámos todo um ecossistema. Tinha de haver uma base de dados que permitisse, ao recolher as ondas cerebrais, analisar e fazer uma avaliação”. Isso faz-se com uma ligação a um telefone e Ricardo diz que a variedade de componentes não tornam os testes aborrecidos, podendo-se construir os tais jogos.

E depois, porque ainda não há em quantidade, a ferramenta permite recolher dados “em larga escala” e com isso desenvolver mais os estudos sobre a atividade cerebral.

A Neuroverse, explicou também, tem em fase final um estudo sobre esquizofrenia e tem projetos de investigação em áreas como a depressão, desordens de stress, desordens pós-traumáticas e Alzheimer.

Mas é do aparelho, o Brain Station, ou Interface Cerebral, e da aplicação associada, a Brain Vitals, que se falará hoje. Não é um meio de diagnóstico nem serve para curar mas monitoriza o cérebro, como hoje monitorizam a tensão muitos aparelhos que as pessoas têm em casa (que também não curam).

Ricardo diz que um teste básico pode demorar entre três a cinco minutos, e que é sempre lúdico. O aparelho, esse, é em forma oval, com uma espessura que ronda um centímetro e um peso irrisório

“A Neuroverse traz-lhe a interface do cérebro de amanhã”, escreve a empresa na sua página na Internet. Nas palavas de Ricardo Gil da Costa o amanhã pode ser dentro de um ano.