“Pelos seus méritos pessoais excecionais na defesa da soberania do Estado e da integridade territorial da Ucrânia, pelo seu serviço altruísta ao povo da Ucrânia, decreto que o título de Herói da Ucrânia com a condecoração da Ordem da Estrela de Ouro seja conferido ao General Valery Fedorovich Zaluzhny”, lê-se no decreto emitido por Zelensky para o efeito.
Ao receber a condecoração, na presença de outros agraciados, Zaluzhny abraçou Zelensky de forma emocionada, gesto que repetiu depois de lhe apertar a mão antes de regressar ao seu lugar.
O vídeo da cerimónia, publicado no canal de Zelensky na rede social Telegram, mostra igualmente o novo comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Syrsky, sentado na primeira fila do evento.
O general Zaluzhny é uma figura popular e respeitada na Ucrânia, tendo a sua destituição — que foi objeto de rumores ao longo da última semana e que seria confirmada na quinta-feira — provocado receios de possíveis reações negativas no seio do exército e da sociedade ucranianos.
Zaluzhny e Zelensky mostraram posições contraditórias em público em várias ocasiões nos meses que antecederam a demissão do general.
A atitude conciliadora de Zaluzhny após o anúncio da sua saída na quinta-feira dissipa os receios na Ucrânia de uma saída traumática do militar, que aceitou a decisão de Zelensky com um apelo à adaptação às novas realidades da guerra.
Os principais partidos da oposição ucraniana criticaram Zelensky por ter demitido o chefe do Exército, com Oleksy Goncharenko, um dos membros mais ativos do partido de centro-direita Solidariedade Europeia, do antigo Presidente Petro Poroshenko, a considerar a decisão um “enorme erro”.
“[A demissão] pode representar riscos para o país. Todos pagaremos por este erro”, escreveu o deputado da região de Odessa, que elogiou o trabalho do ex-chefe das Forças Armadas e que referiu que o afastamento de Zaluzhny não será compreendido nem pela sociedade ucraniana nem pelos parceiros internacionais de Kiev.
“Milhões de pessoas falam de honra e dignidade. Obrigado, Sr. General [Zaluzhny]!”, escreveu, por sua vez, nas plataformas digitais a antiga primeira-ministra e líder do partido Pátria, Yulia Timoshenko.
Inna Sovsun, membro do partido europeísta ucraniano de centro liberal Golos (Voz), afirmou hoje que o Presidente ucraniano tem o direito de decidir sobre o comando do Exército, mas criticou a forma como a substituição foi comunicada e explicada.
“O Presidente deve explicar direta e abertamente porque o fez”, escreveu Sovsun nas redes sociais, alertando para o risco de os rumores e especulações “alegadamente alimentados” pelo gabinete do chefe de Estado antes da oficialização da demissão poderem vir a afetar a unidade do país em plena guerra.
“A comunicação oficial é vaga e incoerente. Os canais anónimos da [rede de mensagens digital] Telegram não a vão substituir, mesmo que alguns deles sejam controlados pelas autoridades ucranianas”, acrescentou Sovsun, referindo-se a alguns dos canais que há dias fazem insinuações sobre a mudança no Exército.
O presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klichko, adotou uma posição semelhante.
“Espero que as autoridades justifiquem estas mudanças perante a sociedade”, escreveu o autarca, que nos últimos meses criticou as posições de Zelensky face ao Exército, considerando o chefe de Estado “individualista e autoritário”.
Klichko alertou ainda para as possíveis consequências que a substituição de Zaluzhny pode vir a ter nas relações da Ucrânia com os parceiros estrangeiros e perante a própria sociedade ucraniana.
“A unidade da sociedade exige autoridades em quem confiar”, observou.
De acordo com uma sondagem publicada em dezembro, 88% dos ucranianos mantinham confiança no general Zaluzhny.
O influente jornalista ucraniano Vitaly Portnikov também criticou na quinta-feira a demissão de Zaluzhny, afirmando que Zelensky “deitou fora”, de forma irresponsável, o capital de confiança do general no Exército e perante a sociedade ucraniana.
A Ucrânia é alvo de uma ofensiva militar russa desde 24 de fevereiro de 2022.
O conflito de quase dois anos provocou a destruição de importantes infraestruturas em várias áreas na Ucrânia, bem como um número por determinar de vítimas civis e militares.
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